Dois professores em E.V.T. – acabar ou não?

O currículo do Ensino Básico, contempla a disciplina de Educação Visual e Tecnológica.
São, normalmente, 4 tempos de 45 minutos por semana e o programa contempla várias dimensões, podendo, de forma simplista, escrever-se que se trata de uma disciplina de carácter artístico na área da plástica, da expressão visual, algo do tipo desenho ou trabalhos manuais, para uma linguagem mais antiga.
É, claro, uma disciplina central na área da educação artística e a sua metodologia sempre foi suportada no desenvolvimento de projectos – é uma área onde os alunos aplicam conceitos, procedimentos e metodologias essencialmente práticas.
A Associação de Professores da Disciplina já manifestou TOTAL recusa da proposta do governo: a disciplina de EVT passará, segundo o documento, a ser leccionada apenas por um professor.
E, na minha perspectiva, a medida carece de fundamento pedagógico: a metodologia da disciplina exige mais que um professor porque a sua dimensão prática exige um acompanhamento muito próximo de um docente. E essa exigência deriva da necessidade de garantir um trabalho de qualidade, mas, acima de tudo, para garantir a segurança. Ter um grupo de 28 alunos com facas, martelos, serras, chaves, pregos, metais ou outro tipo de ferramentas nas mãos pode ser muito perigoso – será que depois os professores serão também responsabilizados como aconteceu com um docente de Educação Física?
Pelo que escrevi no post anterior estou convencido que esta medida vai mesmo avançar. E pergunta-se: o que vai acontecer aos professores sem colocação?
Tenho cá um palpite que vão ficar responsáveis pelas AEC’s.
É um palpite.

Comments

  1. Farto de burrices says:

    Fui professor de Educação Visual desde 1982 até que esta disciplina se fundiu com os Trabalhos Manuais. Passei então a ser professor de Educação Visual e Tecnológica (E.V.T.) e a leccionar em regime de par pedagógico. Durante vários anos dei aulas com alguns bons professores dos antigos Trabalhos Manuais. Disse alguns… muito poucos!!! Com esses poucos desenvolvi actividades com madeiras, metais, têxteis, modelação de argila, gesso, além das actividades que já desenvolvia antes, como professor de Educação Visual. Enfim, actividades muito interessantes para os alunos. Com esses poucos bons professores, justificou-se trabalhar em par pedagógico, pois, concordo que aquelas actividades exigem a permanência de dois professores, atendendo ao número de alunos de uma turma. Contudo, fui obrigado a trabalhar com diversos outros professores dos Trabalhos Manuais, sendo que alguns foram um verdadeiro pesadelo que me aconteceu na vida. Estou preocupado com a situação de redução de professores para o próximo ano, mas por outro lado estou feliz, por finalmente a disciplina voltar a ser leccionada apenas por um único professor! Até poderei ficar sem emprego, mas estou feliz!!! Estou feliz por finalmente deixar de ser obrigado a dar aulas com “certos” professores que não sabiam nem sabem dar aulas; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores, que por falta de adequada formação de base, leccionavam erradamente as matérias que não dominavam; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores que nunca preparavam uma aula e nem sequer ajudavam no seu desenvolvimento, pois, com certeza, já estavam fartos de trabalhar; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores que tinham uma ausência sistemática, nalguns casos de mais de 50% das aulas, pois sabiam que estava lá o seu par pedagógico para garantir a aula, além dos seus amigos da Direcção da escola, que lhe aparavam o jogo; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores cuja hora de chegada era sempre infalível, embora 15 a 30 minutos depois do toque e que muitas vezes a primeira coisa que faziam era ler o jornal “A Bola”, mesmo à frente dos alunos; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores com práticas pedagógicas que nunca foram ensinadas em nenhum estabelecimento de ensino superior, com as quais deixaram nefastas marcas nos seus alunos; Estou feliz por deixar de dar aulas com professores que chegavam a faltar aos 15 dias seguidos e mais, por “motivo de doença” cujos “tratamentos” se faziam em locais paradisíacos; Estou feliz por deixar de dar aulas com alguns professores, que embora nunca tenham feito um curso superior (e nalguns casos nem curso nenhum) chegaram ao topo da carreira, aonde eu nunca vou chegar e que agora até me vão avaliar, sendo eu Licenciado, com frequência efectiva de um curso de 4 anos, contrariamente a eles. Enfim, estou preocupado por mim e por muitos dos meus bons colegas, que estamos em risco de perder o emprego, ao fim de tantos anos como funcionários do Quadro. Mas por outro lado estou feliz por tudo isto que disse e também, porque aqueles maus professores de E.V.T. de que falei, finalmente vão deixar de ter quem dê as aulas por eles (sim, porque esses vão com certeza ficar); O que me leva a outra preocupação: o que será dos alunos que lhes vão cair nas mãos?

  2. João Carlos says:

    Que triste a visão do colega!!! Deve ser o professor perfeito!!!
    Certamente não terá familia para sustentar, por isso fica indiferente aos milhares de colegas que nunca mais na vida poderão leccionar.
    O colega cresça como profissional e vá descarregar as suas frustrações em algo produtivo.

    • Farto de burrices says:

      Além de tudo o que disse, que é verdade, acrescento que todos andaram há uns anos a dizer que a carga horária dos alunos era excessiva (e é!!!) mas agora já não parece. Agora até a Área de Projecto já parece uma coisa boa…!
      Tenho família sim e filhos em idade escolar, mas sei destrinçar as coisas, mesmo quando o meu próprio sustento pode estar em causa.
      Quanto a crescer, com 50 anos, já vi muito mundo e muitos palermas que não perderam tempo a estudar (isso era para os betinhos).
      Simultaneamente tenho pena de ver muitos bons professores partirem antecipadamente para a reforma.

    • Olhe que não, o colega JC é que está errado. Uma coisa é ser-se um profissional competente que tem prazer no que faz e ensina. Outra completamente diferente a que o colega “farto de burrices” aludiu é, por outras palavras, ser-se um parasita do sistema. Infelizmente há muitos parasitas, dentro e fora da escola, sobretudo em lugares cimeiros onde a os mais variados actos de irresponsabilidade e incompetência nos têm dirigido para o caos em que nos encontramos. É evidente que ninguém deseja ver outros no desemprego, mas se esse “desemprego” significar separar o “trigo do joio” então estaremos no caminho certo. Porém, estas medidas não passam de medidas economicistas que nada têm a ver com competências, mérito, qualidade e rigor no ensino, como em tantos outros domínios na nossa sociedade corrupta e corrompida por clientelas e interesses vários.

    • Olhe que não, o colega JC é que está errado. Uma coisa é ser-se um profissional competente que tem prazer no que faz e ensina. Outra completamente diferente a que o colega “farto de burrices” aludiu é, por outras palavras, ser-se um parasita do sistema. Infelizmente há muitos parasitas, dentro e fora da escola, sobretudo em lugares cimeiros onde a os mais variados actos de irresponsabilidade e incompetência nos têm dirigido para o caos em que nos encontramos. É evidente que ninguém deseja ver outros no desemprego, mas se esse “desemprego” significar separar o “trigo do joio” então estaremos no caminho certo. Porém, estas medidas não passam de medidas economicistas que nada têm a ver com competências, mérito, qualidade e rigor no ensino, como em tantos outros domínios na nossa sociedade corrupta e corrompida por clientelas e interesses vários.

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