Haverá conversa mais desoladora do que aquela em que alguém a quem muito estimamos, mas com quem a relação é pautada ainda por um cortês distanciamento, nos pergunta, em tom distraído, o mesmo que nos havia perguntado dias antes e a que havíamos respondido com ingénuo entusiasmo?
“Ah, sim, já me tinha dito”, responderá, por fim, quando lhe repetimos, sem conseguir disfarçar o desencanto, os factos que havíamos já descrito. E mordendo o canto do lábio, como fazem as crianças que já têm vergonha de amuar, nos afastaremos com grande dignidade e o coração ressentido.
É que as relações raramente são equilibradas no que respeita ao que cada um está disposto a dar de si. E uma troca de palavras fulgurante, capaz de fazer perder o sono e abrir possibilidades até aí inimagináveis, pode não ter sido, para o nosso interlocutor, mais do que uma longa, banalíssima, porventura entediante, troca de insignificâncias.
De um sorriso cordial faremos uma prova de afecto; de um banal aceno de cabeça uma comunhão. E quando a ilusão cai por terra, constatamos que é destas construções no ar que vivem os sonhadores. Que a construção venha abaixo é, porém, um drama que depressa se remediará. Em breve outra se erguerá no mesmo espaço.
Um espanto! Sempre te “desenhei” assim, só através da tua escrita, mesmo antes de te conhecer. Sabes Carla, quem é culto e inteligente é tambem muito exigente consigo própria e com os outros. E viver de sonhos não magoa (diz-te o sonhador- mor…)
pois, takes one to know one