A Av. Guerra Junqueiro estende-se (pouco) entre a Alameda D. Afonso Henriques e a Praça de Londres. Na Alameda, temos o Instituto Superior Técnico de um lado e do outro o Monumental Fontanário, que eu já tive o prazer de admirar por dentro, ver as enormes máquinas que sugam a água e a deitam de grande altura. No meio, um tapete verde de relva, onde miúdos e graúdos se divertem, famosa pela manifestação que nos idos de 70 travou a unicidade e destemperos revolucionários…
Depois é subir encostados à direita, onde podemos encontrar todas ou quase todas as marcas de roupa e perfumaria, com uns bancos à mistura. Belos prédios ( 6 assoalhadas que eu já lá andei a sonhar com um) sombreados por frondosas árvores e com garagem privativa no que começaram por ser quintais.
Já a chegar à Praça lá está a Mexicana e a sua famosa esplanada onde gerações de estudantes iniciaram amores e desamores, vitrine natural de gente bonita, onde se passam belas tardes no paleio ou a ler o jornal, mas lá dentro é que está o trabalho do Arqto Jorge Ribeiro Ferreira Chaves, com o seu passarinhário(?) com clarabóia de luz natural e envidraçado para se verem os pobres enclausurados. Mas o máximo, mesmo, está na parede o Painel Cerâmico ” Sol Mexicano” de Querumbim Lapa de Almeida ( por acaso tenho muitas dúvidas, sempre pensei ser do Abel Manta ou do Keil do Amaral) que tem sido defendido com unhas e dentes dos ataques ferozes de quem quer fazer da Mexicana mais um banco ou outra coisa qualquer, desventrando, claro está, o belo painel cerâmico…
Do outro lado temos a bela Igreja que podem apreciar na imagem, da autoria do arqtº António Lino, com a particularidade de ter três naves cercando o altar pela frente e pelos lados. Moderna, esbelta e bonita, cercada por jardins e belas estátuas e dominada pelo Ministério da Segurança Social, com os seus 32 andares (durante muito tempo o mais alto de Lisboa).
O cinema Londres, só com duas salas, onde se vê cinema sem coca-cola e sem barulho de maxilares alarves, com um raro toque de telemóvel a trazer-nos à realidade, volta as costas a um “fast-food” que tresanda…
As adolescentes é que, entretanto, já passaram, como todas em qualquer avenida em qualquer parte do mundo!
Mas dão um belo título!
Não tenho ido para esses lados, mas aqui há uns anos (não muitos), a partir do anoitecer, a Guerra Junqueiro era a via mais elegante de Lisboa. Na Alameda começava Beirute e a Praça de Londres até à Av. de Roma, era uma espécie de faixa de Gaza. Na Roma, andados uns metros, recomeçava a zona mais civilizada. Mas estas coisas, em meia dúzia de anos, alteram-se. Tu dirás.
muito bonito… é como se estivesse lá
Ao Luís Moreira, pela simplicidade com que descreve.
Na sombra da velha oliveira
a rapariga nova
poisou o cesto dos medronhos
e o corpo.
Ao lado,
com a brisa,
crescia um lírio branco
e uma estrela.
E tudo tão quieto
que nem sei se era o tempo dos lírios
ou do amor
ou dos medronhos…
António, são poemas belos. Porque não mos manda para serem publicados, sob um título genérico há sua escolha? E obrigado!
Caro Luís, agradeço-lhe, sinceramente, a disponibilidade. No entanto, prefiro, sem que se espere, publicar um de vez em quando. A poesia é também isso: o inesperado.
Óptimo, António!
Saudações:
Sobre a pastelaria “Mexicana”, que foi referida
Compreendo que alguém se possa sentir mais próximo de uma obra como a igreja de S João de Deus, do arquitecto António Lino, na Pr. Londres, eventualmente por motivos ideológicos e/ou de religião ou até de simples gosto, mas não posso deixar de fazer as seguintes citações, que julgo poderão enriquecer a referência:
(…) A MEXICANA desenvolve um sentido fenomenológico do conceber a arquitectura que atinge um ponto alto, até excepcional, na História da Arquitectura em Portugal.
(Michel TOUSSAINT – “Jornal Arquitectos” nº 132, Fevereiro 1993)
(…), com a MEXICANA Jorge Ferreira Chaves produziu um notabilíssimo exemplo que levou aos limites, para a época e em Portugal, essas tendências expressionistas criadas no interior do Movimento Moderno desde o princípio do século XX (e com raízes anteriores) e que por cá, se pode reconhecer na obra da jovem geração do final dos anos 40 de que este arquitecto fez parte.(…)
(Michel TOUSSAINT – “Jornal Arquitectos” nº 132, Fevereiro 1993).
Acrescento ainda que o termo correcto para designar aquele compartimento (bastante bem dimensionado, até) destinado às aves, deveria ser “aviário”. Supondo que são bem alimentadas, julgo encontrarem-se em muito melhor situação do que muitos seres humanos… – acho mesmo que o “aviário” é uma bela metáfora.
Os melhores cumprimentos
Caro Amigo, quanto aopainel de cerâmica, no interior da Mexicana, não tenha dúvidas: é mesmo de Mestre Querubim Lapa (já agora, se puder corrigir de Querumbim para Querubim, é melhor), o enorme renovador da cerâmica de revestimento no século XX. Parabéns pela chamada de atenção a esta pastelária tão emblemática. Nunca é de mais…