Os Judeus e o largo de S. Domingos

O texto do João José Cardoso fez que experimente uma emoção que me assola sempre que vou ali para os lados do Rossio. Sabemos todos que naquele Largo, tivemos a Igreja de S. Domingos que ainda lá esta, no local onde hoje está o Teatro D. Maria estava a “Santa Inquisição” e seus calabouços e no largo a fogueira para limpeza de corpos e almas.

Acontece que por razões já muito bem conhecidas, num dia negro, alguem se lembrou de dizer que via uma imagem de um santo a brilhar, o que foi prontamente desmentido por um Padre que explicou que se tratava de um raio de sol que entrava pelos vitrais da Igreja e provocava aquele “milagre”. Grassava a peste em Lisboa, as almas andavam inquietas e logo ali se puseram a escorraçar e perseguir “cristãos novos”, tendo a turba morto um milhar e meio de pessoas.

Acontece que naquele largo foram à fogueira muitas pessoas e fico chocado que naqueles painéis apenas se homenegeie os Judeus.

Tenho pena que em vez de uma visão distorcida que pode levar as pessoas a pensar que só os Judeus foram vítimas, a Igreja católica, a Câmara e a Embaixada de Israel não tenham afinado pela justiça e pela equidade.

Para já não falar na estética que bem ficou a perder, bom teria sido se lá tivessem deixado sozinha, a oliveirinha vinda da Terra Santa…

Comments

  1. Carlos Loures says:

    Os judeus, os judaizantes, os cristãos-novos que eram acusados de não estar verdadeiramente convertidos, foram os grandes alvos da Inquisição e da fúria incontrolada das multidões. Faz sentido, naquele local homenagear os judeus assassinados pela Inquisição. Aliás, é um local interessante – Igreja de São Domingos, Praça da Tolerância, Ginjinha… Estás a ver?

  2. maria monteiro says:

    Com o Palácio da Independência em pano de fundo e o mural Lisboa cidade da Tolerância aquela praça tornou-se ponto de encontro de várias raças. As gentes sem recursos que à porta de S.Domingos pedem esmola “confortam-se” a olharem para a oliveirinha vinda da Terra Santa

  3. xico says:

    Naquele local não são homenageados os judeus assassinados pela inquisição, valha-nos Deus. São homenageados os cristãos-novos (judeus) assassinados pela populaça, arraia miúda, ajudada por marujos estrangeiros cobiçosos, que depois foram severemante castigados por D. Manuel I (não estavam a pensar que D. Manuel ia castigar a inquisição). Foi um acontecimento singular de um só dia. Nada tem a ver com a inquisição nem com as suas condenações.

    • Luís Moreira says:

      Não está lá isso, Xico! O que lá está no texto, é que naquele local era onde a inquisição acendia as fogueiras, e conta-se, na priemira parte do texto, como aconteceu a mortandade dos cristão-novos…

  4. XicoAmora says:

    Pois não sabia, Luís. Sempre supus que o monumento tinha em vista o massacre de 1506, iniciado naquele lugar e julgo que anterior à inquisição. Pelo menos foi assim que se publicitou o monumento e julgo que é assim que consta nas referências escritas ao mesmo.
    A inquisição não tinha jurisdição sobre os judeus, que julgo até que já tinham sido expulsos, mas sobre todos os cristãos incluindo os cristãos-novos, que mais não eram que judeus convertidos (para que não fossem expulsos). Por isso e então, acho mal que se memorize somente os judeus condenados pela inquisição, uma vez que a inquisição condenou indiscriminadamente cristãos velhos e novos.

  5. XicoAmora says:

    A fazer fé no que leio numa foto do monumento, acabo por ter razão:
    “Em memória dos milhares de judeus vítimas da intolerância e do fanatismo religioso assassinados no massacre de 1506 neste largo.”
    Portanto 34 anos antes da inquisição.

    • Luís Moreira says:

      Xico, o que ponho em causa é exactamente, os Judeus homenegearem os seus e não todos.Eu sei que a placa só fala nos judeus mortos nesse dia. Ainda hoje lá estive. E chateia-me, porque acho que aquele largo, a ter uma homenagem, devia ser uma homenagem a todos os inocentes que de uma forma ou outra foram mortos.Por exemplo…

  6. XicoAmora says:

    E já agora uma lápide junto à Sé em memória do bom bispo de Lisboa, homem culto, letrado e bondoso, que foi morto pela populaça na crise de 1383/85. E assim transformaríamos a cidade num cemitério.
    Prefiria recuperar a lápide em Alvalade, memorando o feito da rainha santa, evitando a guerra civil entre pai e filho.

  7. joão antunes says:

    O édito de D. Manuel I, sobre a expulsão dos judeus do reino, é de dezembro de 1496 e foi uma imposição dos Reis Católicos. A placa de Alvalade encontra-se, se a memória não me falha, num ocal ajardinado ao lado da sede da CGD, onde existem uns cavalos montados por cavaleiros estilizados e um pequeno anfiteatro…

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