Erros primários…Sra. Ministra

Erros primários e grosseiros com desastrosas e irremediáveis consequências

 A Senhora ministra da Saúde parece-nos boa pessoa e uma pessoa bem intencionada. O mesmo não diremos da sua capacidade para realizar o que quer que seja de marcante e de transformador. Em primeiro lugar, porque não nos parece ser pessoa de garra, sendo mais evidente, para nós, que apenas preenche o lugar na máquina PS. Máquina demolidora e destruidora de tudo o que de positivo fomos conquistando, a passo de caracol, no campo da Economia, da Educação, da Saúde e da moral.

 A Senhora ministra da Saúde está preocupada com a saída dos profissionais de saúde do sistema público para o privado, afirmando que vai trabalhar para aumentar o ânimo e a motivação dos funcionários do Serviço Nacional de Saúde. “Preocupa-me um pouco a saída, principalmente porque há uma fatia de profissionais de grande experiência que estão a sair, profissionais que se formaram dentro do sistema público, que são os responsáveis pelos bons desempenhos e que são também os formadores dos mais jovens”.

 Até daria vontade de rir, se a situação não fosse de amargura. A Senhora ministra preocupa-se um pouco, com o mais grave problema da assistência médica em Portugal, ou seja a destruição do Serviço Nacional de Saúde, por ironia, desenvolvido nos tempos mais sérios do PS.

 Antes da Revolução de Abril de 1974, com a rede Hospitalar Regional, gerida pelas Misericórdias, com base em contratos médicos individuais, ausência de carreiras médicas e de internatos, sem hierarquização das equipas, sem formação pós-graduada, com cuidados primários limitados aos Serviços Médico-Sociais, sem meios financeiros, não se ia a lado nenhum em termos da modernização da assistência médica. Claro que havia já, na altura, avanços positivos como a criação pela Ordem dos Médicos das Especialidades Clínicas, a homologação das categorias de Interno Graduado ou Assistente Hospitalar, doutoramentos e um relatório sobre Carreiras Médicas Nacionais.

 Após a Revolução de Abril de 1974, a nacionalização dos Hospitais Regionais, a criação do Serviço Nacional de Saúde, a extensão das carreiras médicas a todos os Hospitais, aos Cuidados Primários de Saúde e aos Serviços de Saúde, representaram sem sombra de dúvida, e usamos aqui as palavras de Fonseca Ferreira, o maior triunfo da Medicina Portuguesa em todo o século XX, a ponto de merecer a classificação pela OMS num lugar de topo, a nível mundial.

 Vem agora a Senhora ministra dizer que está um pouco preocupada…sabendo que foi o partido a que pertence que deu cabo de tudo, o partido que sempre esteve empenhado na destruição do Serviço Nacional de Saúde e na entrega da Saúde ao sector privado, para depois pagar a este, tudo o que este, por estar nas mãos da hierarquia económica, a que manda no país e no governo, lhe exigir. Exactamente o que está a acontecer. As despesas com a saúde a crescerem vertiginosamente, a qualidade da assistência médica a decrescer assustadoramente. A decrescer, porque a assistência privada se transformou religiosamente numa portentosa e multinacional fábrica de fazer exames e intervenções, umas necessárias outras desnecessárias, sendo a clínica, a mais nobre e a mais essencial das actividades médicas, secundarizada, porque não dá dinheiro. O doente é, indiscutivelmente, acima de tudo, uma razão para produzir dinheiro.

 Claro que ninguém pode pôr em causa o valor da “medicina tecnológica” cada vez mais avançada. Nós próprios a usamos desde há décadas. O que acontece é que a “medicina” tecnológica se divorciou “litigiosamente” da clínica, e daí a crescente proliferação de erros médicos e o engrossamento do já gordo capítulo das “doenças iatrogénicas”. Actualmente reconhece-se que o erro médico é essencialmente o resultado de uma insuficiência de conhecimentos clínicos, e de práticas médicas defeituosas, ocorrendo especialmente onde não há carreiras hierarquizadas nem avaliação de competências.

 Quem não está por dentro disto, duvida sempre, pensa que são radicalismos, que há exageros, porque não é obrigado a perceber os meandros e os labirintos de uma área tão complexa, e porque não tem meios para entender que a única Assistência Médica que pode aproximar-se da excelência só existe num Serviço Nacional de Saúde, que lhe mereça o nome. Isto é, e tocando no assunto apenas pela rama, uma estruturação racional e nacional, com Carreiras Médicas extensíveis a todos os Hospitais tanto Centrais como Distritais, com rigoroso cumprimento dos deveres, sem atropelos de direitos, com provas de avaliação, provas públicas nos próprios hospitais, de modo a criar entre os corpos clínicos um clima de permanente escolaridade, com júris e directores de elevada competência, com regulamentação inteligente e fiscalização exaustiva. E financiamento, como é óbvio. Mas esse não seria difícil se os governos conseguissem virar a agulha e desviassem o comboio dos bolsos dos patrões da economia que um dia viram na doença uma mina de ouro. Isso sim, é que é muito difícil.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Caro Adão, para além de se perder uma excelente pediatra, ao que me dizem. Ela já como presidente da ARSL arranjou um problema grave que está em tribunal, embora eu esteja convencido que foi falta de informação e formação e não de má fé.

  2. Tu Luis, conheces bem esses meandros. Não me perece pessoa de má fé. Não queria fazer juízos errados, mas dá-me ideia de que aceita os cargos com alguma displiscência. Não me parece pessoa para enfrentar com pulso um touro desta envergadura, ou então, fizeram-lhe ver que o touro não era para ser tomado como um touro a sério, mas como um touro de cartão (à PS).

    • Luís Moreira says:

      É isso o que penso dela. É com alguma leveza que aceita cargos que depois não segura. Ali na ARSL com o hospital do Amadora Sintra arranjou um problema financeiro de milhões, porque não dominava o contrato. Tambem admito que o contrato estava devidamente armadilhado!

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