educação, escola, aprendizagem,ensino e a selecção portuguesa

minha neta May Malen Isley, aprende a ler

Estava feliz de ver a nossa selecção jogar. Estava certo que iamos ganhar, com bendeiras e todo nod meus terraços. Grande desilusão. A defessa foi excelente, ou a equipa contraria nos enchia de golos. Para me consolar, o melhor é a escrita. Apesar de estar certo de ganhar todos os próximos encontros. Therefore, Darling May Malen I.Isley, my best grand-daughter, so far, a story for you…in Portuguese this time…

A educação não remete apenas para a escola. Se o sentido corrente da palavra educação e as próprias ciências da educação, tantas vezes, remetem o ensino e a aprendizagem para o domínio das aulas e das escolas, a verdade é que a antropologia há muito que faz notar que a escolarização dá às crianças e jovens apenas um pequeno contributo para a inculturação e construção identitária.

” Aprender, recordar, falar, imaginar, tudo isto é possibilitado através da construção numa cultura” (Bruner, 2000: 11). E a criança não cai de pára-quedas na escola. A criança que chega à escola já tem todo um percurso de construção cultural que lhe dá um entendimento para a vida e uma epistemologia com a qual se senta como aluno nas cadeiras da escola (cf. Iturra, 1990 a e b):quando falo de aprendizagem, falo da incorporação no grupo social dos novos membros que nele nascem. Esta incorporação faz-se segundo a memória que existe já no conjunto das pessoas, e por diversas vias. É na escola que se pensa, quando se fala em aprendizagem. (Iturra, 1990 a: 51).

Eu próprio dou conta, para o contexto português, das continuidades e descontinuidades culturais entre a escola e o lar tão diversas para os diferentes alunos que frequentam a escolaridade obrigatória: “Uma propriedade essencial da aprendizagem é que as hipóteses de sucesso são determinadas pelo saber já adquirido e disponível. Ora, se o aluno cujos conhecimentos e aptidões adquiridos no meio de que é proveniente diferem profundamente dos dinamizados na escola, terá escassa probabilidade de poder efectuar a ligação entre estes e o seu próprio saber, condição indispensável da aprendizagem. Para além da diferença entre culturas orais e letradas há outras que passam por taxonomias várias: rural/urbano, identidades e peculiaridades dentro do próprio rural e urbano, diversidades étnicas, etc.” (Vieira, 1992: 134).

Portanto, estudar os processos educativos não é sinónimo de estudar o ensino e a aprendizagem na escola. Jerome Bruner, que tem viajado da psicologia cognitiva para a psicologia cultural e que tem assim feito uma grande aproximação à Antropologia, numa obra dedicada à cultura da educação, diz que ” os tempos de mutação que são os nossos vêm marcados por fundas conjecturas sobre o que devem fazer as escolas em favor de quem se inscreva ou seja forçado a inscrever-se nelas? Ou, na mesma ordem de ideias, sobre o que podem as escolas fazer, dada a força de outras circunstâncias.  Se alguma coisa tem ficado cada vez mais claro nestes debates é que a educação não tem que ver propriamente com assuntos escolares convencionais, tais como currículo, níveis ou sistemas de prova. O que resolvemos fazer na escola só tem sentido quando considerado no contexto mais amplo daquilo que a sociedade pretende atingir por meio do investimento educativo dos jovens. A sua tese central (do livro Educação e Cultura) é que a cultura molda a mente, que ela nos apetrecha com os instrumentos de que nos servimos para construir não só os nossos mundos, mas também as nossas reais concepções sobre nós próprios e sobre as nossas faculdades. A vida mental é vivida com os outros, forma-se para se comunicar e desenvolve-se com a ajuda de códigos culturais, tradições e por aí adiante. Mas isto ultrapassa o domínio da escola. A educação não ocorre apenas nas aulas, mas à volta da mesa de jantar quando os membros da família fazem o confronto de sentido de tudo o que aconteceu ao longo do dia. (Bruner, 2000: 9-11).

Também a “revista europeia de etnografia da educação”, um periódico da SEE ou Sociedade Europeia de Etnografia da Educação, fundada em 1999, no colóquio de Lecce (Itália) fala da passagem da formulação “etnografia escolar” para “etnografia da educação” para dizer que não se limitam às investigações na instituição escolar mas a todo o campo educativo entendido com fenómeno social global.

Por isso falo da educação entre a escola e o lar. Por isso digo que o sucesso e o insucesso escolar são construídos socialmente (cf. Vieira, 1992). Por isso “a escola tem primeiro que investigar muito a sério as categorias culturais do povo local antes de ensinar o conhecimento da burguesia que não diz respeito ao entendimento de uma mente que crê” (Iturra, 1990b: 97). Por isso defendo a construção de professores capazes de agir interculturalmente e de construir pedagogias interculturais.

Referências bibliográficas

BRUNER, J. (2000). Cultura e Educação, Lisboa: Ed. 70.

ITURRA, Raul (1990 a). Fugirás à Escola para Trabalhar a Terra: Ensaios de Antropologia Social sobre o Insucesso Escolar, Lisboa: Escher.

ITURRA, Raul (1990 b). A Construção Social do Insucesso Escolar, Lisboa: Escher.

VIEIRA, Ricardo (1992). Entre a Escola e o Lar, Lisboa: Escher.

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