Não vou, especialmente por não ser linguista, pronunciar-me sobre a justeza técnica -ou sua falta- do Acordo Ortográfico para a Língua Portuguesa. Poderia pronunciar-me sobre alguns aspetos políticos e até estéticos, mas também não o faço. Isto porque, apesar da incomodidade que me causa alguma da nova grafia, vou adotar pelo menos parte do novo acordo e, com o correr do tempo, procurar adaptar-me ao resto. Assim, e para já, deixo cair as consoantes mudas.
É normal alguma reação e conservadorismo quando mudam coisas a que desde sempre nos habituámos, tal como natural é a reação ao novo e ao desusado. Lembro-me de reações conservadoras por parte dos portugueses em relação a quase tudo, das torres das Amoreiras ao Centro Cultural de Belém, passando pela requalificação da zona oriental de Lisboa ( a zona da Expo 98), etc. e de ter reparado, passado pouco tempo, que os seus maiores críticos se tornaram nos mais acérrimos defensores e entusiastas, porventura esquecidos das suas posições anteriores, já que raramente vi algum reconhecer o seu reacionarismo mais primário e a nulidade de muitos dos argumentos antes sustentados.
Não creio que o Acordo Ortográfico venha a suscitar grandes entusiasmos mas, como bem notam os leitores e jornais e revistas, já está a ser aplicado em quase todos eles, numa prova, aliás, da sua atual irreversibilidade.
Como não tenho jeito para velho do Restelo, vou também adotá-lo, apesar de alguns arrepios que sentirei ao escrever certas palavras. Orgulhosamente só, podem crer, não fico. E quando tiver dúvidas recorro ao Lince, o conversor para a nova ortografia. Até porque a agora velha grafia já foi nova, assim como outras velhas antes dela. Curiosamente – e ainda que por vezes não pareça – eu também já fui mais novo, o meu pai já foi rapaz e o meu avô chegou a ser bébé. O mesmo avô que, anos mais tarde, teve uma Pharmácia que mudou de nome e se grafava Farmácia quando eu nasci.
Pedro és temerário e agora vais ter de os aturar. Ou talvez não, porque como dizia o Pinheiro de Azevedo “o povo é sereno”.
O crucial é comunicar com eficácia – Saramago passou a ignorar as regras tradicionais da pontuação. E depois?
Não o faço por temeridade, Carlos, nem por vontade de polemizar gratuitamente. Acontece que ando há uns tempos a reflectir sobre isto sem ser, como disse, linguista. Também não sou Quixote e evito atirar-me às velas dos moinhos por ver monstros e gigantes em tudo o que mexe.
Neste momento mexe o acordo – como se nota pela imprensa e pelas novas publicações – e eu não vejo (até por não ser linguista) razões válidas para resistir. Em termos, digamos, geo-políticos ver aparecer português de Portugal e português do Brasil em tudo o que é programa informático (isto quando o português de Portugal aparece), parece-me uma aberração, para dar um pequeno exemplo.
Correção -para ser coerente e porque é natural que durante algum tempo me engane- onde está “tenho andado a reflectir”, leia-se “tenho andado a refletir”.
Caro Pedro, foi mera brincadeira para “entrar” contigo. Eu que de linguística nada sei, até pelas áreas académicas que abracei, também estou confuso e ando a reflectir (ainda com c). Julgo, porém, que no ‘Aventar’, como dizia o José Mário, tem que se fazer uma opção. Em última análise, até pode ser mista, i.e., sujeita à escolha de cada um.
Gostaria de acrescentar um episódio que se passou aqui em Luanda na Siac- o equivalente angolano da Loja do Cidadão, com a qual aliás não fica a perder, o que talvez espante algumas ideias feitas sobre Angola-. O funcionário não percebeu o que eu lhe disse – qualquer coisa como registo criminal em sotaque tuga- ao que me replicou quando repeti, “como disse o grande Saramago não há língua portuguesa, existem línguas portuguesas”-sic. Nem de propósito. Mas apesar de tudo mantenho a consoante muda, senão como irei contactar-vos.
Miguel, o segundo c de contactar não é mudo, logo escreve-se.
Eu muito sinceramente acho o novo acordo ortográfico uma autêntica palhaçada, lamento o termo “palhaçada”, mas é aquilo que acho.
Vai ser muito complicado adaptar-mo-nos a estas novas grafias, o pára e para ou o pêlo e pelo, estas coisas são tão estúpidas que até dói! Já agora o “dói” vai passar a ser doi?!
Sinceramente, querem destruir com a cultura e a VERDADEIRA língua Portuguesa.