As palavras estão gastas, estão gastas as palavras. Mas há pessoas que têm sempre dentro de si uma permanente sensação de paisagem. Pode ser o Universo, uma floresta, um rio ou um sorriso.
Mesmo gastas, as palavras são olhos de distância e água, as palavras são sopros de horizonte, as palavras são bonitas. São bonitas as palavras ditas e não ditas.
São boas as palavras, por fora e por dentro, mesmo as palavras más, para ver e falar com a paisagem, sobretudo se não somos capazes da poesia de Grieg numa Canção de Solveig, ou da melodia de Smetana nas ondulações do Moldava.
Mesmo gastas, as palavras gastas ainda têm dedos, olhos e lábios.
Eu ainda acredito nas palavras velhas e gastas.
Mesmo gastas, puídas, sem cor, são elas que dão a tangência da música e acendem as noites com unhas de fora.
Não matem as palavras gastas, velhas, assim sem mais nem menos, não deitem fora as palavras velhas, até que me ofereçam, no dia em que ficar mudo, uma caixa de palavras novas.
Adão, querido amigo, eu diria que as palavras são sempre novas. Et par le pouvoir d’un mot – Je recommence ma vie – diz o Eluard no seu famoso poema sobre a Liberdade. O poder de uma palavra é enorme. Na minha opinião, as ideias que as pobres palavras transportam é que estão gastas. A plasticidade da palavra, a capacidade que tem de transmitir ideias estúpidas ou geniais, é, quanto a mim, um dos grandes milagres realizados pela nossa espécie. Mas compreendo a tua ideia – no fundo, dizes o mesmo que acabo de dizer – por outras palavras.
Coragem, dizia o meu professor, Alberto Fialho, é usar pela primeira vez, uma palavra (seja gasta ou não)
Que repousante comentário, Carlos, como sempre. Um abraço
lembraste-me um poema do Daniel Faria, do qual cito o início, e que me parece lindíssimo:
“Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a “
Consertar as palavras, restaurar os sentidos, és uma felizarda, Carla, adoras livros, poesia… e recordas sempre o essencial…
Uma carreirinha de palavras já com muitos anos…
Surge a palavra
em nova forma,
salta da boca
servindo um ideal
onde nada te obriga
onde nada te diz
tua vida em decreto
e de nova raiz
surge a palavra
distante, sem medo
reflecte e pensa
quando da vida
se inventa,
e posta em seum outro matar;gredo
no silêncio da terra
em dia sem fim
ela surge
lançada ao vento
e na parede pintada
sua luta é travada
de não ser mito
nem gerada
para uso restrito
Posso publicar? Quem é a autora? Lindo! Se és tu andas -nos a enganar. com essa conversa que não queres…
Luís, fica tão bonito aqui na palavras velhas e gastas e pois, foi escrito em junho de75
Publica as tuas coisas, Maria! esse poema é lindo. Não sejas tímida, arranja um pseudónimo…
Luís não é ser tímida! escrever era a minha forma de luta … quando comecei a trabalhar aprendi que lutar era estar ao lado de quem não tem voz… por lá continuo sem escrita mas com muito calor humano
bjs maria
Comentários poéticos de luxo, Maria!