16 de Março de 1974: falsa partida (Memória descritiva)

Como julgo já aqui ter dito, através de um jornalista amigo que, no quadro das suas funções, assistia às reuniões do MFA, fui seguindo o caminho que as coisas estavam a tomar. Naquele princípio de 1974, as reuniões que fazíamos na Rua de Silves, na Parede, ora em casa do Joaquim Reis, um compadre meu ou na garagem de um outro elemento do grupo (quando havia muita gente), eram animadas pelas informações que o tal jornalista ia trazendo. Sabíamos que, mais tarde ou mais cedo, a tropa sairia para a rua.

Por isso, naquele sábado pela manhã, quando começámos a ouvir as notícias na rádio e na televisão, pensámos que era o “tal” movimento que andávamos a seguir há meses. Tínhamos muita esperança e quando verificámos a facilidade com que a tentativa foi neutralizada, apanhámos uma grande desilusão. Só na reunião da semana seguinte ficámos tranquilos – o “tal” movimento não fora ainda desencadeado. O que se passou então no dia 16 de Março de 1974?

Muita coisa tem sido dita sobre o assunto. Numa das versões, terá sido uma tentativa de os seguidores do general Spínola assumirem o controlo do Movimento das Forças Armadas, impedindo os capitães de o liderarem e evitando radicalismos com que não concordavam. Noutra versão, teria sido, pelo contrário, uma manobra para afastar os spinolistas.

Na base desta tentativa de golpe terá, no entanto, estado a exoneração dos generais Costa Gomes e António de Spínola, ocorrida na sequência do episódio da “Brigada do Reumático”, que terá levado o capitão Virgílio Varela, do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, a informar que, caso a Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas não reagisse a essa atitude do governo marcelista, ele sairia sozinho com a sua unidade.

Essa intenção seria concretizada na madrugada seguinte, quando os capitães do RI5, tomaram o comando do Quartel e decidiram avançar sobre Lisboa, sob o comando do capitão Armando Ramos. Foram, no entanto, a única unidade a sair, numa acção descoordenada e condenada ao fracasso, na sequência da qual foram presos cerca de duzentos militares.

Dias depois, na sua última Conversa em Família, Marcelo Caetano classificaria os acontecimentos das Caldas da Rainha como uma “irreflexão e talvez ingenuidade de alguns oficiais”. No vídeo acima, podemos escutar um trecho dessa intervenção do presidente do Conselho.

O documento que transcrevo a seguir é a nota oficial, publicada na imprensa, na qual o regime anuncia a sua vitória sobre a falhada tentativa de golpe:

«Na madrugada de sexta-feira para sábado, alguns oficiais em serviço no Regimento de Infantaria 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insubordinaram-se, prendendo o comandante, o segundo comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma Companhia auto transportada que tomou a direcção de Lisboa.

O Governo tinha já conhecimento de que se preparava um movimento de características e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras Unidades não tinham tido êxito.

Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da GNR. Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por Unidades da Região Militar de Tomar».

Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo. Reina a ordem em todo o País».

Esta última frase, “Reina a ordem em todo o País”, ficou famosa – era repetida ironicamente a propósito e a despropósito.

O professor e historiador Fernando Rosas, numa sessão realizada há três anos nas Caldas da Rainha, lembrou que o movimento das Caldas se verificou na sequência da publicação do livro de Spínola, “Portugal e o Futuro”, que terá deixado Marcelo Caetano à beira da demissão e que o presidente do Conselho pretendeu entregar o poder a Costa Gomes e a Spínola, tendo estes recusado. Por outro lado, o presidente da República, Américo Tomás, não aceitou a demissão.

Na opinião de Fernando Rosas, a revolta das Caldas foi a maneira da generalidade das unidades militares demonstrarem a sua repulsa contra a submissão das Forças Armadas simbolizada pela cerimónia de 14 de Março em que a chamada “Brigada do Reumático” foi jurar fidelidade ao regime. Por outro lado, a demissão de Spínola e de Costa Gomes a seguir à tal cerimónia a que nem um nem outro compareceram.

Muitos dos militares revoltosos eram próximos de Spínola e pretenderam desagravar a afronta que lhe foi feita. Isto, apesar de Spínola, não estando inteirado da conspiração, ter proposto que, em uniforme nº. 1 e ostentando as condecorações descessem a Avenida da Liberdade, na capital.

O coronel Ferreira da Silva, na altura do golpe o principal instigador da saída dos militares do Regimento de Infantaria 5 (actualmente, Escola de Sargentos das Caldas da Rainha), admitiu ter telefonado para o RI5 (Tomar) informando que a sua unidade iria avançar sobre Lisboa, com ou sem outras adesões, provocando a saída precipitada da unidade em direcção a Lisboa.

Já em Lisboa, os militares foram mandados para trás pelo coronel Monge, um dos oficiais do M F A, que percebeu que o golpe iria fracassar perante o elevado número de forças do regime que esperava a coluna revoltosa na capital. Cerca de 200 militares do RI 5 foram presos.

Otelo Saraiva de Carvalho interveio no fim. Contou como tendo sido informado da progressão da coluna militar depois desta ter saído, na madrugada de 16 de Março, dirigiu-se ao seu encontro. Deparou com uma elevada concentração de unidades militares e GNR à entrada de Lisboa. Terá sido da observação que fez do dispositivo militar governamental que extraiu a ideia de na «Ordem de Operações» para 25 de Abril, atribuir a Salgueiro Maia a missão de ocupar o Terreiro do Paço, atraindo ali as forças fiéis ao regime e permitindo que os outros alvos militares fossem ocupados e controlados sem oposição.

Ainda quanto ao 16 de Março, Otelo revelou que o major Casanova Ferreira procurou aliciar unidades militares, sobretudo, os pára-quedistas e a Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Contudo, estas recusaram participar face à fragilidade do plano. Casanova Ferreira não desarmou, acreditando que, mesmo sem plano, “basta sair uma unidade para saírem todas as outras atrás.”

O adiamento da revolta proposto por Otelo e aceite por Casanova, seria, contudo, contrariado pelo capitão Virgílio Varela que não acatou a ordem de desmobilização. Os militares do RI 5, apesar das dúvidas que os assaltavam, como foi testemunhado nesta conferência, neutralizaram o seu comandante e saíram em direcção a Lisboa. O 16 de Março estava na rua. Uma aparente derrota, mas um excelente ensaio para a grande vitória do mês seguinte.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Parece, pelo que me dizem, foi uma precipitação, alguem que reagiu a quente e que pensava que seria seguido por outros. Uma espécie de “facto consumado”. Estou na rua “trás um amigo tambem” qualquer coisa assim.

  2. Luis Moreira says:

    Lembro-me como se fosse hoje desta conversa em família. Mas o Marcelo já nesta altura dava indicações que estava na recta final. Ele sabia de tudo o que se estava a passar, mas sem meios e sem apoios, aprisionado pelos ultras, não tinha saída .

  3. maria monteiro says:

    sentia-se esse “passa-palavra” do está a chegar o dia … circulava a informação de que nesse fim-de-semana ia haver uma grande festa em Lisboa onde era importante a presença de todos … acabou por ser um bom ensaio geral.

    Também me lembro bem, os meus pais faziam anos de casados e estavamos em casa duns primos ultras na Costa da Caparica

  4. Carlos Loures says:

    De todas as hipóteses colocadas, a de que tenha sido uma acção dos spinolistas, é a que faz mais sentido.

  5. Arsénio Cipriano Correia says:

    Li o artigo e os comentários, não fazia parte do movimento dos Capitães, era na altura Furriel Miliciano no RI5 (Caldas da Rainha), mas participei na coluna. Vejo que há algo com consistência, mas também muitos pressupostos à mistura, e uma imagem que à distancia destes anos todos está um pouco distorcida (ou torcida!?). Eu pergunto por exemplos aos Senhores, historiadores,(já lá vão 37 anos!!!.), ou aos senhores Militares ou a outros responsáveis estudiosos, porquê tanta descriminação na carreiras profissionais, não só estes, mas também os do 25Abril (salvo raras excessões!). Porquê que este ano ano foi cancelado (proibido) o colóquio que estava agendado com os participantes (militares) e as escolas que tinham sido convidadas?, o que é que se anda a tentar esconder?!. Porquê uma homenagem aos participantes mortos se os vivos nem todos foram convidados?……….., por agora nada mais a dizer.

    Correia

    • Antonio Pinto says:

      Arsénio ou Correia? Para alem de uma prosa difusa e confusa nota-se uma mistura de grelos que dá em nada. Esta diostorcida? Diga onde! O cancelamento de um colóquio supoe ou pressupoe querer esconder qualquer coisa??? Ve-se que nao esta habituado a participar em muitos ou nenhuns. Nao se criem fantasmas em torno de um momento da historia que a todos nos tocou sobretudo a quem, como eu, se encontra a tirar a recruta precisamente nesse quartel. Como foi dim de semana e tinha um quarto cá fora, nao fui envolvido em nenhuma manobra. Apenas a PM andou pela cidade a exigir o regresso aos quarteis de todos os militares. De resto, tudo normal.

      • Arsénio Correia says:

        na tropa (RI5) era o Correia, mas também sou Arsénio, quanto ao que o sr. Antonio Pinto comenta, eu pouco acrescento!, só queria dizer que se eu quisesse participar em colóquios ou entrar na vida politica activa, tinha tido muitas oportunidades!, mas não! o que eu quis dizer foi tão simplesmente uma ideia com que fiquei, depois de participar praticamente em todos os almoços comemorativos ao 16 de Março, fui observando!, porque a participação de oficiais (nos almoços) só aconteceu, muito mais tarde! e agora em 2011 é que quizeram através (ou com o apoio) da Câmara das Caldas celebrar e abrir os portões ás escolas das Caldas, o que não foi bem sucedido, segundo publicação da Gazeta das Caldas com reportagem fotográfica de Simone Poltronieri, com quem partilhei pessoalmente o assunto!. Nunca quis andar em”bicos de pés” sobre este ou qualquer outro assunto!, relembro, caso não saiba, que os 25 anos do 16 Março o almoço foi nas instalações do RI5!. Não pretendi criar fantasmas nenhuns, mas apenas o que durante os anos fui observando de perto!, nunca me quis referir ao acontecimento do dia!, se por acaso e como diz que era recruta, na altura eu já estava lá desde Outubro de 1972, como cabo miliciano e posteriormente furriel na 6ª Companhia!.

    • Caro Arsénio Cipriano Correia. Eu era na altura Cabo Miliciano na 6ª companhia, da qual era comandante o Sr Capitão Virgílio Carvalho. Gostaria de saber se o Correia também tinha estado antes na 6ª companhia.
      Grande abraço
      Jaime Oliveira
      jaimepimentel@sapo.pt

      • Arsénio Correia says:

        Sim amigo Jaime, era da 6ª companhia e posteriormente á Formação. Um abraço.
        Arsénio Correia

      • a Pinho says:

        O Cap. Virgilio Varela era da 6ª ?? não era da 4ª Companhia ???

        • Jaime says:

          A 4ª Companhia era comandante pelo Capitão Varela. A 6ª era comandada pelo Capitão Carvalho. Quando apareceu na companhia informou-nos relativamente à situação, que se tratava de uma reacção das tropa relativamente às exonerações do Gen. Costa Gomes e Spínola. Reacção esta que já seria esperada…

  6. Rui Meireles says:

    Não sei se noutras unidades aconteceu algo no género, sei apenas o que vivi por dentro na unidade a que eu estava ligado como Adido desde inícios de 1973.
    Estive presente no recolher da noite de 16 de Março e ficou bem claro pela boca do Oficial de Dia presente à chamada do Recolher, Oficial que era simultâneamente o meu Comandante da Companhia, que nessa noite, se movimentavam já Militares do MFA com o fito de derrubar o Governo da época.
    Apontou alguns objectivos do Movimento e solicitou o apoio de quem se encontrava presente, salvo algumas excepções, todos deram o seu aval e apoio.
    Nos dias seguintes e em face do abortamento do Golpe esse oficial mais uns dois ou três da mesma classe -Capitães- foram retirados dos seus Serviços e alguns excluídos da Unidade, sabendo nós em seguida que iriam ser Mobilizados…
    Fiquei surpreendido com a notícia, com a

  7. Jose Simões em 16 de Março de 2012

    subscrevo o já escrito pelo A. Cipriano e R. Meireles.

    tambem estava nas caldas,1ª Cia de inst. comandada pelo capitão Gonçalo Novo,

    • António Rocha says:

      Um abraço ao pessoal das Caldas do Rocha da 5 companhia

  8. Fernando Caetano says:

    Arsénio.
    Quanta verdade está escondida.
    Um abraço
    Fernando Caetano
    Asp.Mil. R.I.5
    P2/71 S. Jacinto

  9. aderito pinheiro says:

    também estava lá , segunda companhia , de intrução , do capitão varela,,tenho mais historia do que se pasou naquela manhã ,

    • Jose Oliveira says:

      Eu era recruta na altura.O comandante de companhia era o Capitão Varela.Antes de virmos fim de semana ele reuniu a companhia e disse:Pairam nuvens muito negras sobre Portugal,se acontecer algo de estranho apresentem-se no quartel mais próximo da vossa residência e desejou-nos boa sorte

  10. Tenho muita honra em ter feito serviço militar no RI5, embora não saiba nada de golpe militar.

  11. Raul says:

    Estava na altura na Escola Pratica de Cavalaria em Santarem. Era recruta e teria ido no sabado almoçar ao quartel pois o dinheiro nao era muito. Fiquei retido pois a unidade entrou em prevençao. Como recruta nao sai do quartel, todavia mandaram -me para um corredor armado de G3 , com ordens de abater quem pretendesse sair por determinada porta. Fui informado que se tratava de um capitao nao aderente. Era voluntario e tinha a idade de 19 anos, confesso ate que estava assustado, pois senti naquele momento que nao estava preparado para matar, caso aquela porta se tivesse aberto. Depois durante a noite e ate madrugada estive numa cave a carregar balas naquelas fitas de metraladora dos carros de combate. Estava presente o Capitao Salgueiro Maia que nos comandava. Nao sabia o que se estava a passar pois estavamos a ser preparados para combater terroristas. Afinal o que seria aquilo? Perguntei ao capitao Salgueiro Maia sobre o que se passava e ele respondeu de imediato ” estamos em guerra açoriano”. Nunca mais abri a boca. Ja de madrugada o Capitao Salgueiro Maia ofereceu-me uma ” ucal ” numa atitude de grande lider que era.

  12. Joaquim Rodrigues says:

    Um abraço a todos quanto estavam na altura no RI5 em 74.
    Ex.Furriel Rodrigues 4º Comp./Caçadores

  13. Carlos Ferraz says:

    Um abraço a todos aqueles que por ali andaram e viveram aqueles dias. Eu era 1º.Cabo na Sec.Regimental. Não estava lá nesse dia, mas durante estes anos tentei andar por perto dos eventos relacionados com os factos, e perceber o que se efectivamente se passara e porquê. Consegui criar uma ideia própria sobre o assunto, que aqui não vou expor agora, e perceber que algumas arestas nunca foram convenientemente limadas, porque o tempo perdoa muita coisa mas não resolve tudo, e porque a intransigência na justificação das nossas atitudes não nos permite analisar e expor os factos com clareza e isenção. Porque muitas histórias ficam por contar, e apenas prevalecem aquelas que o conseguem fazer, é que sou levado a crer que também muito do que nos ensinaram na escola e muito do que hoje a “informação” nos vende, pode não corresponder à realidade dos factos.

  14. Jaime says:

    Para amanhã dia 16 de Março de 2014, desejo respeitosamente a todos os participantes no quadragésimo aniversário do 16 de Março de 1974 do Reg. de Inf. 5 Caldas da Rainha, uma óptima comemoração e as maiores felicidades.
    Jaime P Oliveira
    Antigo Cabo Mil. 6ª Comp. 4º turno 72

  15. Ramiro Amendoeira says:

    Era na altura furriel da 5.ª Companhia, e passei a noite em cima de um beliche, junto a uma janela na casamata dos instruendos, atrás de uma metralhadora, suponho que Breda. Depois da ocupação, houve arrombamento dos cacifos, e no meu foram encontrados alguns documentos comprometedores, pelo que fui parrar a uma prisão em Sta. Margarida, e depois daí para a prisão de Caxias, donde saí a 27 de AbrilAp´

    • Adérito Ferreira says:

      …pois comparsa Amendoeira, ainda tocas viola?
      …e eu a pensar que tinhas desaparecido de Sta Margarida.
      Leia-se que te tinham feito desaparecer.
      Folgo em saber que estás bem. Adérito Ferreira- Fur mil RI5 5ª comp.colega da Breda mais os instruendos…

      • joaquim rodrigues says:

        CAROS AMIGOS Folgo em saber que esto todos bem . Fui ao almoo do quadragssimo ano do 16 marco, e soube que alguns dos nossos camaradas, j tinham falecido e outros encontram-se muito doentes.Estive na 4 Comp. c/o tenente Varela e aquando do 16 marco estava na caadores c/o Cap. Faria.Lembro-me muito bem do caso do Amendoeira, foram momentos conturbados e inesquecveis felizmente tudo acabou bem. Um grande abraco ex-furriel Rodrigues Date: Mon, 17 Mar 2014 14:14:10 +0000 To: jmnr51@hotmail.com

        • Sandra Faria says:

          Sou filha do já falecido Capitão Luís Faria, e obrigado por o relembrar.
          Cumprimentos.

          • Joaquim Rodrigues says:

            Sandra Faria
            Lamento muito o desaparecimento de Seu Pai Capitão Faria.
            Fui furriel nas Caldas da Rainha, e nos acontecimentos do 16 de março, estava com o Cap. Faria, na Companhia de Caçadores.
            Estive também com Ele no forte de Peniche. Retenho na minha memória o exemplo de pessoa que foi o Cap. Faria, justo amigo do seu amigo um excelente Comandante, dava-nos muito bem.
            Desejo-lhe a si, muitas felicidades
            Ex. furriel Rodrigues

  16. ribas says:

    Estive no RI 5 de julgo a setembro de 1973. A forma como os instruendos foram tratados, não deixa dúvidas algumas que os revoltosos apenas queriam salvar a pele da guerra. Capitão Varela era um vaidoso. Passeava-se pela parada de pistola à cintura. Formava a companhia a tiro de pistola. Não dispensava a consequente palada e ai de quem se não levantasse. O Comandante CSM, todos os dias, depois de almoço, na parada, ameaçava os instruendos de que enviava para a guerra de África todos os que se portassem mal

  17. ribas says:

    Estou a recordar uma hora de almoço onde um oficial de dia- Alferes Miliciano, que não sei o nome mas se calhar hoje é um dos muitos Generais que tiveram medo de dar o corpo às valas, gritava – não quero barulho no refeitório.
    Passou-me pela cabeça, e enquanto em posição de sentido,retirar um banco a um colega do lado e que quando foi dada ordem para nos sentar-mos, o camarada estatelou-se e virou a terrina. Não fui denunciado e o Alferes engoliu

  18. ribas says:

    Quem não se lembra do comportamento desses capitães que quando estavam de serviço de oficial dia, gozavam com pacóvio dos instruendos e para os impedir de sair da unidade, passavam a caneta BIC na cabeça e quem deixasse crescer o pelo acima da espessura da caneta, não saía. No final do meu curso, ficámos retidos na unidade meia-dúzia de instruendos, uns porque comportamentos subversivos, outros …
    Até nos puseram de plantões aos WC,s

  19. Sardaine says:

    Lembro-me de um asp. Varela em Santrém em Abril Julho de 1973 e na Guiné como alferes após Abril/Maio de 1974; estaremos a falar da mesma pessoa?
    Eu estive no famigerado Niassa que levou com a bomba, mas ainda me levou à Guiné em 11/04/1974.
    Conheci um cap.Varandas Soares que foi preso quando participou no golpe das Caldas e foi depois para a BT da GNR.
    Creio que já não está connosco,
    Felizmente já não apanhei com Spínola na Guiné;
    Conheci sim o Ten.Coronel Carlos Fabião, mais tarde proeminente Oficial do MFA.
    Os capitães na Metrópole eram do quadro com mais ou menos comissões, mas o mov. dos sargentos e oficias mil. na própria Guné concorreram e muito para uma guerra mais branda/tactica e transição ordeira para o que se queria, eu queria;
    Que ninguém se envergonhe, mas os combatentes foram injustiçados e mal tratados, pois aqui odiava-se tudo e todos os que bateram lá com os costados

  20. Agostinho Mourato Grilo says:

    Ao falar do 16 de Março de 74, talvez convenha lembrar que verdadeiramente o Movimento dos Capitães se associou pela primeira vez ao Progreama político do Cap Melo Antunes, em Cascais na reunião de 5 de Março, onde pela primeira vez foi asinado um documento nuito mais significativo, na altura, do que se oppossa pensar, e que me parece que anda sempre escondido. naquela reunião pelas 2 ou 3 da manhã aguardava-se a situação na Guiné trazida pelo Monge, o Victor Alves estava exuberante, enbora se receasse a tofods o momento que pudesse intervir a PIDE, e quem dirigiu a reunião foi o maj Pinto Soares. As assinaturas não fotam muitas e eu recordo ter sido o único que questionou directamente o que eatva escrito sobre o Ultranmar, tendo assinado depois.

    Não é possível também esquecer a reunião em 8 de Março em casa do Cap Macedo onde foi decidido que o Cap Vasco Lourenço não embarcaria para os Açores como tinha sido decidido pelas instâcias superiores.

    Também é curioso relembrar um acontecimento simultâneo na Academia em que a GNR cercou a Academia Militar, o General Amaro Romão, depois de ter convocado todos os professores civis e Militares, andava à porta de Armas completamente desorientado, queamdo eu pessoalmente reentrei na Academia. Mas sobre isto mais vale juntar o que tenho escrito para integrar as minhas memórias militares e que por isso se trancreve abaixo:

    O 16 de Março de 1974 e o cerco da Academia Militar

    Para quem naquela altura e pelas razões já referidas de ocupação interna e externa, pouco acompanhava as reuniões da Comissão Coordenadora, se é que já se chamava assim o núcleo central da movimentação dos Capitães, sem estar portanto a par das determinantes profundas, ou melhor dizendo de todos os detalhes e situações daquela movimentação, o fenómeno do 16 de Março foi sem dúvida uma surpresa e uma saída em falso.

    Foi assim que nessa altura nem cheguei a saber que no dia 9 de Março, alguns elementos nomeadamente o Pinto Soares, foram detidos em unidades militares, tendo-se seguido uma série de acontecimentos em catadupa, e esses soube pelos jornais e pela televisão, dos quais destaco logo a 12 de Março a reunião da Brigada do Reumático montada por Marcelo Caetano, para procurar garantir e mostrar à Nação a subordinação das chefias, mas na qual não estiveram presentes os Gen. Spínola e Costa Gomes, que foram demitidos logo em 14de Março, tendo dado origem à saída não controlada de uma coluna militar proveniente das Caldas, acontecimento que ficou a caracterizar o 16 de Março de 1974

    Foi assim que nesse período agitado, em que algumas unidades ou conjuntos de unidade por áreas, entravam já frequentemente de prevenção que, próximo desse dia, tinha havido na Academia uma pequena festa à tarde, organizada no âmbito do sistema de “praxe” dos alunos, tolerada pelo Comando da Academia e, naquele caso, destinada a aceitar no curso de Engenharia Militar, em conformidade com o sistema, os novos alunos de Engenharia. Eu tinha assistido a essa reunião e, a meio da tarde, mal tinha chegado a casa, recebi um telefonema a convocar todos os oficiais, incluindo os Professores, para se apresentarem imediatamente na Academia, pois tinha entrado de prevenção.

    Sempre me pareceram um pouco ridículas aquelas prevenções, pois o que é normal obter-se nesse tipo de situação, é concentrar no interior do quartel o pessoal para fazer face, se necessário a um qualquer “inimigo” exterior. Naquelas circunstâncias, e em particular na Academia, o que era engraçado perceber, era que reunir o pessoal todo, era reunir o “inimigo”, em pessoa, e no interior do quartel.

    Isso mesmo devia perceber a Guarda Republicana que, talvez por ter havido a reunião e confundindo-a provavelmente com outras que ia havendo na altura, tinha recebido ordem para cercar a Academia Militar, ao fim do dia. Tinha-se aliás registado durante a referida reunião, uma certa concentração de oficiais que nada tinham a ver com ela, certamente animados de outras finalidades.

    Claro que quando voltei a entrar para a Academia era flagrante o cerco feito pela Guarda Republicana e a perturbação do General Comandante, o Gen. Amaro Romão que numa postura nele inédita, se podia ver circulando junto à porta de armas, sem boné, um tanto desnorteado e sem capacidade para fazer as suas intervenções oratórias, sempre muito aparentemente firmes, floreadas e consolidantes do establishment.

    A confusão era relativamente grande a nível dos Oficiais e Professores, que foram entrando para a Academia e fardando-se aqueles novamente. Entretanto o General e o pessoal mais directamente ligado ao Comando da Academia, entraram em contacto com a Guarda Republicana e veio então fardado, dialogar com o Comandante, o Cor. Serras Pereira daquela Guarda.

    Teve então lugar uma troca de explicações e o Cor. Serras Pereira utilizou depois o rádio referindo o código “Dayan de vidro”. Foi explicando ou esclarecendo o Comando Geral da G.N.R., de que a reunião anterior tinha sido de Engenharia e que realmente tinha dado origem á forte concentração na Academia, não só de Oficiais de Engenharia como de vários outros, ligados ao conhecido Movimento dos Capitães. Não haveria porém perigo pois estaria sob controlo do “Dayan de vidro”, ou seja do General Spinola.

    Por isso, algum tempo depois a Guarda Republicana retirou.

    O General Comandante fez mais uns telefonemas, estava nervosíssimo e sem fluência na palavra, capacidade que tanto o caracterizada, mas sentiu-se no dever de, ou por iniciativa própria, ou porque lhe terão pedido, o que não recordo, dar uma explicação aos Oficiais e Professores presentes.

    Tendo então reunido todos os Oficiais e Professores nos Paços da Rainha, numa sala de reuniões, foi-nos explicado que a G.N.R. tinha ali estado apenas para nos proteger. E lá foi ele inventando e articulando alguma justificação para tal, que julgou apropriada.

    Como nunca gostei de que me fizessem o ninho atrás da orelha, como soi dizer-se, fui ouvindo toda aquela explicação, mas eis senão quando me lembrei de fazer a pergunta que nunca mais esqueci e que, na altura obviamente deixou o General, já muito diminuído no tocante às suas possibilidades oratórias, em situação ainda pior:

    – Mas, Senhor General, se a Guarda Nacional Republicana estava a cercar a Academia para nos proteger, porque é que estava virada para dentro, e não para fora?

    As explicações foram várias, já não recordo quais foram, mas não foram de certeza muito elucidativas, o que já era um pressuposto da pergunta, tendo redundando no gáudio de muitos dos presentes. E não direi todos, porque neste tipo de coisas, há sempre quem leve tudo muito a sério.

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