Mandela (Memória descritiva)

Mandela e Graça Machel durante a homenagem ontem prestada na Cidade do Cabo.

Ontem, 11 de Fevereiro, realizou-se na Cidade do Cabo uma homenagem a Nelson Mandela, na passagem do 20º aniversário da sua libertação após 27 anos de prisão. Sorridente, acompanhado pela esposa, Graça Machel, Mandela esteve no Parlamento, onde ouviu o discurso proferido pelo actual presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

O «tata» (avô), como carinhosamente o tratam os sul-africanos, sentou-se na última fila da galeria de convidados e seguiu com atenção as palavras de Zuma, que ia lendo em folhas que tinham sido distribuídas. Com 91 anos, o primeiro presidente negro do país, terá feito um grande esforço para assistir à homenagem, pois a sua saúde debilitada pela idade não lhe tem permitido sair da residência. Desde que, há quase dez anos, se retirou da vida política, raramente aparece em público.

Destacadas figuras do ANC (Congresso Nacional Africano), o partido de Mandela, com alguns dos seus companheiros de luta contra o apartheid, festejaram a libertação sem a presença do homenageado. Milhares de pessoas, correspondendo à convocação do ANC, percorreram os mesmos 500 metros que, em 11 de Fevereiro de 1990, Mandela caminhou nos seus primeiros momentos de liberdade , em frente à prisão, saudando os seus seguidores.

Jacob Zuma, no seu discurso, prometeu antecipar a idade da reforma, para reduzir a pobreza, a desigualdade e o desemprego juvenil no país. «Este ano de 2010, será um ano de acção». Zuma atravessa um momento difícil, pois o facto de ter concebido um vigésimo filho, fruto de uma relação extra-conjugal, a meio de uma campanha oficial contra a SIDA e contra a multiplicidade de parceiros sexuais, causou polémica e mesmo algum escândalo no país.

«Este ano será um ano de acção, com um Governo que trabalhará com maior celeridade, mais duramente e de forma mais inteligente», declarou Zuma em tom confiante, no seu primeiro discurso à Nação após ter chegado ao Governo há nove meses atrás. E a primeira avaliação que se fará do seu trabalho será a do próprio Governo, que irá funcionar em estilo de empresa, segundo sublinhou, com uma gestão por objectivos e com os ministros assinando acordos com o chefe de Estado, explicitando como, com quem, com que recursos, dentro de que prazos pretendem atingir os objectivos planeados. Como o presidente enfatizou, a nova política será mais exigente em matérias como a educação, a saúde, o desenvolvimento rural, a criação de emprego e a luta contra o crime.

Acentuou a criação de emprego, a melhoria do sistema educativo, um ponto final na corrupção, a luta contra a SIDA para tentar reverter a taxa de mortalidade. Zuma garantiu ter cumprido já a promessa de criar 500 mil postos de trabalho, combatendo assim a recessão económica – «objectivo cumprido em 97%», sublinhou.

O presidente Zuma, saudado à sua chegada ao Parlamento para a homenagem a Mandela.

Apesar de tudo, recordou o líder sul-africano, a crise que motivou a perda de emprego a um milhão de trabalhadores, não está ainda ultrapassada, embora o país dê sinais de crescimento e «tenhamos voltado e gerar postos de trabalho». Por isso, o Governo irá ampliar o seu programa de obras públicas, expandindo desta forma a criação de novos postos de trabalho. O Mundial de Futebol não foi esquecido. Zuma lembrou que a África do Sul está preparada para ser anfitriã do grande acontecimento desportivo no próximo mês de Junho.

Dirigiu-se depois a Nelson Mandela que, rodeado por Graça Machel e pela ex-mulher, Winnie Mandela, o escutava: «Na celebração da libertação de Mandela, voltamos a comprometer-nos na reconciliação, na unidade nacional, no combate ao racismo e na construção de um futuro melhor em conjunto, negros e brancos, como sul-africanos», disse a terminar o presidente que, nessa manhã não assistira ao principal acontecimento dos festejos da libertação de Nelson Mandela: a reconstituição, a que já me referi, do curto passeio que este, com a sua então mulher, Winnie, fez, quando abandonou a prisão de Victor Verster, nos arredores da Cidade do Cabo.

Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, ao qual muitos comparam Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Porém, o actor norte-americano Morgan Freeman, que interpreta no filme Invictus o papel do vencedor do Prémio Nobel da Paz de 1993, disse com ironia que a única coisa em comum entre o ex-presidente da África do Sul e Barack Obama é o facto de ambos seram negros.

Em Roma, onde se encontra para apresentar filme recentemente lançado, Freeman sublinhou que o actual mandatário, que venceu o Nobel da Paz de 2009, tem metade da idade do sul-africano, menos experiência de vida e nunca esteve preso – «Mandela era como um monolito dentro de um partido monolítico, enquanto Obama tem contra si uma forte oposição pronta a colocar-lhe obstáculos sempre que possível”, concluiu, explicitando a sua afirmação.

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