Do Sentido do 8 de Março…

No dia 8 de Março de 1857, um grupo de operárias têxteis, em Nova Iorque, decidiu fazer greve, ocupando, para o efeito, a respectiva fábrica. Reivindicando a redução do horário de trabalho de 16 para 10 horas e  contestando o facto de receberem apenas um terço do salário pago aos homens,  pela prestação do mesmo trabalho, as operárias foram fechadas nas instalações dessa fábrica em que veio a deflagrar um incêndio e, nesse dia de luta pela igualdade de direitos laborais, morreram cerca de 130 mulheres.

153 anos depois, apesar do reconhecimento internacional dos Direitos das Mulheres, da Igualdade de Oportunidades e do combate a todas as formas de discriminação de que se destaca, pela sua transversalidade, a discriminação em função do sexo, as mulheres continuam, em muitos sectores de actividade, a não ter o produto do seu trabalho reconhecido em igualdade de circunstâncias com o sexo masculino. E se esta realidade ocorre ainda no Ocidente, no planeta é esta a realidade maioritária do mundo laboral.

O problema complexifica-se se pensarmos no exercício de direitos cívicos, políticos e religiosos  ou na valorização e reconhecimento dos direitos relativos à identidade individual, cultural e sexual das mulheres uma vez que, nestes casos, estamos perante valores e práticas que confrontam e contrariam representações tradicionais dos papéis sociais de homens e mulheres, decorrentes de uma divisão sexual do trabalho que se não adequa às sociedades democráticas e tecnológicas ocidentais dos nossos dias… porque, em contextos económicos, sociais, culturais, religiosos e políticos diversos, por todo o planeta, o problema do livre acesso e exercício dos Direitos Humanos continua a ser limitado e excessivas vezes desconhecido para a maior parte das mulheres.

Vítimas de todo o género de violência, as mulheres continuam a liderar taxas de pobreza e exclusão na medida em que, infelizmente, o género, na sua transversalidade, acaba por se constituir como factor de dupla discriminação, concorrendo, em particular, no feminino, para a persistência das discriminações múltiplas.  

Faz, por isso, todo o sentido assinalar o Dia Internacional da Mulher!

  

Comments

  1. Luis Moreira says:

    As minhas irmãs nenhuma foi à escola, por serem raparigas. Peço-lhes muitas vezes desculpa!

  2. É sempre bom avivar a memória e demonstrar a quem não sabe que os direitos se conquistam com muitos sacrifícios e luta.

  3. Ana Paula Fitas says:

    Obrigado pelo depoimento, Luís… e pela profunda humanidade revelada!… a nossa humildade perante a consciência cultural é essencial para a efectiva construção de um mundo melhor para todos, onde a igualdade de direitos e de oportunidades seja mais do que palavras e passe a ser a prática interiorizada e constante da existência societária.
    Um abraço 🙂

  4. Ana Paula Fitas says:

    Caro Manuel Gaio,
    Se a consciência da luta pela conquista de todos os direitos integrasse o espírito do sistema educativo, teriamos seguramente uma sociedade mais justa e uma cidadania exercida sem paliativos, exigente, justa e responsável.
    Obrigado pelo seu contributo 🙂
    Volte sempre!

Trackbacks

  1. […] o seu significado original, que a Ana Paula Fitas bem descreve aqui, até aos nossos dias, o Dia da Mulher perdeu o seu sentido profundo que era, parece-me, recordar […]

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