No Largo do Carmo – Largo Salgueiro Maia

Para o Quartel do Carmo está lá o Marcelo! Era a palavra de ordem na Baixa de Lisboa. A multidão, a maioria gente jovem, subia o Chiado em direcção ao Largo.

 

Quando lá cheguei o Quartel já estava cercado pelas forças do 25 de Abril. O que chamava de imediato a atenção era a idade imberbe dos soldados, G3 a tiracolo. Foi para mim um choque, tinha saído da vida militar há 3 anos ainda me lembrava das técnicas de segurança para quem usa uma arma de guerra. Não passavam por ali.

 

Procurei o comandante, estava no centro de um espaço livre junto à  porta do quartel .Impressionava a serenidade, a ideia que passava é que a missão era para cumprir . A serenidade de quem estava preparado para morrer. Em cima de um chaimite, o Dr. Francisco Sousa Tavares gritava palavras de ordem, "belo alvo" pensei para comigo.

 

Depois o ultimato, as rajadas de G3 contra a parede do quartel, a entrada de dois civis, que ninguem sabia quem eram e que depois se soube serem os intermediários. A entrada do carro que transportava Spínola, o chaimite que foi lá dentro buscar os presos, a gritaria, os murros no carro que transportava Marcelo.

 

Na Baixa ainda havia movimentações de tropas da GNR, cozidas às paredes da estação do Rossio. A fragata que ameaçara bombardear o Terreiro do Paço, face à cobertura do fogo de artilharia instalado no Cristo Rei, já abandonara o Tejo.

 

Salgueiro Maia, dever cumprido, recolhia ao quartel em Santarém à sua vida profissional e familiar. Morreu como viveu. Digno e sereno!

Comments

  1. Foi este o texto que usei, citando o seu ilustre autor, na apresentação do debate de hoje do Aventar.

  2. Obrigado, Fernando!

Trackbacks

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