Angola, Construtoras e Dinheiros Públicos

Procuro em mil e um pensamentos as justificações para a visita surpresa do Ministro de Finanças a Angola, nestes últimos dias. Haverá, certamente, interesses para a rodear de algum secretismo e mistério – Quais? Ninguém me consegue explicar. Assim sendo, e porque teimo em procurar a verdade, sou compelido a fazer o diagnóstico através da agenda de trabalhos cumprida.

À parte, soube há dias, de fonte fiável, ter sido executada uma operação fraudulenta, por um alto responsável da banca local, que causou o desvio de Angola de muitos milhões de dólares. Agora, segundo Jornal “i” o Ministro da Construção angolano, Silva Ferreira, alega que falta de liquidez do País é causada pela quebra das receitas do petróleo em 2009. Enfim, por uma razão ou por outra, o Estado de Angola confronta-se com um problema de reduzida liquidez.

Como no passado, em que havia guerra e preços do petróleo limitados, há empresas portuguesas, fornecedoras de bens e serviços, credoras de montantes em mora. Também como no passado, neste jogo empresarial luso-angolano, quem melhor se mexia e mexe são as grandes construtoras: Mota-Engil, Soares da Costa e Teixeira Duarte, em particular. Américo Amorim – não me esqueceu – nada em águas diferentes.

Na “visita surpresa”, Teixeira de Santos assentiu que o Estado Angola faça o pagamento das dívidas através da Linha de Crédito de 2009, de 500 milhões de euros, criada para objectivos totalmente distintos; e mais, o Sr. Ministro estabeleceu também que “competirá às autoridades angolanas identificar as empresas que deverão prioritariamente ver essas regularizações feitas e que não será de estranhar que a construção seja uma das áreas contempladas”. Saliente-se que, por norma, nestes casos a força dos ‘lobbies’ é que ditará o itinerário do prioritário; por outro lado, a dívida total é de 1,7 mil milhões de euros e atinge muitas PME cujos casos, certamente, serão atirados para as ‘calendas gregas’.

Sabido, desta maneira, o resultado da visita, é natural inferir que, por influência das grandes construtoras, o ministro Teixeira dos Santos tenha ido a Angola decidir da utilização de 500 milhões de euros de fundos públicos para pagar dívidas do corrupto Estado angolano às grandes construtoras; as quais, agora como no passado, constituem um ‘lobby’ de negócios sem risco. O Estado paga sempre, mesmo que a dívida seja de Angola ou que o Tribunal de Contas não dê aprovação. É típico do sector privado português, o tal que serve de contra-ponto a um sector empresarial do estado carregado de manhosos ‘boys’ e ‘girls’. Do ‘Privado’ ao ‘Público’, em termos empresariais, a dificuldade está em escolher qual dos dois é o pior.   

Comments

  1. Luís Moreira says:

    Bem visto, Carlos! Até emprestamos dinheiro à Isabel dos Santos para comprar posições estratégicas nas nossas empresas. Este Estado paga tudo, e nós pagamos-lhe a ele. Contas certas!

  2. Helder Guerreiro says:

    Interessante. O estado tinha tentado comprar a COSEC em Julho do ano passado, o que poderia ser entendido como uma forma de passar $$ para os suspeitos do costume. Estranhei o facto do estado ter desistido desta compra no inicio deste mês. Agora fica mais clara a razão dessa desistência. Já não é necessário comprar a COSEC. Fiz um pequeno resumo deste assunto em: http://www.tretas.org/COSEC

  3. Carlos Fonseca says:

    Caro Helder Guerreiro, efectivamente se os pagamentos ficam garantidos através da linha de crédito de 2009, a compra da Cosec é negócio desnecessário. Cedo ou tarde, acabamos por perceber.

  4. Rui Sá says:

    A sua teoria é deveras interessante, só peca por ser desmentida pela realidade já que nesta fase só vão ser pagas dívidas a PMEs (até 10 M$), para uma 2ª fase ficaram as dívidas entre 10 e 50 M$ e as grandes dívidas (acima de 50 M$), nas quais se icluem as dívidas às grandes construtoras que refere, ficaram para uma 3ª fase, ou seja lá para as calendas gregas.

    Isto vem referido na própia notícia do i que cita, portanto omiti-lo e construir toda uma teoria que é desmentida pelo próprio artigo em que se baseia, só revela desonestidade intelectual…

  5. Carlos Fonseca says:

    Sr. Rui Sá, conheço demasiado bem Angola e os esquemas angolanos para acreditar piamente naquilo que o Presidente local diz. De facto, com 26 anos como responsável de comércio internacional, aquilo que os jornais dizem não é o que, na prática, se passa. São meros adornos as promessas à PME’s. Um outro facto que me leva a pensar que a notícia do “i” não é totalmente fidedigna é o montante da dívida citado. São 2,5 milhares de milhões de euros e não 1,7.
    As promessas do corrupto Eduardo dos Santos para mim não têm credibilidade. Talvez a tenham para empreiteiros e afins.
    As dívidas angolanas a Portugal já são uma história antiga, com início em Durão Barroso como Secretário de Estado da Cooperação. O que é feito da Califa, da Teobar e de muitas outras empresas que se deixaram embalar em promessas?

Trackbacks

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