Retratos Directos

O base.gov.pt é um manancial de informação sobre a forma como os nossos governantes desbaratam o erário público. Já sabemos que se gastam milhões em festas e enchidos. Mas nem tudo é dinheiro desperdiçado, para benefício das artes também existem adjudicações directas!

O retrato que reproduzo neste post, de Sua Excelência Tenente General Fernando Manuel Paiva Monteiro, comandante da Academia Militar custou a módica quantia de 17 150 euros. Coisa pouca para ilustração dos nossos garbosos militares.


A adjudicação seguinte não é tão fácil de compreender, no objecto do contrato pode-se ler: “Aquisição de Serviço de pintura do retrato de Sua Excelência o Tenente General Paiva Monteiro”. Não sei do que se trata, mas foi adjudicado no mesmo dia e só nos custou 14 615 euros. Qualquer pensionista pagaria com gosto esta factura. Tendo em conta que quem ganhou esta adjudicação foi a EUROPRESS, empresa de serviços gráficos, presumo que este valor seja referente a cópias feitas do retrato. Se assim for, acho muito bem! Estas cópias deviam ser distribuídas pelas criancinhas deste país para terem junto do coração estes altos exemplos a seguir.


Igualmente importante é o registo para a posteridade dos nossos distintos autarcas, homens de trabalho e sem contas na Suíça. Assim é normal que Isaltino Morais tenha um retrato seu, ainda por cima muito em conta (8 800 euros) – afinal de contas os Presidentes da República têm direito a retratos e normalmente só ocupam o cargo uns míseros dois mandatos.


Em último lugar, temos o retrato do 6º Reitor da Universidade do Minho. É de esperar que uma instituição pilar da sociedade desde tempos imemoriais (1973) gaste dinheiro nos retratos dos seus reitores 7 400 euros.



É claro que o post anterior foi escrito de forma irónica. Por principio até nem sou contra a imortalização em tinta e tela dos nossos ilustres empregados públicos. No entanto, tendo em conta que estes retratos são todos de 2009, julgo que poderia ter havido um pouco de decoro, estas adjudicações podiam perfeitamente ter sido adiadas. Além disso, se estas pessoas têm de facto o mérito necessário para se gastar umas dezenas de milhar de euros em quadros, então deveria ser a sociedade a mobilizar-se e pagar estas homenagens sem pesar nas contas públicas. – Isso seria reconhecimento do qual eu me orgulharia.

(Estes ajustes directos foram encontrados por José Lopes que tem feito um aturado estudo da base de dados dos ajustes directos.)

Comments

  1. Edgar de Pinho says:

    Por vezes pesquisar sem conhecimento de causa poderá trazer maus julgamentos. Ver um ponto não conta um conto. Escrever mas com consciência..

    • É evidente que há qualquer coisa neste post que não lhe agradou completamente. Infelizmente o comentário que faz é demasiado vago. Assim apenas posso reafirmar o seguinte:

      Qualquer servidor público deve estar sempre pronto para enfrentar todo o escrutínio feito pelos cidadãos pelo que a pesquisa feita é perfeitamente legítima;
      Os cidadãos têm o dever de se informarem acerca da coisa pública;
      O apresentado neste post são tão só e apenas factos (clique sobre os screenshots das adjudicações para aceder às respectivas páginas no site base.gov.pt);
      As adjudicações foram feitas em tempo de crise. Em 2009 estivemos mesmo em recessão e mesmo agora com algum crescimento, não estamos muito melhor como é sabido.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading