Ah, moce marafade!

Quem esteja pouco familiarizado com o Algarve difícilmente compreende o português do título. Antes da massificação da televisão e da democratização do ensino, os sotaques regionais eram mais marcados e certos ditos e dizeres mais comuns.

Em Alvor, hoje uma pequena vila fortemente dedicada ao turismo, vivia-se, há pouco mais de vinte anos, fundamentalmente da pesca. Abrigada junto à foz da ria com o mesmo nome, entre o turismo que já transformava a Praia da Rocha e o enorme areal da Meia Praia – onde viviam os famosos “índios” da Meia Praia – a comunidade de alvoreiros desenvolveu alguns costumes e ditados característicos.  Quando dois “alvorêros garreavem” os piores desejos podiam sair da boca de qualquer deles. Eram as pragas de Alvor, algumas aqui reproduzidas em “algarvie”:

Ah moce marafade! havia de te dar uma dor de barriga tã grande, tã grande, que tevesses que correr e cande más corresses más te doesse e cande parasses arrebentasses.

Oh moce dum cabrão, havia de te crescer um par de cornos tã grandes, tã grandes, que dois cucos a cantarem, cada um na sua ponta, não se ouvissem um ao outro.

Ah moça maldeçoada, havias de apanhar tante sol, tante sol, que t’aderretesses toda e fosse preciso apanhar-te às colheres com’à banha.

Quêra Dês que toda a comida qu’hoje quemeres, amanhã a vás cagar ao cemitério já de olhos fechados.

Um destes dias, “se Dês queser” volto com outras pragas. Até lá, que não vos doa a barriga.

Comments

  1. Joao A. says:

    Ah corve negre! Devias ter uma febre tan grande tan grande que te derretesse a fivela do cinte!

  2. Joao A. says:

    Ocorreu-me uma das pragas mais populares de Alvor e a invectiva preferida do Raul de Alvor. Ambas no comentário anterior.
    Faltou-me referir que os pescadores de Alvor não se revêm na imagem do post. Nunca por cá (Algarve) se usou semelhante barrete que julgo ser usado na costa a norte da Nazaré.
    “Já agora” cumprimento o autor por não embarcar na toleima “do Alvor”, pragas do Alvor, p. ex. Isso sim uma verdadeira praga!

  3. Pedro says:

    Obrigado pelos comentários, João.
    Quanto à foto tem toda a razão, eu próprio tive dúvidas ao colocá-la. Acontece que eu queria um pescador com cara de pescador, se me faço entender, e já entradote. E este foi o melhor que encontrei.
    Mas, sim, também achei melhor alterar a imagem, o que fiz.

  4. Pedro says:

    Ainda há as anedotas de Alvor, João, que não cabiam neste post. Há uma que eu acho fantástica:
    Era domingo e um pescador calçou os primeiros sapatos novos da sua vida. Ao fim da tarde não resistiu e, ali ao pé do mercado, foi dar um jeito nos alcatruzes que estavam dentro do barco, com muito cuidado para não molhar os sapatos. Veio uma onda maiorzinha e pimba, lá encharcou o calçado. Vira-se o pescador para o mar e diz assim:
    Ah, mar dum cabrão, se nã fosse a embarcação, bebia-te tode.

    • JOSE DOMINGOS LOUZEIRO says:

      OH MALSSOADO DUM CABRAO DEVIAS TER TANTA SORTE COMO O PEIXE FORA DAGUA

  5. Pedro P. says:

    Havia te dar uma doença tão grande, mas tão grande, mas tão grande, que a água do mar toda feita em tinta, não desse para escrever o nome.

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