Uma francesa imbecil

A directora de uma escola francesa proibiu um menino português de entrar com uma camisola da nossa selecção.  É ler no Expresso, tal como a bela carta que o nosso embaixador em Paris endereçou ao miúdo.

Estranhará quem não conhece o chauvinismo gaulês, a forma como sempre desprezaram os nossos emigrantes, e o mau perder que a tantos caracteriza, cá e lá.

É um bom aviso para os que entre nós maltratam imigrantes, nomeadamente os brasileiros que espero fiquem cabisbaixos amanhã, esquecendo que cada vez mais os portugueses se tentam desenrascar emigrando e sujeitando-se a estas imbecilidades. A xenofobia é sobretudo uma imbecilidade, mas quando mete miúdos ao barulho ultrapassa a simples connerie e dá-nos vontade de ter a senhora pela frente para lhe despejar algumas frases da bela língua francesa, adivinhem quais.

É não perceber que o futebol é só um jogo, sobre o qual dizemos disparates, que nos faz explodir de alegria e conter de raiva, mas apenas e só um jogo.

O Mathis Araújo tem cinco anos. Está a aprender cedo, muito cedo, uma lição de vida sobre o estranho mundo dos adultos. Resta-me lamentar que a selecção francesa já tenha regressado a casa. Bem se podiam cruzar connosco: 7 a 0 ia ser pouco.

Comments

  1. Dario Silva says:

    Uma t-shirt futeboleira adquiriu, por estes dias, uma conotação burkesca lá por França. Normal, portanto.

  2. mjrijo says:

    Há idiotas em todo o lado, pena é pelos vistos não haver leis decentes por lá, para meter essa senhora onde deveria estar: no olho da rua.

  3. Tito Livio Santos Mota says:

    Uma boa chamada à realidade para todos quantos andam esquecidos do quanto se desprezaram os portugueses em França, até há bem pouco tempo.
    “Porcos”, “reproductivos como coelhos”, “preferem viver no bairro da lata para poder comprar Mercedes”, “maus colegas, sempre do lado do patrão”, “falam em língua de trapos e não se percebe nada do que dizem”, “a cozinha deles cheira a peixe podre”, “falam aos gritos”, “metem medo, eu nunca passo pelo bairro dos portugueses”…
    E outras graciosidades que se ouvia por cá a cada canto.

    Hoje outros bodes expiatórios de rancores e invejas mesquinhas, substituíram os “tuga”, neste género de paleio e o famoso “tuga” (ou “tos” ou “portos”) até nem fica atrás dos franceses na chacota racista, provavelmente para esconder a si próprio que o mesmo disseram dele próprio, tempos atrás.

    Servem portanto estes exemplos de profilaxia contra os esquecimentos.
    Em terra de queijos, há infelizmente muitos que não comem o suficiente (queijo).
    Depois acordam assarapantados com estas notícias.

    Ainda existe em Paris, perto da Porte Maillot, um muro a que se chamou “muro dos portugueses” e que servia para esconder o bairro da lata, a quem passava no “Périféric”.

    A memória faz muita falta.

    Tito Lívio Santos Mota (emigrante com memória mas sem rancor)

  4. Nuno Castelo-Branco says:

    Entre um “présidã” imbecil e milhões de outros imbecis que por lá medram há séculos! Manias das grandezas… que saem caras!

  5. Tito Livio Santos Mota says:

    Li no Lusojornal que militantes do PSD foram fazer carinha laroca ao Sarkozy.
    Pergunta : mas que tem a ver o PSD (de Centro Direita) com a UMP (de Direita extrema, pelo menos na prática)?
    Mais outros que, ou não percebem nada de política, ou têm a memória curta, ou, o que é mais provável, são como os franceses que votam Lepen para poderem dizer diante do espelho, na casa camarária a cair de podre com renda por pagar por causa do desemprego : “eu, pelo menos, não sou árabe, não, sou francês, um bom francês, muito superior, claro”.

    é assim a mediocridade. Em vez de querer elevar-se, procura mais baixo que si para sentir a superioridade que o engenho jamais lhe trará.

    Triste!
    Triste para o PSD que, por enquanto, ainda é um partido democrático e respeitável, ao contrário da Sarko-UMP da bandalheira.
    Mas, quando se vê a inépcia do Cavaco e se lembra aquela tirada da Manuela F. Leite sobre os ucranianos, talvez fosse bom os militantes do PSD andarem prevenidos antes que lhes aconteça uma desgraça igual à da direita francesa.

    Quem te previne, teu amigo é.

  6. Nuno Castelo-Branco says:

    Bem, Tito, quem promoveu Le Pen foi o amigo do dr. Soares, o sinistro, mortífero, manipulador e insondável sr. Mitterrand, ansioso por quebrar a espinha à direita clássica. Saiu-lhe furada a dita contabilidade, pois apenas conseguiu que o PC dos banlieu se passasse com armas e bagagens para o front National (de 20%, o PC caiu para os 5%, enquanto ao N passou facilmente a fasquia dos 12%). Coisas dos anos 30, mais uma “estória” à Molotov-Ribbentrop, mais uma “vichysoise” que como se sabe, repescou bastantes PC’s, entre os quais o sr. Jacques Doriot…

  7. Tito Livio Santos Mota says:

    é, mas eu falava das motivações de quem tem reacções racistas e está ou esteve na mesma situação que os visados.
    há em Vichy uma placa que todos deviam ler.
    Foi afixada na parede da ópera, onde se reuniu a derradeira assembleia nacional da III República.
    Tem o nome e os partidos de quantos votaram contra Petain.
    Há-os de todos os partidos, da direita como da esquerda.
    Mas o que é mais gritante é quando comparamos com o número de votantes a favor e se sabe que a maioria da assembleia era de esquerda.

    Por isso me preocupa tanto as actuais derivas da direita europeia. Eu, que sou de esquerda. Mas, antes de mais, democrata e profundamente democrata (gabo-me disso).
    Ora, não há democracia sem oposição. Mas também não há democracia sem gente decente.
    Sempre houve direita e esquerda indecentes.
    O que é perigoso é que hoje a direita e a esquerda decentes tem tendência a desaparecer (Blair, etc.), sendo que a direita com maior velocidade (Sarkozy, Berlusconi, gémeos polacos, etc.)
    E olhe que nem sequer sou centrista, nem apologista do centro (cujo ficou bem retratado no “just millieu” do famigerado Guizot)

    Se o PSD português começa a namorar a UMP sarkozysta não vejo diferença nenhuma com a deriva dos sindicalistas portugueses em direcção do stalinismo nos anos 30.
    Já basta sentarem-se na mesma bancada em Estrasburgo. Coisa que não tinham obrigação nenhuma de fazer.
    Mas devem ser coisas do meu ex-camarada Durão, que pelos vistos, só mudou de partido mas não de opiniões.
    Apraz-me pensar que eu mudei, ou melhor, voltei às que tinha antes de frequentar tal seita.

  8. Nuno Castelo-Branco says:

    Assim já compreendo melhor. Para nem sequer referir a triste figura “miston” presidencial que se refastela no Eliseu – Napoleão deve estar fulo! -, basta salientar aquilo que o Tito refere: a mediocridade, para não dizer pior, da actual “classe política” que da esquerda à direita pontilha todo o espectro partidário. Ainda há uns meses, assisti a um debate da TVE, onde calmamente falavam Carrillo e Fraga. O tema era a transição. Homens que estiveram em lados opostos de 1936-39, com percursos de vida também opostos, mas que souberam compreender a história de que foram protagonistas. A quantos anos luz estão de gente como Aznar e Zapatero…! Quanto a Portugal, nem sequer valerá a pena perder tempo com “eles”. Comparando, o “m’siê” Guizot era um génio!

  9. Tito Livio Santos Mota says:

    Pois!

    Mas sabe uma coisa? Aprendi a ser tolerante bastante sedo e houve duas experiências que me não deixariam deixar de o ser.
    A primeira é o facto de vir duma família quase exclusivamente anti-salazarista e ter tido a surpresa de descobrir que, depois do 25 de Abril, cada qual foi para o seu canto político com a maior naturalidade, uns para a esquerda, outros para a direita, outros para o centro.
    A segunda foi o facto de ter conhecido em França muito boa gente de direita que deu o “coiro” pela democracia e pela tal “pátria” de que os inimigos da dita cuja tanto gostam de encher a boca.
    Mas é a tal coisa, em política, quanto mais se fala duma coisa menos se tem a intenção de a por em prática.

    Petain e Salazar só falavam em “Pátria”
    Lepen só fala de democracia e de liberdade e até de “racismo anti-francês”, o que é grande obra dialéctica, como diria o Lenine.
    As Repúblicas do Leste europeu eram todas “democráticas” e “populares”
    Os “gaulistas” à moda do Pompidou ou do Chirac, chamam aos seus partidos “Rassemblement” para melhor dividir o país em dois blocos.
    (o De Gaulle, quando o Pompidou ganhou as eleições, disse ao seu secretário: “Perdi as eleições”, lol)

    O Sarkozy fala de “états généraux” disto e daquilo, mas acaba sempre por apenas fazer o que a sua mentecapta privativa lhe concede.
    (Depois de impor o Domenec, diz que vai fazer o “états généraux” do futebol. O anão até o futebol francês diz que vai salvar. Enfim, só se for salva-lo dele próprio, mas adiante…)
    etc.

  10. Nuno Castelo-Branco says:

    Pois, o meu caso é semelhante. No dia 27 de Abril de 74, o meu pai levou-me a dar uma volta por Lourenço marques, “espionando” os edifícios do Estado. Era o aniversário da minha mãe e ela estava danada, porque precisava de ajuda para a festa. Mas lá fui dar o giro. Quando regressámos, o meu pai abanava a cabeça, dizendo:
    – “Dentro de dez anos, tudo estará na mesma m… de sempre!”

    A minha mãe, incrédula:
    – “Porquê?”

    – Porque, 16 anos de terrorismo e desastre na 1ª república, 48 anos de PIDe e “disto” que agora acabou e… nada mudou, nem em termos simbólicos. Imaginas a suástica a flutuar na Berlim de 1946? Pois aqui, continua tudo como se nada se tivesse passado. Para que as pessoas percebam que algo mudará, é preciso limar algumas coisas!”

    Tinha razão. Quase um miúdo na eleição do Delgado, teve a ousadia de estar com o meu avô na contagem dos votos e em L.M. foi o único sítio – que eu saiba – onde não houve manipulação. Simpatizante da Causa Monárquica, “visitante” forçado da PIDE-Moçambique desde os 18 anos, nem pode imaginar que diz de tudo isto pelo que estamos a passar. “Eu bem dizia”… ou, “esta gente não aprende!”, para ficarmos por aqui.

    Em França, o edifício bonapartista está a ruir como um castelo de cartas. Vê-se. A ideia de ter o Rui Santos como Chefe do Estado, bem pode estar no nosso horizonte ;)…

  11. mjrijo says:

    Luís Moreira :
    Com os caracóis?

    Engano: caracóis à algarvia, ver em 14.6 a receita…devem ser bons

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