Este poema, um dos mais conhecidos de Federico García Lorca, descreve o ambiente trágico que rodeia uma tarde de touros. O autor do vídeo aplicou as palavras do poeta à tragédia da Guerra Civil de Espanha em cujo vórtice o autor de «Romance sonâmbulo» (a que o poema pertence) seria implacavelmente sugado.
Tinha prometido dedicar um destes textos ao grande poeta andaluz e hoje a nossa máquina vai começar a visitar a vida de um grande escritor, uma das âncoras da língua castelhana – Federico García Lorca. Chegou a altura de pagar essa dívida. Embora, neste primeiro texto, digamos que vou abordar, não propriamente a sua vida, mas as incidências da sua morte. E faço-o com a pergunta: onde está o corpo de Lorca?
Para encontrar os restos mortais de García Lorca, têm sido desenvolvidos enormes esforços durante os últimos dois meses. Espera-se que seja hoje, sexta-feira, dia 18 de Dezembro de 2009, o dia em que os técnicos do Instituto Andaluz de Geofísica encontram o improvisado túmulo onde os criminosos o sepultaram. A Junta da Andaluzia, que tem consumido recursos nesta busca, dá o fim do dia de hoje como prazo final. Juan Gallo, comissário da Memória Histórica da Andaluzia, comenta: «Não devemos esquecer que estamos a gastar dinheiro público e, por outro lado, não vamos encher Granada de buracos.»
Ian Gibson, o historiador e hispanista irlandês que tem dedicado grande parte das suas investigações ao estudo da vida e da obra de Lorca, confessa-se doente e obcecado pela busca que hoje chega ao fim. Diz mesmo temer pela sua saúde mental. Foi ele quem conduziu apostou no local onde a demanda dos restos do poeta está a ser levada a cabo. Em 1966, Foi ali levado por uma testemunha (Manuel Castilla, conhecido por «Manolo, el comunista»). Agora que os trabalhos de exumação, que se arrastam há dois meses, entraram na recta final, o seu estado de tensão atinge o paroxismo.
Porque há quem duvide de que seja Alfacar o lugar certo. Miguel Pozo, o autor de Lorca, el último paseo, põe em duvida a tese de Gibson. Também ele está expectante, pois se os restos forem encontrados são as suas ideias e os seus trabalhos que ficarão postos em causa. Muito depende do que acontecer hoje até ao fim do dia. E os trabalhos estão a ser muito dificultados pelo mau tempo.
Amanhã continuarei este texto, espero que já com a informação concreta – ou os restos mortais de Federico García Lorca foram encontrados ou a esperança de lhe dar uma sepultura digna, à altura da grandeza da sua obra, ficarão, elas sim, sepultadas. E aproveitarei para falar um pouco mais sobre o escritor e a pessoa. E não só da sua trágica morte, mas também da sua vida e, sobretudo, da sua obra.
(Continua)
Os criminosos têm medo dos poetas…
Sim, particularmente os criminosos fascistas convivem mal com a cultura. A cultura insulta-os. O deputado católico que ordenou a prisão de Lorca e o consequente fuzilamento, argumentou que ele era «mais perigoso com a caneta do que outros com o revóver».