Jardim de Inverno: Neruda

Jardín de invierno

Llega el invierno. Espléndido dictado
me dan las lentas hojas
vestidas de silencio y amarillo.

Soy un libro de nieve,
una espaciosa mano, una pradera,
un círculo que espera,
pertenezco a la tierra y a su invierno.

Creció el rumor del mundo en el follaje,
ardió después el trigo constelado
por flores rojas como quemaduras,
luego llegó el otoño a establecer
la escritura del vino:
todo pasó, fue cielo pasajero
la copa del estío,
y se apagó la nube navegante.

Yo esperé en el balcón, tan enlutado
como ayer con las yedras de mi infancia,
que la tierra extendiera
sus alas en mi amor deshabitado.

Yo supe que la rosa caería
y el hueso del durazno transitorio
volvería a dormir y a germinar:
y me embriagué con la copa del aire
hasta que todo el mar se hizo nocturno
y el arrebol se convirtió en ceniza.

La tierra vive ahora
tranquilizando su interrogatorio,
extendida la piel de su silencio.
Yo vuelvo a ser ahora
el taciturno que llegó de lejos
envuelto en lluvia fría y en campanas:
debo a la muerte pura de la tierra
la voluntad de mis germinaciones.

Pablo Neruda

(“Jardín de Invierno”, Buenos Aires, 1974)

Comments

  1. Carlos Loures says:

    Belíssimo poema. Tenho o scanner avariado e desisti da intenção de postar a «Oda al invierno», que também é uma maravilha. Mas era muito grande e tinha outras coisas para fazer. O «jardín de invierno» vem pôr o Neruda nesta galeria. Bem hajas!

  2. Luis Moreira says:

    Que maravilha…e até parece que se um de nós se esforça-se um bocadinho arrancava uma obra destas…

  3. Carla Romualdo says:

    O prazer foi meu, Carlos.
    Luís, tu aqui há tempos disseste que ias voltar à poesia, que tal vai isso?

  4. Luis Moreira says:

    O mote é uma dávida dos deuses, o resto dá muito trabalho…é assim a poesia!

  5. Carlos Loures says:

    A melhor poesia (e Neruda é disso um excelente exemplo) vive de frases simples, parte às vezes de elementos do quotidiano. O que a poesia tem de complexo é que se torna muito difícil e complicado chegar à simplicidade.

    • Luís Moreira says:

      É isso, por isso digo que normalmente a “primeira” chega sem aviso, mas as outras dão muito trabalho…
      Exemplo, num velório, o que me tocava era a dor da mãe, que eu me lembrei em transformar em esperança

      Era talvez a vida
      que a mosca importuna
      trazia
      quando rápida,
      ao acenar do lenço
      da mãe pobre que sofria
      fugia…

      desculpa lá, dar este exemplo, mas quem dá o que tem…

  6. Carlos Loures says:

    Está muito bem. Mas incompleto, pois só funciona com a explicação que dás antes. Às vezes o título (poderia se «velório») ou um pequeno verso, dão sentido a tudo. Em suma, é preciso trabalhar.

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