A importância de se chamar Uretra

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Uma das grandes vantagens de se viver nos dias de hoje dá pelo nome de Wikipedia. Essa infinita e ecuménica enciclopédia on-line graças à qual todos podemos ser como OS “Beauvart e Pecuchet”  do romance inacabado de Flaubert . Com a wikipedia, o brilharete da erudição está ao nosso alcance em poucos minutos. Ainda há atrasado (ou será à), tinha de me inteirar do conceito de Acção Comunicativa do Jurgen Habermas, de quem apenas sabia ser um filósofo alemão vagamente contemporâneo.  Noutros tempos, lá teria de ir à biblioteca, perder imenso tempo a estudar o fulano propriamente dito, e os sicranos que sobre ele especularam, para tentar espremer uma definição muito esquemática do pensamento do homem. Hoje a coisa é mais simples. Vai-se à Wiki, e quase instantaneamente, já está. Há só que ter o cuidado de não escarrapachar directamente o que lá vem. Convém ir ao original, procurar uma citação directa que se encaixe, referir a data edição e página, e coisa está feita e apresentável. Vem isto, claro está, a propósito da uretra.

Um órgão de que sabia apenas tinha algo a ver com mijo. Wiki consultada, pasmei com a minha ignorância. Se se trata de um canal por onde corre o dito  é também veículo, no caso dos homens, do bendito esperma. Tratando-se de mulheres, serve o mesmo propósito urinário, mas,  o que é mais importante, fica ali bem perto do famigerado ponto g. Sexo e mijo portanto. Ocorreu-me que Deus, que por muito que o nosso amigo Adão conteste está provado cientificamente que existe, é um gajo um bocado retorcido. É que não lembra ao Diabo misturar  sexo e mijo. Mas prontos Ele lá sabe.

Em suma, a uretra é um órgão senão vital, no mínimo importantíssimo. Do ponto de vista viário,  consta do Itinerário Principal do sistema reprodutivo. Do ponto de vista geográfico, dada a sua localização estratégica, é uma testemunha ocular privilegiada desse tal ponto G que nós, homens, tanto ouvimos falar e pouco vimos (se é que ele existe, sendo certo que acredito mais na existência de Deus do que no referido). Ora, o que as senhoras não sabem, nem os anatomistas explicam, é que os homens também têm um ponto G. G de Golo. Trata-se de um orgasmo múltiplo, que ultrapassa em muito a instantaneidade do coito. Pode inclusive durar dias, semanas, meses, até anos. O golo do Carlos Manuel em 86 ou os do César Brito em 90 (com a vantagem de ser duplo o que multiplicado pelos múltiplos nos conduzem ao infinito), ainda hoje me tiram do sério.

Na noite do passado Domingo, um tipo chamado Uretra (ou Urreta, o que vai dar ao mesmo) fez o como a sua homónima da anatomia feminina. Sentou-se em cima da linha, com vista para o ponto e assistiu a um orgasmo múltiplo de, no mínimo, seis milhões de indivíduos e indivíduas,  provocado por um tipo also known as Coelho, animal que como todos sabemos é conhecido pelos dotes reprodutivos.

Vai buscar, Tibi, e… não fures as redes!

(ps. começei a ler o Beauvart et Pecuchet, mas não acabei, confesso)

Comments

  1. Luís Moreira says:

    Isto, meu caro, só está ao alcance de alguns (refiro-me ao ponto G)…

  2. Boa malha! Ehehehehehe

  3. Este Miguel é do caraças. Faz um texto, muito bem feito, cheio de sumo, misturando uretra, esperma, mijo, sexo, deus, diabo e futebol. Só falta o fado (cantado nas entrelinhas, como é óbvio!) e Fátima. Imagine-se o mijo e outros fluídos que correrão por milhares de uretras no 13 de Maio! Se, misturar sexo e mijo não lembra ao diabo, segundo Miguel, é porque lembra a deus que assim o conseguiu, e logo deus existe. O Miguel é do caraças. É um homem de provas! Deus existe porque, entre outras coisas, conseguiu a proeza de num só canal e bem estreito, fazer passar mijo, esperma e ainda inúmeros estímulos erótico-libidinosos e feromonas abundantes, desencadeados e libertados pela contiguidade e proximidade geográfica com o vaivém mecânico do êmbolo destinado à expulsão do fluído reprodutório, vulgo “leitaraço da quinta do piço” contendo milhões de seres vivos. E sem misturas nem conspurcações. Deus é grande!

    • Ricardo Santos Pinto says:

      Ó Adão, se o post é excelente, o teu comentário não lhe fica atrás. Aliás, com o link respectivo, até merecia ser transformado num outro post. Quanto ao Urreta, havia de ter levado com a bola na cara, que assim não tinha sido golo. 🙂

  4. Cum catano! E foi só uma vitória numa década de sofrimento vermelho. Nem quero imaginar se ganham o campeonato…

  5. Luis Moreira says:

    Isso não sei e por isso não me meto. Agora que o G é uma grande descoberta táctica, isso não há dúvida…

  6. carlos ruão says:

    meu caro, deixo-te a última frase de «bouvard e pécuchet»: «Começam o trabalho».
    … agora já sabes como termina o livro nunca concluído pelo grande (glande) flaubert !
    … quanto ao sangue que nos corre nas veias vai ser vermelho até morrer, com ou sem uretra !
    … deixo-te ainda uma «inner joke»: MOBY DICK, MOBY DICK!!!!
    … e vê lá se apareces, raios !
    abraço

  7. Miguel Dias says:

    Luís : inteiramente de acordo.
    Adão: tás a ver. É simples, não é?
    Fernando: um orgasmo é um orgasmo. não é o orgasmo. topas? este é único, certo. mas atrás dele outros virão.
    Big Street: Obrigado pela correcção é Bou e não Beau. Mas, e vais me desculpar, como raio é que acabaria eu de ler um romance inacabado? Mas grato, mais uma vez, por me lembrares a última frase, a melhor forma até hoje encontrada de inacabar um romance. Ao nível do começo do….. Moby Dick.

  8. Hummmm, Miguel, este cheira a ejaculação precoce, ehehehehehehe.

  9. Miguel Dias says:

    Fernando, pelos gemidos deu para perceber que não foi tão para ti quanto para mim….querido!

  10. eheheheheh!

  11. carlos ruão says:

    yo, mas eu sei que tu lês romances inabados ou já te esqueceste de «o homem sem qualidades», do you feel me ?

  12. Artur Moreira says:

    Eu fui um dos seis milhões que participou nesse grande orgasmo colectivo. Julgo que nem no maior bacanal da história (pode dizer-se bacanal, aqui? ooopps… disse outra vez!) houve um orgasmo tão participativo e intenso. Quanto ao post, está excelente! Inclusivamente, ao ler a brilhante referência ao “Itinerário Principal do sistema reprodutivo”, tive até uma ideia para a criação de um gadget: um novo dispositivo GPS – “G Point Signaler” ™.

  13. Qual e a importancia da uretra

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