NATO e Afeganistão causam queda do Governo holandês

O Afeganistão e a indefinida política da NATO relativamente ao país levaram esta noite à queda da coligação de centro-esquerda que governou a Holanda nos últimos 3 anos. De acordo com a Reuters, o Primeiro Ministro Jan Peter Balkenende revelou que o pedido da NATO para um prolongamento de uma presença militar holandesa no território até 2011 foi recusado liminarmente pelos trabalhistas, provocando a demissão do executivo.

Convirá ter presente que a indefinição dos membros europeus da NATO relativamente ao Afeganistão, com as típicas tibiezas de esquerda face à ameaça terrorista talibã, está na génese da progressiva subalternização da Europa na agenda de política externa norte-americana. Escrevi em Fevereiro de 2009, que o Afeganistão era o litmus test para a posição americana face à Europa, uma vez que não é adequado pedir aos EUA o esforço brutal de combate solitário à ameaça talibã. Para quem não esteja a ver totalmente o problema, convirá recordar que os talibã têm não só desestabilizado o Afeganistão como lançado o caos no Paquistão, e que essa ameaça no Af-Pak é encarada com crescente preocupação pela Índia, e na Ásia Central ex-soviética.

Um domínio talibã na Ásia Central, com a liderança dos mullah, representaria não só uma real ameaça terrorista para a Europa, como um perigo concreto para todos os que se preocupam com os direitos humanos: falamos de guerrilheiros capazes de incendiar escolas para impedir o ensino das mulheres, optando pelo assassinato bárbaro enquanto crianças. A repressão talibã é por isso um imperativo, e a fraqueza Europeia só conduz a desenlaces em que a sua marginalização é tão patente como foi em Copenhaga.

P.S. Seria imperdoável não agradecer os termos gentis com que o que o Ricardo me apresentou aqui. Permito-me contudo salientar que o meu alegado “socialismo” se limitou ao apoio ao PS nas últimas legislativas. Já tive ocasião de reiterar várias vezes que o rumo (ou a falta dele) da actual governação me empurram crescentemente à crítica às posições deste executivo. A minha posição, inspirada na doutrina social da igreja (porque me assumo como católico, e só o é quem não tem vergonha de o dizer) , aproxima-me de um modelo que respeite a propriedade privada, a livre iniciativa, e o mercado como principal gerador de riqueza. Assumo contudo, uma posição semelhante à da encíclica Caritas in Veritate, em que os resultados de mercado se compreendem como não necessariamente justos socialmente, e por isso se reconhece um papel à justiça redistributiva e à protecção social (seja privada, ou pública). Quanto ao que se passou nos últimos dias, ninguém espere ouvir de mim alguma resposta a todos os que me criticaram no antigo grupo do simplex. Tenho desprezo por corporativismos, e prezo a ética acima da lealdade. O ataque ad hominem ensaiado, não me faz duvidar um minuto que mostrar a brincadeira que é a Câmara Corporativa doeu a muita gente. Se calhar porque agora será mais difícil alguém dizer que jantou com o Miguel Abrantes. Pode-se sempre perguntar: qual?

CARLOS SANTOS

Comments

  1. Embora em total desacordo consigo, quer no que respeita ao afeganistão quer no que respeita ao papel dos EUA, quer à doutrina social da igreja, respeito sinceramente as suas opiniões.

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