A morte de Saramago parece ter acordado ódios, rancores e invejas que jaziam latentes e adormecidos.
Escrevem-se artigos, fazem-se comentários em blogues, circulam e-mails que, como dizia Almada, se são portugueses me fazem desejar ser espanhol. Morar em Espanha é, aliás, uma afronta que muita gentinha não perdoa a Saramago. Ontem, um post num blogue a que não faço o favor de linkar deixou-me triste, muito mais triste do que revoltado, com a pequenez de alguns conterrâneos meus contemporâneos, com a maldade verrinosa perante alguém cuja obra lhes é indiferente e desconhecida, ainda que a ela depreciativamente se refiram.
Saramago era um homem perfeito? Todos sabemos que não, de homens perfeitos estão os céus e restantes paragens vazios.
Mas gente que não escreve quatro palavras seguidas sem dois erros ortográficos de permeio perora sobre o escritor e sua escrita.
Tipos que têm de Deus a imagem de um velhinho de túnica e barbas brancas sentado no cocuruto do universo, zelosamente velando por eles, dissertam sobre a falta de fé de Saramago.
Católicos convictos comparam a cremação a um acto de fé tardio e desejam que arda eternamente no inferno, sem remissão nem perdão.
Acríticos defensores das virtudes do neo-liberalismo chamam-lhe traidor por ter decidido atravessar fronteiras e habitar outro país.
Filhos que venderiam a mãe por três tostões acusam-no de avidez e ganância.
Indivíduos a quem não se compraria um carro em segunda mão falam do seu sucesso como produto, apenas e somente, de bem sucedidas campanhas de marketing.
Patetas que se curvam de inveja e bajulação perante um vencedor do terceiro prémio do totobola desdenham o Nobel de Saramago.
A lista continuaria se a mim próprio não agredisse.
Triste país, tristes filhos, fraca gente, alegre falta de escrúpulos e de vergonha.
Pedro, tens toda a razão há gente que fervilha de ódio contra Saramago, tenho recebido e-mails inenarráveis. Saramago é um português ilustre, Prémio Nobel, com livros traduzidos em muitas línguas. Continuarei a lê-lo como fiz até agora, essa é a melhor homenagem que se lhe pode fazer.
…Pedro,isso que escreves…é,o negativo de uma foto, tirada a todos nós…nem sei se haverá excepções!!!!
Não é motivo de preocupação, Pedro. A Lua incomoda-se com o ladrar dos cães? Não é precioso endeusar o homem nem fingir que não tinha defeitos, nem concordar com a sua visão política do mundo, basta lê-lo e apreciar a sua criatividade. A obra de Saramago caga nesses gajos todos e nas futilidades que escrevem, que de resto acabarão por desaparecer deste éter internético em que imprimimos caracteres provisórios, ao invés dos livros que Saramago deixou. São palavras que o vento leva, nada mais.
Saúde.
É a obra que interessa, como homem tinha defeitos e virtudes como todos nós!
“preciso” em vez de “precioso”
É isso tudo, A. Pedro Correia. Os cães ladram e a caravana passa. Mas custa, é deprimente. Ver gajos que nem escrever sabem, mandar bocas fedorentas sobre Saramago. Gajos capazes de vender a mãe, falarem de ética e coisas afins. Triste país de lorpas e imbecis.
Deixem lá as cinzas no jardim, que os cães precisam de sítio para mijar.
Não se pode falar neles sem que cá apareçam, não é, A. Lopes?