A ideia de construir uma mesquita no Ground Zero, muito perto do local onde se erguiam as Torres Gémeas, só pode levantar polémica e despertar acesas discussões. Ainda bem que assim é.
Entre os vários argumentos apresentados, os defensores da mesquita salientam que a sua existência melhoraria o diálogo inter-religioso e ajudaria a lançar pontes entre as comunidades que professam outras religiões e as muçulmanas e islâmicas. Alguns líderes religiosos entendem que a solução deverá ser encontrada através do diálogo com as famílias dos mortos em 11 de Setembro, enquanto outros vêm aqui uma oportunidade de cimentar o que designam por macro-ecumenismo.
Por outro lado, o coro dos opositores afirma tratar-se de um ultraje e de uma chapada na cara dos nova-iorquinos. Há, inclusivamente, quem compare a construção da mesquita com a inauguração de um memorial a Hitler em Auchwitz ou com o estabelecimento de um centro cultural japonês em Pearl Arbour. Algumas vozes acusam os promotores da iniciativa de provocação e referem que estes pretendem reescrever a história.
Uma busca através do Google pela imprensa americana faz-me concluir que a ideia tem mais opositores do que apoiantes, sendo alguns artigos bastante violentos. Mas, digo eu, se a mesquita se concretizasse e alguns rancores fossem ultrapassados, estaríamos perante um exemplo de democracia, tolerância e respeito pela liberdade religiosa, valores que o ocidente afirma praticar. Mais importante ainda: seria dada uma forte machadada nos argumentos de muitos grupos fundamentalistas e nos discursos que, em ambos os lados, retiram a possibilidade de cada um respeitar o outro com base nas suas escolhas culturais e/ou religiosas.
plenamente de acordo, seria um gesto de uma grande beleza poética e em nada desonraria quem lá perdeu a vida. Pelo contrário, seria uma forma de dizer às famílias das vítimas que o administração americana aprendeu com os seus erros e que aquelas mortes não foram em vão.
Era o mesmo que plantar o estádio do dragão em plena catedral. Era, como a diz a Carla, uma lição à administração americana e às vítimas que não deveriam estar ali a trabalhar!
Desculpa; Luís, não percebo o que queres dizer com isto. Ironia?
Ironia, muito triste. Eu não percebo como é que se vê no ataque às torres uma lição ao Bush. Foi uma lição definitiva a quem morreu miseravelmente, inocente.
Eu não acho que tenha sido uma lição ao Bush. Acho que foi a consequência de um conjunto de acções dessa e de anteriores administrações. Isto não significa que seja aceitável ou justificável, como é evidente. Mas já está na hora de se perceber que acontecerá sempre o mesmo enquanto se pretender acabar com a violência gerando mais violência.
O problema é que não vemos habitualmente o sofrimento que os EUA e os seus aliados levam a outras partes do mundo, mas pudemos ver até à exaustão o que aconteceu nas torres gémeas. Mas os extremistas não estão só do lado de lá.
Este poste não é sobre isso, Luís. Trata-se, pelo que li, de construir uma mesquita – além de outros “equipamentos” – num edifício perto do local onde ficavam as Torres Gémeas. A questão que os americanos discutem é sim ou não e as razões das respostas. Se não fosse a delicadeza e o melindre do local o assunto seria “pacífico” à luz da liberdade de culto, da livre iniciativa e da livre associação. O simbolismo do lugar potencia a radicalização de posições. Mas potencia para os dois lados. Tenho para mim que se for sim (pelo que vi vai ser difícil que assim seja) os nova-iorquinos podem dar uma resposta de luva branca aos intolerantes que os acusam, entre outras coisas, de serem …intolerantes.
Concordo, Carla.
Sim, eu percebi isso!
O que vi de mais bonito no tempo da expo98 foi um espaço de culto onde, debaixo do mesmo tecto, gentes de várias religiões dedicavam algum do seu tempo à oração. Dava para perceber que católicos por lá passavam pouco mas quantas vezes fiquei ali em silêncio a acompanhar visualmente outros. Era um open space simples num sítio discreto que se tornou paragem obrigatória de final de dia. Foram quase 4meses de partilha e aí percebi que é mais o que nos une do que o nos separa.
Seria excelente a construção dum espaço desses, podia ajudar a devolver a paz a muitos corações.
Eu não sou religioso, Maria, mas as religiões existem e estão aí, não sou do género de tapar o sol com uma peneira ou de decretar que são todos idiotas, como vejo afirmar por aí. O mínimo que podemos desejar é que coabitem entre si e respeitem os não-crentes. E vice-versa.
Nem mais , Pedro, há muito que estou nessa. Mas como já ouvi dizer que a única vítima dos ataques suícidas em Londres e em Madrid, tinha sido o rapaz brasileiro que o polícia matou, já estou por tudo.