Lautaro. Política indigenista. Bodes expiatórios

com um Lautaro líder, o povo Mapuche não era perseguido pelos Huinca

Gritam os Mapuche desde o centro do Chile: pulchetun… pulchetun… Esta palavra, na língua dos “hombres de la tierra: mapu-che”, quer dizer: faça deslizar a flecha mensageira. Para quem escreve, a mutação da palavra flecha é para chamar à atenção para mais uma das incontáveis dores que o povo originário chileno está vivendo. Desde o dia 13 de Março, um grupo de quatro pessoas, três delas Mapuche, vivem uma greve de fome. Passam mais de cinquenta dias e a situação chega a seu ponto crítico, visto que a partir do primeiro de Maio, os quatro decidiram nem beber água. A vida se esvai e muito pouco está sendo feito para denunciar o terror.

Os grevistas são prisioneiros do Estado, acusados de terem incendiado instalações de uma empresa florestal multinacional. A empresa é responsável pela destruição das florestas e da vida do povo Mapuche que é, afinal, o guardião de Mapu (a terra) e por isso, têm como responsabilidade cuidar de tudo o que fazem com ela. Mas, lá, no Chile, quem virou vítima é justamente quem destrói Mapu e não quem luta para proteger a vida.

Perante esta situação, apenas é possível gritar pulchetún, envie a flecha mensageira a Lautaro o para um como ele., nos tempos de hoje…podia salvar a Pátria e a Nação Mapuche, como fez o Lonco Lautaro no seu tempo – Rei em Mapudungum, a língua da terra em português.

Parece uma lenda mas é uma verdade que não se duvida. Duvidar da existência de Lautaro, e dos Lautaro de hoje, seria duvidar da forma heróica em que se defenderam os Mapuche do Chile da sua habitual liberdade Bem sabemos que o Chile foi a derradeira colónia organizada pelos conquistadores hispânicos, na hoje denominada América Latina.

 Foi fundada por Pedro de Valdivia apesar de ter ser descoberta antes por Diego de Almagro em 1535. Mas achou o país pobre e perigoso e não havia a riqueza em ouro que ele pensava encontrar. Bem se sabe que estes espanhóis não eram soldados, eram convictos espanhóis que andavam a pilhar. Valdívia não, era de profissão soldado do Rei da Monarquia Espanhola. Sabia o que fazia.

Após fundar Santiago em 1542, começou por percorrer o país e nada conseguia ver.Estava habitado maioritariamente pela etnia Mapuche, que sabiam bem andar dentro do mato sem fazer barulho, espertos em espionagem, em mentir se for preciso. Mas, também tinham medo, especialmente ao verem aparecer entidades de quatro patas, duas cabeças que não andavam: corriam! Sem parecer cansar-se.

O filho mais novo do lonco o chefe tribal da área de a hoje Santiago, antes o sítio de Curiñancu ou Negra Águila, teve curiosidade e começou a pesquisar entre estas coisas.Era apenas uma criança, donde permitida e apadrinhada pelos brancos ou huincas ou estrangeiros na sua língua, como já sabemos. Vivia uma vida normal de menino mapuche, sempre a brincar a guerra e a se preparar para a defesa de ataques e pilhagem não esperados de outros grupos clãnicos e os seus loncos. Não tinha 11 anos, quando foi feito prisioneiro por Valdívia perto da hoje cidade de Concepçión, fundada por Valdivia em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Foi levado a Santiago, já capital nesse ano de 1546, ano em que Levtaru ou Leftaru, o Lautaro em Castelhano, foi feito Yanacona ou carregador de pesos pesados para transportar esse imensos canhões que as tropas invasoras levaram consigo por caminhos ainda nem desenhados da pequena colónia do Chile.Passou a ser pajem de Valdívia e foram nesses lavores, que aprendeu que as temidas entidades eram seres humanos como ele e que o resto, eram duas coisas diferentes o cavalo e o cavaleiro que o montava. O Capitão Espanhol Marcos Veas teve simpatia pelo rapaz e lhe ensinara a andar a cavalo, a ler e escrever e como tratar dos animais para a guerra. Foi com Veas que aprendeu o uso das armas e tácticas de cavalaria. Todo era observado por Lautaro, baptizado como cristão com o nome de Felipe, quem perdera o medo ao cavalo, era um bom cavaleiro e a pouco e pouco, começara a transferir cavalos novos e armas para o seu lonco. Com grande segredo e sem dizer nada a ninguém.

Nas batalhas de Andalién e de Penco, perto de Concepción, Centro Sul do Chile, a primeira a 22 de Fevereiro de 1550 e a segunda a 12 de Março do mesmo ano, lutou junto aos espanhóis para aprender as suas tácticas de guerra e movimento de tropas. A luta de Lautaro era para aprender e defender aos seus, porque bem sabia ele que Valdívia capturava gente do seu povo, cortava os seus braços e mãos para no serem atados por eles e para os manter prisioneiros. A fama da crueldade castelhana era imensa, até o ponto de libertar grandes grupos de prisioneiros Mapuche para tornarem aos seus loncos sem um braço, sem mãos ou sem língua. Os Mapuche não tinham medo dos espanhóis mas crueldade dos seus capitães os tornaram furiosos e com raiva sem defesa contra os mesmos.

Foi Lautaro que, ao fugir após a sua aprendizagem dos hábitos espanhóis e tácticas de guerra, ensinara aos Toqui ou chefes de clã, reunidos com os seus capitães Paicaví, Lemo Lemo, Lincoyán, Tucapel e Elicura hoje em dia todos nomes de rua ou cidades, que reuniam para saber como se defender dos castelhanos. A aparição de Lautaro e o seu ensino das tácticas castelhanas aos seus Loncos, fizeram que fosse elevado à hierarquia de Toqui ou chefe máximo dos Mapuche organizados em milícias para tempo de guerra e que fosse ele a comandar as tropas Mapuche divididas em vários sítios do Sul De Santiago, aprendendo esses antigos preguiçosos como lutar em grupos organizado e não em peloteras ou desorganizados ou em estrutura de rija em português, com ciladas e enganos, como está narrado no poema épico La Araucana, de Alonso de Ercilla y Zúñiga, de 1568, título do livro publicado na Espanha que levou a denominar Araucanos aos Mapuche. Canta os louvores de Lautaro e o define como o mais calmo, bem informado, excelente guerreiro, que soube derrotar aos muito envergonhados castelhanos em várias batalhas. Em 1558 levantou uma grande sublevação contra os hispânicos, na que morrera a maior parte dos invasores que andavam pelo Sul da Colónia, hoje as cidades de Valdivia e Bio Bio. Em 1553 livra-se a batalha de Tucapel, Valdívia é feito prisioneiro e foi morto como ele matava aos Mapuche, relatado antes por mim num texto anterior: o próprio Lautaro organiza um grupo bem treinado e armado, encurrala a Valdívia, o conduz a um Conselho de Loncos onde é julgado e morto na antes referida picanha, esse pau que entra no corpo nu e pelo peso do próprio, vai entrando até lhe causar a morte após horas, de sofrimento atroz: os Lonco aprenderam essa forma de matar, dos castelhanos. Mas, como relata Ercilla, Valdivia teve um julgamento conforme os hábitos espanhóis: tribunal, acusador, defesa, testemunhas, durante muitos dias, até a condena a 24 de Dezembro de 1553. Após julgamento e morte, os Mapuche arrasaram Concepción e Valdivia duas vezes. Francisco de Villagra toma o mando e organiza várias batalhas perdendo em todas elas. Já calmos e tranquilos, as tropas de Lautaro, casado com Guacolda, decaem e tomam férias Villagra, conhecedor das tácitas Mapuche, as usa e em 1557, surpreende a Lautaro, e sem julgamento, após feroz batalha, o mata com a espada de Valdivia, entra à Mapuche a sua ruca, palhota em português, e grita: Aqui espanholes, que Lautaro está morto. A batalha continuou os Mapuche foram mortos e os espanhóis sem o chefe de guerra vivo, perdem o medo e começam a matar e escravizar a torto e direito.

Houve, a seguir, outros heróis Mapuche, como Caupolican, mas morte este, educado por Lautaro, os Mapuche acabaram com as agressividades para empurrar fora da sua terra, aos invasores.Guerra perdida até o dia de hoje, como já sabemos. Lautaro foi o herói Mapuche: nenhum como ele. Os Mapuche precisavam de líderes, mas mortos os Loncosn Lautaro e Caupolicán, não têm quem os oriente e não sabem resistir a essa passagem de ser tratados como escória humana…até o dia de hoje.

Eis porque falo de Lautaro, porque os Mapuche não têm um líder que oriente nas falsas acusações de fazer arder indústrias processadoras de madeira. Bem ao contrário se os Mapuche têm uma tarefa na terra, é a mandada pela sua divindade, o Deus Pillán: tomar contar, cuidar reproduzir à natureza. Se assim não for, não seriam auto denominados Mapu-che o gente da terra. A História do Chile narra como os Mapuche têm sido encurralados em reservas cercadas para não serem vistos e assim Encina, o Historiador chileno, poder dizer, sentado calmamente na sua Fazenda de Villa Alegre, de que nunca houve mistura entre Mapuche e Huinca, o que foi desmentido pelos historiadores do Chile em grupo e pelo Colégio de Historiadores de Chile. O seu secretário, discípulo e companheiro, reduziu os 25 volumes a três: Resumen de la Historia de Chile (redacción de Leopoldo Castedo). (1954).

Os Mapuche têm sido sempre o bode expiatório dos Huinca do Chile, que Sérgio Villalobos narra e prova nos seus livros de História: a mestiçagem ultrapassa o 60% da população, desde 1542 em frente. Nota-se nas caras, os costumes, a corpulência do corpo e os costumes e as formas de comportamento, como relato nos meus livros sobre o clã Picunche dos Mapuche.

Os guardiões da terra do Chile estão a ser punido sem justa causa e, excepto nós, Antropólogos, o povo do Chile, incluindo mestiços, no se importam: são chamados índios, de mal humor, de mentirosos, preguiçosos e ladrões.

Tenho morado entre eles e nada do afirmado, tenho observado, excepto os ladrões da comuna de Pencahue, os que moram em Chanco, os Pinochet.

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