As mentiras de Luis Capucha

Luis Capucha é o actual responsável pela Agência Nacional para a Qualificação, e deu uma entrevista ao Público de hoje. Começa por afirmar:

Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe. Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe.
Trabalhei 3 anos nas Iniciativas Novas Oportunidades (INO). Vamos lá então ver quem mente, quem fala e quem sabe.
Uma das críticas é que os adultos não aprendem disciplinas formais.
Desminto. Há regras a cumprir que têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários.
Desminto o desmentido. Os referenciais de competências estão organizados em torno de 3 áreas que abarcam as várias disciplinas de uma forma muito vaga. A título de exemplo História, no secundário,  pertence a Sociedade, Tecnologia e Ciência, a única área onde os formadores de História estão impedidos de trabalhar (como as competências  exigidas estão ao nível do 9º ano, compreende-se).

Há quem receba subsídios para estar na INO?
Só os adultos que frequentam cursos de educação formação profissionais.

Mentira. Tantos os EFAS como os processos de RVCC incluem subsídio de transporte e alimentação.

Não são os desempregados?
O problema é que para frequentar esses cursos, implica estar desempregado.

Mentira. Para frequentar um EFA e ser subsidiado basta ter mais de 18 anos. Há EFAS intensivos em horário laboral e para desempregados, com outros subsídios. Mas o transporte e alimentação são comuns a todos.

Sabemos que alunos de determinadas vias de ensino aprendem a fazer exames e a tirar notas, mas não sabemos se sabem alguma coisa quando acabam. Isso não acontece com os nosso alunos porque são obrigados a demonstrar competências.

Mentira. Além de nas vias de ensino ditas normais, como o era o recorrente, a avaliação também ser contínua, demonstrar uma competência num portefólio não significa tê-la: vem escrita, não se sabe quem a escreveu.

Foi a Agência Nacional para a Qualificação que denunciou o caso das vendas de trabalhos para os alunos das Novas Oportunidades na Internet.

Mentira. Foi aqui denunciado muito antes disso, mas até já o tinha sido anteriormente num forum de profissionais de RVCC. E é uma denúncia de treta: qual é a lei que impede um desempregado de dar explicações a quem as pague? Problemas só se for com as finanças.

Têm sido feitas muitas campanhas publicitárias. Gasta-se muito dinheiro?
Não sei, os resultados são claramente positivos. Sem ela não teríamos atingido tantos adultos. A marca da INO é uma boa marca, tem boa imagem, dizem os estudos de avaliação. Nem as críticas conseguem destruir a imagem positiva que tem a INO. Mas seria trágico que depois de criado o sistema, deixássemos passar a ideia que desapareceu, porque a presença pública é importante. Fazem-se campanhas a favor da qualificação, pode haver dinheiro mais bem gasto do que este?

Se 4 milhões de euros não é muito dinheiro Luis Capucha não sabe o que é dinheiro. Mas sabe. E das duas uma: ou não sabe quanto gasta em publicidade a instituição em que trabalha, e resta-lhe a demissão imediata por incompetência e irresponsabilidade, ou sabe, e voltou a mentir.

Serviu esta entrevista, para lá do exercício de Pinóquio, para vender mais um inquérito aos contemplados com a massificação de um processo que só desvalorizou quem efectivamente merecia um diploma por via de competências adquiridas ao longo da vida. Parece que um terço dos contemplados afirma ter sido beneficiado  no local de trabalho com o diploma: confere com a ideia que tenho de os clientes serem sobretudo funcionários públicos. Porque só na função pública os diplomas das INO são reconhecidos. Fora dela são ridicularizados. Que tenham melhorado a auto-estima, obtido algumas competências TIC, e uma pequena percentagem efectivamente dado um salto nas suas vidas, tenho a certeza. O resto é propaganda, da mais maliciosa. Porque se fosse uma coisa a sério os avaliadores externos não eram pagos por cada adulto, e livremente contratados pelos CNO’s: seriam pagos directamente pela ANQ, e distribuídos pelos CNO´s de forma a verificarem a seriedade dos processos. Mas muito principalmente, não fosse esta operação uma mera manobra de propaganda e angariação de votos, os CNO’s não teriam metas. Muito embora nunca as tenha visto escritas, no que toca aos 90% de sucesso obrigatório, os directores e coordenadores chegam com elas às reuniões de equipa. Resta ao formador cumprir, ou fugir a sete pés.

Nota: algumas das citações não estão disponíveis na edição online.

Comments

  1. O que dizer das NO? Que se faz primazia da forma, secundarizando o conteúdo. Ou recorrendo a um conhecido adágio, que é para inglês ver. E como na administração pública é português que vê…

    Já agora:

    http://republicadocaustico.blogs.sapo.pt/125609.html

  2. Meu caro, você é muito brando. As NO são um verdadeiro crime de lesa-pátria, na medida em que comprometem em definitivo o futuro do país. Não apenas se perde uma oportunidade de qualificar de facto, profissional e humanamente, os inúmeros portugueses que disso necessitam, como se lhes dá, ao mesmo tempo, um exemplo de que a falta de seriedade, afinal, até compensa – é que eles são os primeiros a dizer que “aquilo não é nada…”. Num Portugal a sério, esse senhor, seus superiores e acompanhantes, estariam a ser julgados por burla. Melhor dizendo: num Portugal a sério nenhum deles teria ultrapassado os níveis mais baixos da Função Pública ou nem sequer teria mesmo sido admitido.

  3. Bulimunda says:
  4. Bulimundo says:
  5. Linkado no Umbigo.

  6. Al-ShÔ Nubis says:

    Aceito o pouco dinheiro que o energúmeno refere.

  7. Ana Paula Fitas says:

    Faço link, João.
    Abraço.

  8. Bulimundo says:

    Propaganda “gobelliana# em doses industriais..o número de desempregados-na estatística-vai diminuir em cerca de 30 por cento no próximo ano…reconheça-se que a ideia é brilhante…a máquina do PS não brinca..tritura..
    http://bulimunda.wordpress.com/2010/10/23/olhem-como-o-numero-de-desempregados-vai-diminiur-em-mais-de-30-por-cento-2010-10-23-novas-oportunidades-obrigatorias-rtp/

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