Eleições Presidenciais: Brasil deve ter a sua primeira Presidenta da República a partir de 2011

Por PEPE CHAVES*

As eleições presidenciais de outubro de 2010, no Brasil, remontam um panorama inédito: a eminência de se eleger a primeira presidenta da história. No final de agosto, pouco mais de um mês antes das eleições, uma pesquisa do instituto Datafolha apontava uma diferença superior a 20% em favor da candidata do PT (Partido dos Trabalhadores), Dilma Rousseff, sobre o segundo colocado, José Serra, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

Indicada pelo presidente Lula para sucedê-lo, Dilma Rousseff, trabalhou como chefe do Gabinete Civil em seu governo, ocupando um dos cargos mais importantes e cobiçados do primeiro escalão. Dilma é mineira, formada pela UFMG, uma das principais universidades do país, mas viveu a maior parte de sua vida no Estado do Rio grande do Sul, onde se casou e teve filhos.

No Brasil, Dilma é vista como uma “ex-guerrilheira”, que lutou em prol do comunismo contra a ditadura militar nos anos 60 e 70, inclusive, pegando em armas, se embrenhando na mata, sofrendo perseguições e usando vários “nomes de guerra”. Ela participou de grupos da guerrilha armada, acusados de promover sequestros, assaltos e até mortes, em detrimento da luta contra a ditadura militar.

Presa pelo governo militarista naqueles anos de chumbo, Dilma diz ter sofrido agressões e torturas por parte dos milicos. Mas a Terra girou… Muitos da luta armadas e foram dessa vida, mas outros ficaram para contar as histórias. E hoje, nestes tempos democráticos, o cenário é outro: Dilma Roussef reaparece como uma fênix sobre as cinzas do seu passado sombrio e, talvez, vive agora um dos melhores momentos de toda sua vida política no limiar dessas eleições de 2010.

Apoiada pelo governo Lula e já faz algum tempo saiu em campanha não assumida (o que seria teoricamente impedido pela legislação eleitoral…) Lula ultrapassou José Serra rapidamente nas pesquisas. A surgir sempre ao lado do presidente Lula em aparições públicas, a candidata Dilma tenta agora absorver o mesmo prestígio arrebatado pelo presidente, que atingiu, segundo as pesquisas, níveis recordes de popularidade na história do país. Para tanto, Dilma galga sobre o largo lombo da máquina estatal domada pelas mãos de Lula e segue a prometer o continuísmo, a execução de programas e planos de governos implantados pelo correligionário petista, após receber um país economicamente planificado do (inimigo) governo anterior.

Um desses programas é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que consiste num verdadeiro ‘pacotão’ de bilhões de reais para aplicação em obras nas mais distintas regiões do país – diga-se, programa esse, duramente criticado pela oposição por suposto uso eleitoreiro por parte do governo. Em verdade, o PAC não decolou totalmente do papel, sendo executada, até então, somente parte das obras anteriormente anunciadas, o que se tornou também objeto de denúncias oposicionistas.

Outro ponto explorado por Lula e agora também por Dilma, tem sido a descoberta de petróleo na camada pré-sal do litoral brasileiro. Ainda que não haja atualmente no planeta, nenhuma tecnologia disponível para tão profunda exploração marítima, o governo Lula alardeou a descoberta e já traça plano e executa gastos com uma mera manchete. Este “cabo eleitoral” travestido de “galinha dos ovos de ouro”, conta, desde já, com cifras milionárias, além de planejamentos, até então, puramente oníricos. Tal comportamento, que mais tem a ver com um plano de marketing ostensivo, tem sido motivo para elevar à moral da estatal Petrobras no mundo, além, claro, de alavancar cabides de empregos; transferências de recursos destinados a “projetos”; além da criação de uma agência reguladora (Petrosal) para a suposta exploração. Tudo isso, sem que se retire antes, uma gota do óleo que estaria na camada pré-sal e o que é pior: sem se saber como isso seria feito.

Mas, de todas as “benesses” do Governo Federal, nenhuma foi mais bem recebida pelo povo e tão bem explorada politicamente como a “bolsa-família”, que consiste na distribuição de dinheiro público às famílias carentes devidamente cadastradas pelo governo. A bolsa-família é entendida por muitos como a maior jogada de marketing, não do governo Lula, mas do PT para se perpetuar no poder.

O fato de dar dinheiro, em vez de se empregar as famílias de baixa renda de todo o imenso território nacional, vem colocar na mesa de muita gente, a comida que estava em falta. Mas, evidentemente, também se tornou uma maneira de esta mesma população – que se constitui em quase a maioria votante do país e que vive à margem da sociedade – continue refém de um grupo político e assim, seguir elegendo àqueles que lhes trouxe tamanha benesse “gratuita”.

Nada de gerar empregos; nada de aplicar com eficácia políticas de despolarização da economia nacional; nada das prometidas reformas nos mais diversos setores da máquina social. O simples fato de o contribuinte pagar diretamente aos pobres, se revela como o pivô de todas as reeleições pós-Lula, até então.

É bom lembrar que o governo tido como o mais popular da história, também passou por maus pedaços, envolvido que esteve em tantos e grossos escândalos políticos de seus mais destacados integrantes, dos quais, o presidente Lula – teoricamente responsável por seus subordinados – escapou ileso ao alegar “não saber” de nada. E ainda assim, o presidente tem em mãos o poder de indicar ministros ao Supremo Tribunal Federal e, às vezes, até sai em campo para bronquear os ministros que o desagrada.

Junto com o governo Dilma, vem um temor por grande parte da sociedade: a volta da censura aos meios de comunicação, haja vista que esta, fora manifestada em diversas oportunidades pelos atuais mandatários. Basta dizer que temos no Brasil, atualmente, um jornal censurado. ‘O Estado de S.Paulo’, foi impedido judicialmente de abordar uma determinada operação da Polícia Federal que acusa de evasões de divisas o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney (hoje, aliado político de Lula). Além disso, o Plano Nacional de Direitos Humanos apresentado pelo atual governo, se trata de uma declaração de cerceamentos sociais à moda comunista e em nada contribui para um país como o Brasil dos tempos atuais.

Não foram medidas ou políticas eficazes que colocaram em destaque o governo Lula, mas sua popularidade se fez sob a esmola atirada aos pobres. Esmola essa, que consiste em recursos públicos repassados legal e oficialmente, pelo governo federal aos paupérrimos, imensa maioria do país, que não deseja outro presidente que lhe retire o dinheiro do qual se tornou eterno refém. Por isso, o continuísmo; por isso, o medo da população de que “mudanças” realmente incisivas e efetivas possam ocorrer num país, cuja economia herdada e então planifica, não fora sequer arquitetada pelo atual governo – que hoje faz tudo para se gabar daquilo que não foi ele que fez.

A impopularidade manifestada na falta de carisma das oposições ao governo federal, talvez, foi a maior aliada de Lula e Dilma nessa correria eleitoral. Nenhum candidato soube se colocar perante o povo (sim, este, que elege presidentes), se apresentando como uma nova opção; nenhum outro candidato apresentou qualquer outra opção, que ameaçasse o dito marketing petista. Verdade seja dita e sob nossos olhares crus, podemos dizer que não houve um plano de marketing por parte da oposição, que fosse capaz de superar a bolsa-família petista, que elegeu e reelegeu Lula e, doravante, deverá também, eleger e reeleger Dilma.

O candidato do PSDB, José Serra, que busca à presidência pela terceira vez, não soube se portar como um verdadeiro oposicionista e, mesmo se o fosse, o povo, já estava “comprado” pela bolsa-família. Serra demorou a escolher o seu vice, Índio, fato que caracterizou, na prática, a falta de uma identidade política à sua chapa. Em termos gerais, poucos conheciam o seu vice e não foi demonstrada anteriormente, a menor cumplicidade, seja ideológica ou política entre eles.

Além disso, mais uma vez, dotado de poder junto ao PSDB, Serra suprimiu outros membros do partido, potencialmente capazes de desenvolver uma candidatura genuinamente presidencial e que até poderiam alcançar níveis mais elevados de popularidade no atual pleito.

A terceira colocada nas pesquisas, Marina Silva (PSOL), ex-secretária de Meio Ambiente do governo Lula, também não teve chances na disputa. Diante do gigante PT, armado de suas metralhadoras feitas com aço da máquina pública, Marisa mais se aparentou a um pássaro fora do ninho, ocupado agora por pássaros de toda espécie.

A candidatura de Marina Silva, bem como as dos demais candidatos que constam atrás de seu nome nas pesquisas, foram campanhas frágeis, tímidas e com pouco poder de difusão e por isso, sem a menor persuasão social.

De acordo com as pesquisas, o panorama que temos, será mesmo uma vitória de Dilma Rousseff já no primeiro turno. Neste caso, curiosamente, a candidata Marina, que detém quase 10% do eleitorado, teria o seu apoio dispensado, tanto por PT quanto pelo PSDB, enquanto num eventual segundo turno, o mesmo poderia valer mais que ouro.

Enfim, eleições, bolsa-família, PAC, pré-sal, Lula, Dilma, Brasil, 2010… Fato é que pelo menos uma pessoa que passou pelo governo Lula, falou algo muito interessante, bem antes de ocupar cargo no poder, mas que cabe como luvas nesses momentos actuais: “trocaram o logus da posteridade, pelo logo da prosperidade” , já dizia nos anos 80, o ex-ministro lulista da Cultura, Gilberto Gil.

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br), em Minas Gerais, Brasil.

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