O mar é o nosso berço
Segundo Richard Dawkins, se recuarmos bastante no tempo, encontramos toda a vida no mar. Em vários pontos da história evolutiva os animais mudaram-se para terra, atingindo por vezes os desertos mais áridos e levando no sangue a água do mar.
Os estágios de transição do êxodo destes nossos pais, isto é, os nossos antepassados peixes, estão amplamente documentados nos registos fósseis. Toda a evolução inicial dos vertebrados decorreu na água, pelo que a maioria dos ramos sobreviventes dos vertebrados continua no mar.
Compreendo agora porque gostamos tanto do mar. Não deve ser fácil encontrar alguém que não goste do mar. Fazer poemas sobre a terra, à beira-mar, ou fazer poemas na terra, sobre o mar, é quase inevitável em qualquer poeta. Não há poeta que não fale em algas e areia, em ondas e maresia.
Nas curvas do vento me enlaço
no segredo das ondas me entrelaço
na tormentosa esperança de ouvir
o silêncio das algas
e o mistério da falésia.
Todos os dias me abraço
à loucura deste sonho
e deste laço
que me aperta o coração
na luz macia de Setembro.
Os peixes pulmonados e os celacantos são os parentes marítimos mais próximos dos humanos. Engraçado, no entanto, é que, por exemplo, a truta e o atum são parentes mais próximos dos humanos do que dos tubarões, e os peixes pulmonados e os celacantos são parentes mais próximos dos humanos do que a truta e o atum. É dos peixes de barbatanas lobadas que provimos.
Os peixes de barbatanas lobadas reduziram-se aos peixes pulmonados e celacantos e proliferaram em terra. Os vertebrados terrestres são peixes pulmonados aberrantes. As suas barbatanas lobadas parecem-se mais com membros do que com barbatanas. J.B. Smith, foi o biólogo responsável por dar a conhecer ao mundo o primeiro celacanto vivo, o nosso pai, capturado em 1938, por uma traineira sul-africana. Diz este grande cientista que a sua surpresa não teria sido maior se tivesse visto um dinossauro a caminhar na rua. Os celacantos eram conhecidos como fósseis, mas pensava-se que estivessem extintos desde o tempo dos dinossauros.
O mar é o nosso berço. Pelo menos a nossa incubadora, chamemos-lhe assim, porque o útero que nos gerou, a nós humanos, está milhões de anos mais distante.
Atravessei o deserto infinito
aqui e ali um oásis repousante.
Por cada terra que passei
a ambivalência cresceu.
Virgem ou não
deus ou demónio
a tudo o corpo cedeu
idêntico a si mesmo
na espiral concêntrica do desejo.
Ao cimo de todas as escadas nada vi
e para descer dentro de mim
tive de pendurar meus passos
nas descarnadas sílabas
do silêncio da madrugada.
Fechei as feridas do mundo
em versos secretos e fechados
e rasguei-os mais tarde na feira
perante o riso dos pobres.
No silêncio dos ruídos e das ruínas
me escondi
de metáforas democráticas
me discursei.
Um dia
cheguei ao rio que vai dar ao mar…
ainda me encontro a caminho do mar
onde espero sentar-me
na rocha húmida e fria
vestida de algas e maresia
olhar bem longe…
e começar alguma vida nesse dia.
E foi o Dawkins quem lhe disse isso? Um facto que eu conheço desde a escola primaria e olhe que foi antes do 25 de Abril.
Até a Bíblia, (livro suspeito nestas coisas), pôe Deus a criar primeiro os seres vivos no mar, depois no céu e depois na terra. (parece que a Bíblia defende a criação de uma forma evolutiva):
20*Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» 21Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. 22Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra.» 23Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia.
24Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. 25Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom.
Deus viu que isto era bom. Deus é um porreiraço!
Então não é?! Até o criou a si com esse bonito nome que tem. ):
Gostei do poema mas deixa lá o Dawkins em paz que o discurso do tipo é velho e relho.
Amigo Xico, a distância científica que vai entre nós, eu e você, e Richard Dawkins é abismal. É um dos maiores cientistas e investigadores do século XX. Leia-o mas leia-o a sério, com vontade de aprender, e verá que não perde o seu tempo. Isto, se o amigo Xico for daquelas pessoas que tudo empenham pelo saber, pela procura da verdade, a única coisa que justifica a nossa grande riqueza, a razão.
Caro amigo Adão
Não tenho qualquer dúvida sobre a grandeza científica do Sr. Dawkins e a sua distância à minha. Quanto à humanística tenho as minhas dúvidas. Se me ler bem verá que usei um pouco de ironia, uma vez que muito antes do Dawkins já era ponto assente que a vida tinha vindo do mar. Se falei na Bíblia (livro que muito prezo) foi para exemplificar que até aquele livro tão antigo, de uma forma poética e metafórica, apresenta a percepção de que o seu autor tinha de que a vida nasce efectivamente no mar. Numa altura em que não havia ciência como hoje a entendemos, faz pensar de onde vinha tal percepção do autor do génesis.
O problema do Dawkins é dizer que os religiosos são estúpidos e ignorantes, esquecendo-se que foi um religioso, padre e jesuíta, quem primeiro estabeleceu a teoria do Big Bang e da expansão do Universo.
Caro Xico
Já tenho lido e ouvido muito de Richard Dawkins e nunca lhe ouvi a generalisação de que os religiosos são estúpidos e ignorantes. Há um caso ou outro em que o vi usar o termo estupidez, em situações de cinismo e provocação intoleráveis. Uma prova de que os religiosos não são, em boa parte, estúpidos e ignorantes, é essa de ter sido um religioso a estabelecer a teoria do Big Bang. E muitos mais haverá, com grandes méritos científicos. Em tempos idos era muito difícil a separação que hoje existe entre ciência e religião. O que acontece é que, pelo que tenho lido, os argumentos de Dawkins são de tal modo sábios, bem fundados na admirável ciência de hoje e de tal modo argutos, que se tornam muito dificilmente contestáveis, sendo os seus conceitos, praticamente, e de uma forma quase geral, os conceitos de todo o corpo científico do mundo actual. As contestações que tenho lido, quase todas de gente religiosa, como é óbvio, é que deixam, de facto, muito a desejar, tornando-se muitas vezes ridículas e quase infantis, aos olhos minimamente abertos perante a ciência e os conhecimentos de hoje.