Carta da AAP

(Da Associação Ateísta Portuguesa, como associado, transcrevo a seguinte carta)

Prezados consócios:

A Associação Ateísta Portuguesa não pode deixar de congratular-se com a afirmação do eminente cientista inglês, Stephen Hawking, de que não há espaço para Deus nas teorias sobre a criação do Universo.

O cientista usado pelas Igrejas para mostrar que, à falta de argumentos, as crenças têm quem as defenda, exibiam a sua enorme inteligência com a beata insinuação de que os ateus não estavam à sua altura, como se isso provasse a existência do deus criado pelos homens e à custa do qual vivem as religiões. 

A afirmação de que o Big Bang foi apenas uma consequência das leis da Física sem qualquer papel de Deus, deixa os vendedores de ilusões mais sós. A teoria do professor Stephen Hawking surge no seu novo livro, intitulado The Grand Design, e contraria as posições assumidas anteriormente pelo cientista, que chegou a defender que a crença num Criador não era incompatível com a Ciência, num livro publicado em 1988.

A AAP reitera a sua satisfação pela conclusão de Stephen Hawking a respeito do Big Bang e subscreve as palavras de outro grande cientista e referência dos ateus, Richard Dawkins, a esse respeito: «Obrigado Hawking. Disseste alto e bom som o que todos nós já repetimos sem fim: deus não faz parte da explicação do mundo em que vivemos».

Saudações ateístas.

Carlos Esperança

Comments

  1. subscrevo o seu artigo mas… o Sr. Carlos tem Esperança, não tem?

  2. Walker says:

    Só me parece despropositado a necessidade de ser enviada uma carta aos associados a dizer-lhes que afinal a nossa ausência de crença pode ser comprovada cientificamente e finalmente temos um cientista para o comprovar.
    Por mim continuo a fazer uma e só uma pergunta.
    – E quem criou o Deus?

  3. Walker says:

    Só agora reparei no comentário de efe.
    Eu pela minha parte não tenho mas já tive era minha avó.
    E a única que tenho actualmente é a de que seja um grande boato, o que se diz do Rudolfo. A Rena.
    Se nós nada fizermos para atingir o que esperamos da esperança, para que é que serve a esperança?

  4. O guru stephen falou, o pessoal obedece

  5. Alfredo says:

    Pelo que já li do Stephen Hawking (pouco, apenas “Breve história do tempo” e “O universo numa casca de noz”) tenho um pressentimento que ele está a ser mal interpretado. O livro ainda não saiu, o que se conhece são citações feitas pela imprensa. Uma coisa que aprendi há muito é que é prudente desconfiar do respeito pelo contexto quando um jornalista faz uma citação. Em se tratando de um lançamento de um livro a desconfiança ainda mais se justifica, porque há sempre as manobras publicitárias por detrás que alimentam velhas polémicas.

    Neste contexto parece-me que teria sido mais avisado ter esperado pela publicação do livro e partilhar o entusiasmo baseado na sua leitura e não na opinião de terceiros.

    Uma coisa é dizer que não há espaço para Deus numa teoria científica (apanágio de todos os cientistas e não apenas de Hawking), outra coisa é provar a existência (ou falta dela) de Deus respeitando o princípio da refutabilidade, o principal conceito das Ciências Exactas. Esta última é impossível enquanto o objecto de estudo estiver fora do âmbito das Ciências Exactas.

    Eu sou de opinião de que quanto menos o deus dos Homens estiver presente na sociedade tanto melhor. O grande mérito de Galileu ao ter teorizado que a Terra se movia em torno do Sol e não o contrário não foi a teoria ter vindo a revelar-se correcta, mas sim ter posto em causa o sistema então vigente e ter estabelecido os alicerces do moderno espírito científico.

    Ao contrário de Galileu Galilei, Stephen Hawking não será julgado num tribunal, nem muito menos condenado, pelas suas afirmações. Naturalmente será criticado por pessoas que, no exercício do seu direito de opinião, discordem dele, mas isso é completamente diferente. Isto é um grande avanço em escassos quatro séculos de História. E felizmente este avanço tem mais intervenção humana que divina.

  6. Amigo Alfredo, aceito grande parte do que diz, sinceramente.
    A titulo de piada, ao acreditar-se nas crenças da Igreja, o Big-Bang já está comprovado à partida, pois eu li algures que alguém da Igreja dissera: Ah! Big-Bang…Pois, O Big-Bang é o “Fiat Lux”.

  7. Miguel says:

    Eu continuo sem perceber os dois lados…
    Se foi Deus quem criou o Universo, então quem criou Deus?
    Se foi o BigBang que criou o universo, então quem criou o BigBang?

    Ambas as questões são actualmente respondidas de forma igual mas com conceitos diferentes.

  8. Penso que as duas dúvidas estão bem colocadas. No entanto, em minha opinião, a primeira parte de um princípio que nada nem ninguém comprovou, em termos científicos (se foi deus…), ficando portanto fora da razão, e que parece nunca ser possível comprovar. Na segunda, tenha sido ou não o Big-Bang (tudo leva a crer que sim), há forte fundamentação científica de que algo semelhante tenha sido. Saber quem criou o Big-Bang, está na decorrência da investigação científica. À ciência não compete antecipar-se irracionalmente nem dar voluntariamente passos em falso, com soluções no ar. Cumpre-lhe, tão somente, a prova dos passos que vai dando.

  9. Alfredo says:

    Amigo Adão, gostei da piada mas naturalmente sabemos que há duas diferenças fundamentais entre a Big-Bang e o “Fiat Lux”. A primeira é que a Grande Explosão respeita o princípio da refutabilidade. A segunda é que o “Faça-se Luz!” é muito mais ambicioso porque não se preocupa apenas com o “como?”, que é apresentado na forma de uma metáfora, mas com o “Com que propósito?”, que está completamente fora do âmbito das Ciências Exactas.

    Se perguntar a um cientista “porque é que” a Terra se move em torno do Sol ele, para ser honesto, terá de responder que não sabe, embora saiba muito bem “como.” O relato bíblico da criação tem sempre subjacente um propósito que é a centralização do universo no Homem, mas o “como” deixa a desejar e quantos problemas não tem causado e ainda causa.

    A Igreja Católica tem dado passos significativos e que me parecem honestos em aceitar e conviver com o discurso científico (o exemplo mais notável talvez seja a aceitação do evolucionismo de Darwin), mas numa organização pesada a evolução é lenta. A Ciência também demorou algum tempo a libertar-se do optimismo racional e acolhe com respeito os contributos provenientes de outras áreas.

    As Ciências Exactas têm assistido nos últimos tempos a um relativo sucesso (em grande parte devido ao sucesso da Tecnologia – que não é mesma coisa que Ciência!) precisamente por o seu âmbito de estudo ter sido limitado. Esse sucesso é capitalizado pelos publicitários para venderem detergentes de eficácia cientificamente comprovada e dentífricos clinicamente testados, através de anúncios protagonizados por respeitáveis senhores vestindo a credibilizadora bata branca. Inferir estes sucessos para áreas que estão fora da esfera de acção das Ciências Exactas é uma falácia.

  10. Caro amigo Alfredo, nunca fui adepto do termo de ciências exactas. E também não faço qualquer distinção entre ciência e tecnologia, dado que esta é uma peça fundamental da ciência, e não só. Para mim, humilde cientófilo, por natureza, estou-me nas tintas para tudo o que está para além ou por fora da investigação científica e da razão. Apesar de ser um apaixonado pela mente, pelo mundo neurobiológico e por toda a esfera das emoções e dos sentimentos, da poesia e da beleza, por tudo o que há de mais belo no chamado “espírito” do ser humano, a minha paixão está dentro de uma concepção materialista, claro, o que nada invalida o mais nobre valor da essência humana. Não aceito de forma alguma que os passos da Igreja católica sejam honestos. Respeito mas com todo o respeito todas as crenças, venham elas de quem vierem, mas não tenho qualquer respeito pelo obscurantismo e por toda e qualquer manobra que pretenda atirar areia aos olhos das pessoas menos acauteladas, com a intenção de as cegar e daí retirar todos os lucros possíveis. Transcrevo parte de um texto , se não se importa, na tentativa de me fazer entender em matéria tão complexa:
    Vamos imaginar que um qualquer de nós, encontrando-se num qualquer ponto do macrocosmos, no seio do Universo, a milhões de anos-luz de distância, resolve vir por aí abaixo (ou por aí acima!) dar um passeio. Vai-se aproximando, aproximando, passa por triliões de estrelas e por outros tantos triliões de outros corpos celestes, e ao fim de biliões de quilómetros encontra uma pequenina bola de berlinde a que chamam Terra. Pára um pouco para pensar e chega à conclusão de que a Terra, afinal, é um pequeníssimo e quase desprezível grão de areia no meio do Universo, sem qualquer valor ou significado. Continua a viagem, aproxima-se, aproxima-se um pouco mais, e repara que sobre essa bolinha chamada Terra se mexe uma multidão de pequenos bichinhos chamados homens, a assistir a uma porrada de missas. Pára novamente para pensar e definitivamente se convence de que o Homem, afinal, não é, rigorosamente, o centro de nada. Vai-se aproximando, aproximando ainda mais até penetrar dentro do próprio Homem, onde depara com o tal microcosmos que deixei atrás, na minha descrição anterior. Conclui, então, pelo que lhe parece, que o Homem vive entre duas poderosas forças. Uma força antropocêntrica, que o atrai e o arrasta para a sua natureza, para a sua condição humana e para a sua esfera relacional, da qual não pode, de forma alguma, libertar-se, e uma outra força de sentido oposto e centrífugo dentro da permanente expansão do Universo, que tende a projectá-lo em cada momento na dimensão universal a que pertence. Nesta zona de divergência, nesta interface, na fronteira entre estas duas poderosas forças, reside, a meu ver, a verdadeira vida, a vida que procura fugir e transitar da sua natureza palpavelmente biológica, para um estádio que, sem deixar de ser material e biológico, cada vez mais se integra na natureza cósmica da sua origem-destino. Nesta zona de divergência, nesta poderosa interface reside, em minha opinião, a mente, a verdadeira ponte entre as duas naturezas, que o são apenas na aparência. E quem diz a mente diz o desenvolvimento mental, quem diz o desenvolvimento mental diz o desenvolvimento cultural, e quem diz o desenvolvimento cultural diz o desenvolvimento da expressão artística, talvez o maior vector humano nesta força de projecção universal. Toda a natureza humana muda e altera em cada momento as relações do seu microcosmos, podendo fazê-lo de forma negativa ou positiva, isto é, cortando ou abrindo as asas da mente. Só as alterações e mudanças que levam ao saldo positivo da mente permitem o salto positivo da mente, a travessia desta ponte, para além da qual se dá a verdadeira evolução do Homem, a que conduz ao equilíbrio da sua concomitante expansão como ser do Mundo e do Universo e à preservação da harmonia cósmica da nossa existência. Que tem deus do Universo, a ver com esta infinitesimal partícula, a ponto de se considerar este micróbio o seu filho dilecto, Ele o seu pai e rei, e o filho a razão de ser desse mesmo Universo. Rei da Terra e do Universo, pai de todos nós, com ministros e representantes na Terra, do calibre de Paul Marcinkus, monsenhor De Bonis, Castillo Lara e tantos outros, que apesar de “ministros de deus” são procurados pela justiça do homem.
    Qualquer cientista se ri e não encontra maior expressão do ridículo em lado nenhum.
    Se um cientista sabe como a Terra se move à volta do sol, mas não sabe porquê, só mostra honestidade. Lá chegará. Acha que deve ir
    ao Vaticano pedir que lhe expliquem?

  11. Alfredo says:

    Caro amigo Adão, comecemos pelo fim: eu tenho a profunda convicção que se um cientista quiser saber porque é que a terra anda à volta do Sol não deve ir ao Vaticano pedir que lhe expliquem, nem terá melhor sorte se perguntar aos filósofos ou aos poetas. Um técnico (eu faço distinção entre Ciência e Tecnologia) está muito melhor servido com a teoria heliocêntrica do que com a geocêntrica para prever marés, para colocar satélites artificiais em órbita, para colocar em funcionamento do GPS’s, etc, etc. O porquê não interessa. Para mim o pôr-do-sol resulta da rotação da terra, para o meu filho de seis anos é o Sol que cansado de tanto trabalhar durante o dia todo foi dormir (a teoria é dele, não fui eu que a impus, e está certíssima para o senso comum). Para um e outro há uma coisa comum: a beleza do espectáculo. E eu não tenho o direito de lhe destruir a magia; a contestação terá o seu tempo.

    Estamos de acordo que foi um erro grave deus ter delegado parte dos seus poderes aos homens. E ainda por cima foi sabidolas, vendeu o mesmo peixe mais do que uma vez, não foi só o Vaticano que comprou. Permita-me também fazer uma citação: “(…)o grande
    homem pode diminuir em anão quando o vírus do mando — ainda que seja
    nesga ínfima do poder absoluto — lhe invade o sangue e lhe atinge o
    coração.” (Jorge Amado, Navegação de Cabotagem). E certamente também estaremos de acordo que Deus, a existir, certamente terá coisas mais importantes com que se preocupar do que connosco.

    Eu também não gosto do termo Ciências Exactas, mas como tenho formação matemática fico abismado com o uso abusivo que se faz do termo “Ciência”, capitalizando os sucessos da Tecnologia. Eu uso o termo num contexto de humildade, para demarcar o limitado âmbito do nosso objecto de estudo. E aqui, mais uma vez, estamos de acordo ao estarmo-nos nas tintas para o que está fora dele. E deus e Deus certamente estarão. É por isso que mantenho o espírito crítico em relação à carta da AAP, o mesmíssimo espírito crítico que manifesto em relação às (supostas) provas da existência de Deus do Descartes.

    Não deixo de respeitar quem acredita numa divindade superior e quem o recusa liminarmente, mais até os últimos porque é muito mais difícil, mas mantenho a minha postura neutra porque o assunto “não me interessa”, e penso que deixei claro o que significam as aspas.

  12. Não imagina, amigo Alfredo, o prazer que me deu esta conversa consigo. Agradeço a sua seriedade e o argumentar desta maneira inteligente os meus argumentos, argumentos de uma pessoa que não pretende armar-se, de modo algum, antes se considera um permanente aprendiz deste complexo mundo que é a nossa ignorância.
    “Não deixo de respeitar quem acredita numa divindade superior e quem o recusa liminarmente, mais até os últimos porque é muito mais difícil, mas mantenho a minha postura neutra porque o assunto “não me interessa”, e penso que deixei claro o que significam as aspas.”
    Este seu último parágrafo resume tudo. Subscrevo-o inteiramente, excepto quando diz que a sua postura é neutra porque não lhe interessa. Quanto a mim, pelo contrário, interessa-me sobremaneira, como cidadão, pelo poder negativo que tem na sociedade. A minha postura não é neutra, porque o assunto me interessa e tomo posição inequívoca. Sou ateu, não por convicção mas por dedução lógica do meu esquema de pensamento, sou anti- igreja, não pelo seu conteúdo cristão, mas pela falsidade do seu conteúdo cristão, pelo obscurantismo imperdoável que pratica e cujo fim é a acumulação de bens terrenos que nada têm a ver com o céu de plástico com que pretende torcer a razão dos coitados deste mundo, sou anti-vaticano por ser o responsável pelo avesso escandaloso da doutrina de Cristo e constituir hoje
    o maior empório materialista do planeta.

  13. Alfredo says:

    Caro amigo Adão, o prazer desta conversa foi recíproco. Talvez seja por ambos termos respeitado o princípio de Voltaire “Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo.” e por termos estado muito atentos ao que o outro disse, em vez de esgrimirmos os nossos argumentos como se fôramos os donos da verdade.

  14. Mas, ao certo… sinceramente…estará a comunidade científica? o próprio Hawking? alguém? interessado no que pensa a AAP e o senhor Carlos Esperança? Há coisas tão ridículas que, de tão ridículas, até chegam a ser tristes… Exista Deus ou não exista deus, o que menos nos interessa é a opinião da Associação Ateísta Portuguesa…

  15. Com essa forma de pensar…porque razão há-de interessar a sua?

  16. Óbvio que a minha não interessa nada. Era aí, à relatividade das coisas que eu queria chegar. A AAP costuma fazer umas cartas todas pomposas que a poucos ou a ninguém interessa. Em último caso nem a crença interessa, mas é necessário avançar ciência. Agora cartinhas de amor à ignorância é que não valem nada.

  17. Ó Nuno, você diz que a sua opinião não interessa mas continua a emiti-la!

  18. Bem, que eu saiba a AAP também…

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading