A fraude é outra, é a oportunidade de emprego

Conta-se no Ionline que existem fraudes nos processos RVCC, ditos de Novas  Oportunidades.

A D. Filipa Martins, que escreve na referida publicação descobriu a pólvora:

Quatrocentos euros.

Valor pedido por Paula Duarte, num curto contacto telefónico, por um Portefólio Reflexivo de Aprendizagem que dará acesso ao 12.o ano. “Mas tudo é negociável”, garante ao jornalista do i – que se identificou como possível comprador – e acrescenta, “no ano passado, pedia 500 euros, mas agora com a crise…”. Paula Duarte, à semelhança de várias dezenas de pessoas, pôs na internet um anúncio de venda de portefólios para as Novas Oportunidades.

Vamos por partes: a pólvora também não foi invenção minha, mas bastava ter lido este texto sobre as fraudes mais comuns nos processos de RVCC, aqui publicado em Julho do ano passado, e já faziam os foguetes.

Há contudo uma pequena novidade, na peça do I: a de que a ANQ teria dado uma orientação no sentido de se ter cuidado nos CNO’s (Centros Novas Oportunidades) com os plágios e afins. Trabalhei durante 3 longos, custosos e penosos anos na nobre missão de certificar analfabetos funcionais (e não só, convenhamos) com o 12º ano de escolaridade, e nunca ouvi falar de tal nota. Claro que em formação todos os membros das equipas pedagógicas aprendem que o copy/past só certifica a competência de seleccionar informação, e nem sempre, mas isso é de senso comum.

O problema não está aí. As fraudes só passam porque as equipas deixam. E as equipas deixam porque têm metas para cumprir, pairando sempre sobre a sua cabeça a ameaça de encerramento do CNO. Estamos a falar de pessoal maioritariamente contratado (agora menos a recibo verde, é certo) ou sem componente lectiva na escola onde está colocado, e do ou cumpres ou ficas desempregado.

A fraude é essa. O resto, em americano, são amendoins.

Comments

  1. Anabela Costa says:

    Caro João Cardoso

    Lamento a sua experiência e aprendizagem profissional (e pessoal). Lamento sobretudo o preconceito negativo generalizado acerca dos procedimentos realizados em contexto de “novas oportunidades”, tão espelhados na generalização e mau jornalismo da notícia a que se refere. Lamento ainda, que o mau desempenho de uns (pelo que o Sr. aqui refere, da sua experiência) prejudiquem a imagem daqueles muitos (milhares) que ainda têm brio profissional, bom-senso e trabalham horas sem fim (muitas mais do que as que são pagas nos recibos verdes, mas o mundo laboral actual é mesmo assim!! Acordemos!!) para manter o equilíbrio entre a quantidade e a qualidade!
    Sim, (surpresa!!!)Porque a qualidade existe! Porque não somos todos “farinha do mesmo saco”! Porque acreditamos que podemos trabalhar bem!!! Porque acreditamos que de facto as pessoas têm competências que foram adquiridas ao longo das suas experiências de vida! Porque acreditamos que se não as adquiriram não as podemos validar, logo apostamos noutras alternativas! Porque temos consciência de que o sistema está longe de ser perfeito, sobretudo com os actuais cortes orçamentais, mas mesmo assim, exploramos as alternativas que existem da melhor forma. E acima de tudo, porque temos consciência que a nossa forma de estar e de respeitar define a nossa postura na vida enquanto PESSOA.
    É desta forma que se trabalha em muitos (dos que conheço) Centros Novas Oportunidades.

    Votos de melhores experiências profissionais,
    Abraço
    Anabela Costa

  2. Não ponho em causa o profissionalismo dos meus colegas: critico um sistema montado para a propaganda política e a harmonização estatística comunitária.
    A Anabela acredita que 1 milhão de portugueses adquiriram competências aos longo da vida que justifiquem a certificação do 9º ou do 12º ano?
    Eu não. Com boa vontade digamos que 250 000 portugueses deviam ter feito um processo de RVCC com sucesso. Falo do Portugal onde o analfabetismo ainda existe, do Portugal dos 3 diários desportivos e das várias revistas Maria, do país onde a maioria dos empresários não tem o ensino básico. Ou sejam do Portugal com que trabalhei.
    Ora os CNO’s têm todos as mesmas metas percentuais, feitas a partir da grande meta de oferecer um diploma e um pc a um milhão de portugueses.
    Essa é a grande fraude. Injusta sobretudo para os 250 000 que ficam com um diploma de que toda a gente se ri, mas que bem o mereceram.
    E não há decência Anabela, quando a sentença de morte aos Cursos EFA acaba de ser assinada.
    Fui formador de dois CNO’s, e comecei voluntariamente. Profissional e humanamente foi uma experiência gratificante e enriquecedora, não fossem as metas e a ausência de alternativas. Agora deixem-me voltar a exercer uma actividade honesta e saudável: ensinar.

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