Mira Amaral – um homem sem vergonha

Mira Amaral, engenheiro de base e economista por pós-graduação, resolveu sair também a terreiro e proclamar: “a economia portuguesa não aguenta mais impostos”. Ao estilo de sábio membro do ‘Conselho de Anciãos’, a ilustre figura avisa: “é urgente, é imperioso fazer cortes do lado da despesa…”. O aviso, claramente dirigido ao seu partido, é redundante, se tivermos em conta as posições da direcção do PSD, a quem, Mira Amaral, se pretende colar.

De há muito, a falta de vergonha dos homens públicos é fenómeno comum, mas Mira Amaral é um destro praticante da ignomínia. Integrou os quadros do BPI, transitando do adquirido Banco de Fomento, privatizado nos anos 90. No início da década actual, reformou-se do BPI com indemnização e pensão substanciais. Algum tempo depois, ingressou na CGD, por influência do PSD; porém, ao final de 18 meses, viria a deixar a instituição do Estado, com uma obscena pensão de reforma de mais de 18.000 euros mensais; e não foi o único, porquanto também o seu ajudante de campo e ex-secretário de estado, Eng.º Alves Monteiro, teve percurso semelhante, embora a valores mais baixos. Até Bagão Félix, então Ministro das Finanças, benfiquista de alma e coração, ficou verde.

Hoje, Mira Amaral, administra o Banco BIC, ao serviço de Amorim e de Isabel dos Santos, a princesa do reino corrupto de Angola. Um homem que, além de retribuições de privados que não discuto, em função da desfaçatez de arrecadar cerca de 250.000 euros anuais de uma instituição pública, perdeu a moral – e igualmente a vergonha – para falar em desperdícios de dinheiros públicos, mormente em cortes de despesas. Sr. Mira Amaral: ajude o País, prescindindo da abjecta situação de reformado da CGD!

Mas, na vida pública de Mira Amaral, existem outras passagens funestas para o País. Como Ministro da Indústria de Cavaco Silva, entre 1987 e 1995, ordenou, por exemplo, o esquartejamento da estrutura industrial portuguesa. O processo de desindustrialização integrou, por exemplo, todo o grupo CUF / Quimigal e foi executado, por um outro homem de mão de Amaral, o célebre António Carrapatoso; homem que, há pouco tempo, esteve na Universidade de Verão do PSD, na qualidade de eminente prelector sobre problemas da economia portuguesa que ele, o seu chefe Mira e o supremo Cavaco tanto fragilizaram. Com uma política de privatizações, a favor de companhias estrangeiras, criticada publicamente por José Manuel de Mello, Lúcio Tomé Feteira e outros industriais.

Comments

  1. Pois fiquei a saber mais umas coisas de certos gajos. Valeu a pena. Obrigado.

    Se quiser saber alguma coisa de Laurentino “Kim Jong-il” Dias, passe por aí.

  2. E não há um vírus que limpe esta gangada toda!

    • Anónimo says:

      Acho q deviamos mandá-los para o meio dos talibãs para lhes tratarem da saúde…

  3. carlos fonseca says:

    Adão, a gangada está imunizada. Ate quando?

  4. Alfredo says:

    Façamos umas contas: admitamos que o senhor ganhava 18000€/mês durante o tempo que exerceu funções. Ao fim de 18 meses recebeu 18×18000=324000€. Até aqui tudo bem, embora seja um valor mensal que corresponde a 36 ordenados mínimos, mas isso é um detalhe. Ao fim de 10 anos o senhor receberá (vamos dar de barato que não há actualizações) 120×18000=2160000€. Como trabalhou 18 meses isso dá 120000/mês. Ou seja, 6,7 vezes mais. Mas ainda não acabei. Ao fim de 11 anos esse senhor (façam agora as contas) será remunerado com 132000€/mês. Ou seja, terá um aumento de 10% face ao ano anterior. Com efeitos retroactivos…

    Podia dar-se o caso que um cargo desses tornasse o indivíduo incapacitado para voltar a trabalhar, infectado pelo vírus já aqui referido. Nesse caso é de toda a justiça que o Estado cumpra o seu papel de protecção social. E aqui sim, estaríamos a falar de uma pensão de aposentação ou invalidez.

    Um cidadão normal que esteja a receber subsídios do estado e tenha uma fonte uma fonte de rendimento é acusado, e bem, de cometer fraude. Mas estes senhores podem fazer exactamente o mesmo, que têm a lei para lhes dar total cobertura.

    Um cidadão normal vê todos os anos serem levados a discussão aumentos salariais cujos valores são de uma falta de dignidade, para dizer o mínimo, e, contas bem feitas, deveria ver que estes senhores têm aumentos que são de outra ordem de grandeza, embora tentem convencer o incauto de que estão a fazer o contrario.

    Um cidadão normal vê constantemente serem alteradas as regras da sua carreira contributiva, sempre em seu prejuízo, e assiste impávido.

    Eu não sou economista, outros com mais propriedade terão opinião mais bem fundada, mas custa-me acreditar que uma empresa privada consiga convencer os accionistas a contratar trabalhadores com este modelo retributivo. Os eleitores são bem mais fáceis de convencer.

    O povo contesta. Mas é preciso mais. A diferença entre um contestatário e um revolucionário é que o último é contra o sistema por ser injusto e ambiciona melhor; o primeiro é contra o sistema porque considera que está no lado errado.

  5. carlos fonseca says:

    Alfredo, estou de acordo. Porém, sempre acrescento que não é necessário ser economista. Basta ser cidadão informado e consciente.

  6. Obrigado por esta excelente e lúcida reflexão.

    De facto há que ter cuidado com estes pequenos “homens” que agora, com PSD do qual se dizem simpatizantes (lol) que vão querer “abrir asas” para fazer mais das suas …

    E o que aqui diz é pouco… contaram-me há uns tempos … algo interessante.
    Saberão alguns de vocês quem pode está a ganhar milhares, de uma forma camuflada, com o transporte de grude para Portugal? Se retirarmos uma pequena fatia que seja, pela enormidade do montante envolvido, imaginem a soma que todos nós pagamos para essa ou essas poucas pessoas. Por esta e outras é que o preço da gasolina e outros produtos essenciais serem mais caros cá, que na restante Europa, e ninguém percebe a quem.

  7. Os ministros que fizeram parte do governo do Sr. Cavaco Silva dormem tranquilos? Só eles podem responder, mas, nós contribuintes, é que vamos perdendo o sono ao sabermos o que eles fizeram ao erário público. Alguns perdemo-los de vista, porém, outros continuam a ser chamados para dar as suas doutas palestras nas estações de televisão. Estes continuam a ser uma ameaça, são autênticas aves de rapina a sugar as instituições por onde passam, enquanto defendem nas referidas entrevistas as medidas de austeridade.
    É o caso deste Mira Amaral, engenheiro de base e economista por pós-graduação.

Trackbacks

  1. […] para videirinhos da política. Não podia estar mais de acordo com Carlos Fonseca, do Aventar, que denuncia a desfaçatez de Mira Amaral, um ex-político bem instalado e um homem público sem […]

  2. […] foram exercidos em simultâneo. A generosa nomeação do então Ministro da Indústria de Cavaco, Mira Amaral,  foi decisiva, mas a destreza, o eclectismo e a sabedoria do polivalente gestor completaram o […]

  3. […] anda o Mira Amaral? Alô, Mira Amaral? Chama-se Mira Amaral à cabine de […]

  4. […] a CGD após 18 de meses de trabalho), o ministro de Cavaco responsável entre outras barbaridades pela destruição da indústria nacional, pode dizer-se que de uma devolução se trata: o cavaquismo tinha um banco, assalto-se a si […]

  5. […] De facto, Coelho e Portas, com grande despudor, estão a privilegiar Américo Amorim, Isabel dos Santos e o também despudorado Mira Amaral. […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading