Privatizar, a arma financeira e política

Privatizar a eito é a palavra de ordem do momento, no PSD e no PS. Os socialistas invocam o objectivo do PEC de limitar o deficit em 3% do PIB em 2013. Os social-democratas, sob a capa liberal, propõem-se arrasar inteiramente o papel do Estado na economia – mesmo na economia de bens e serviços sociais básicos, como água, correios, saúde e ensino.

Ao contrário da propaganda em voga, a intervenção do Estado na economia nem sempre é maldição diabólica. O artigo de opinião O porquê das Privatizações ? , de Duarte Nuno Clímaco no DN é elucidativo. Eu, por outro lado, lembro as acções iniciadas por Bush e continuadas por Obama de investimento de avultadas somas de dinheiros públicos para salvar um sistema financeiro e parte do sistema económico (indústria automóvel) detido em exclusivo pelo sector privado. Onde andava a excelência absoluta do privado?

Do PS ao PSD, ou se quisermos de todo o ‘centrão’, não existe uma clara definição de estratégia para o País. Na ignorância, nada melhor que usar estafadas receitas. Pergunto: há quantos anos se vêm fazendo privatizações em Portugal e onde se aplicaram os vultuosos fundos que o Estado encaixou? Que desenvolvimento foi conseguido? Querem ao menos avaliar o que se está a passar com a evolução económica de países com forte intervenção estatal, como o Brasil, Rússia, Índia e Rússia? Não, não lhes interessa.

Para o novo líder do PSD, outro grave problema é a revisão constitucional. Urgentíssimo. Entre outros, não explicitados, o fim é criar um Conselho Superior da República (CSR), com o objectivo supremo de combater a corrupção. Paulo Teixeira Pinto, um ex-presidente do BCP – e que BCP! – foi o eleito para presidir à ‘comissão de revisão constitucional do PSD’, segundo o jornal “i”.

Já temos um Conselho de Estado (CE), onde se sentam três ex-PR e muitos notáveis – até Dias Loureiro era membro; a descontinuidade deve-se ao envolvimento no caso BPN e o BPN é hoje do Estado, diga-se, porque o Governo de Sócrates decidiu nacionalizar os prejuízos. Mas o CE não chega. Temos que criar o CSR, um novo ‘centro de custos’, porque os portugueses são gente pacata e de boas contas.

Privatizar é a palavra de ordem. Se analisarem com atenção os resultados das privatizações da CUF, Siderurgia Nacional, Covina e outras, dando a preferência aos grupos estrangeiros, não se podem lamentar do encerramento de produções, da queda de exportações e do aumento do desemprego.

Muito mais teria a dizer sobre privatizações, corrupção e responsabilidades políticas. Fica para a próxima.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Se as empresas públicas tivessem como objectivo, regularizar mercados, fornecer bons serviços e produtos a baixo preço, estaríamos todos de acordo, mas o que acontece é que já hoje estão nas mãos dos privados, com a benção do estado que só está lá para colocar boys e utilizá-las para intervencionar nos negócios. A situação hoje é pior do que tê-las completamente privatizadas.

  2. Carlos Fonseca says:

    Luís, temos opiniões diferentes, mas não é grave. A liberdade é isso mesmo. A pluralidade de opiniões é, quanto a mim, um dos trunfos do ‘Aventar’. Sucede, porém, que se confundem as privatizações com os beneficiários das mesmas, esquecendo os interesses estratégicos do País.
    Os partidos políticos, PS e PSD em especial, têm fortes responsabilidades na nomeação – e enriquecimento – dos tais ‘boys’ para gestores de empresas públicas ou participadas pelo Estado. Como eliminar estes é mais difícil do que privatizar, então privatize-se – um grave erro de ‘casting’. Um dia destes, voltarei ao tema. Um abraço.

    • Luís Moreira says:

      Carlos, as empresas públicas hoje já estão privatizadas, o Estado está lá para proteger os “empresários” do regime. São monopólios, privatizados e com a garantia do Estado. É melhor separar águas. Ou são do estado ou são privados, assim é que não é nada.

  3. Ricardo Migueis says:

    Privatizar para quê? Com que objectivo? Com que retorno? Concordo plenamente com a chamada de atenção da falta de estratégia para o país. Escrevem-se livros sobre estratégias para Portugal, criam-se grupos para discutir o futuro de Portugal, mas não há um único roadmap, uma estratégia, um programa, em que se defina claramente o desígnio das empresas públicas, a sua relação com o privado e com a sociedade civil organizada. Não admira que a palavra “estratégia” tenha perdido sentido, parece que já ninguém sabe o que é…

  4. António Chitas says:

    Seguindo o sentido das anunciadas privatizações das quais na sua esmagadora maioria sou contra, dava uma benesse aos nossos governantes e pseudo (psd) governantes de concordar com mais algumas, se conseguissem privatizar o BPN pelo mesmo valor investido pelo estado nesse icon bancário do país que era o BPN.

    • Luís Moreira says:

      António, as empresas públicas, ou são monopólios do estado e aí concordo, ou são monopólios privados com a cobertura do Estado e aí não concordo. Veja o resultado. É para isto, para os privados ganharem fortunas sem qualquer risco ?

  5. António Chitas says:

    O ter referido o BPN como a primeira privatização, queria dizer que como não vão conseguir privatizar pelo valor investido, não poderiam privatizar mais. Sou totalmente contra a privatização de Empresas estrturais de um país, como Energias, Telecomunicações, Transportes, Banca e Seguros e outras Industrias essenciais ao desenvolvimento e independencia economica do país. Que sejam abertas a investidores privados até aos 49% concordo. Um exemplo a Galp se ainda fosse uma Empresa publica não poderia acabar com esse escandalo que é o aumento constante dos combustíveis, regulando o mercado?

  6. Luis Moreira says:

    Mas está nas mãos do Estado e o que acontece? Nada! E a EDP ? E a Galp? E a PT? Pagamos tudo mais caro, é para meter lá os boys dos vencimentos milionários? É para os privados monopolistas ganharem fortunas sem risco? Eu tambem sou a favor de empresas públicas mas não para ser sugado por elas.

Trackbacks

  1. […] This post was mentioned on Twitter by Blogue Aventar. Blogue Aventar said: Privatizar, a arma financeira e política: Privatizar a eito é a palavra de ordem do momento, no PSD e no PS. Os so… http://bit.ly/blVV3V […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading