Monólogo de uma guarda de retretes

Não há tarde em que eu esteja a ler a Maria, ou a regar as begónias que a minha falecida comadre me deixou, que não venha uma madame de casaco de peles e carregada de pulseiras com pingentes pedir para ir à borla.

Que se esqueceram da carteira, que só têm cartão de crédito – e eu respondo logo: “Olhe que aqui não há visas, minha senhora!” -, que vem já aí o marido e que ele paga… É sempre a mesma coisa!

A mim não me engana nenhuma! Essas lambisgóias andam mais tesas que um carapau e o que querem é comer-me por lorpa.

Hoje lá me apareceu outra: “Ó minha senhora, deixe-me ir senão ainda faço nas cuecas!” Eu respondi-lhe logo: “Então vá lá para fora que não me pagam para limpar o chão”. E ela lá se foi embora, que remédio. Bufam, e mandam vir, mas saem com o rabinho entre as pernas.

E as que pagam e querem mais papel? Era o que faltava! Isto é igual para todas: 50 cêntimos e têm direito a usar a retrete e a três quadradinhos de papel. Bem recortadinho, pela risquinha. E mais nada!

Tenho o rolo fechado na gaveta e ando com a chave no bolso da bata. A mim é que elas não enganam. Comigo é assim: quem quer mijar, paga!

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Oh, Carla , e se ela as pusesse a regar as begónias? Só tu é que me pões a rir. Estou aqui às voltas com o antimalário…

  2. Hummm, isto cheira-me a Rio Tinto, ehehehehehe.

    • Ricardo Santos Pinto says:

      E em relação à necessidade n.º 2, quantos quadradinhos de papel é que a senhora dispensa?

  3. Não há coisa mais fantástica do que as conversas de rua na cidade do Porto. Tenho inúmeras registadas na minha cabeça, suficientes para encher uma noite de conversa e fazer rir de peito aberto. Pena é que não se possam escrever, pois perdem metade da piada se não se usar o sotaque à puârto. De qualquer forma vou contar uma, relativamente recente, num pequeno post.

  4. Carla Romualdo says:

    É Porto, sim senhor.
    Ricardo, isto é igual para todos, não há cá necessidades 1 nem 2… três quadradinhos e acabou-se.

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