a crise de Portugal é a da humanidade

crise financeira, homofóbica, dos direitos humanos, não apenas da economia

Não há fim de ano que não acabe com festas e pantomimas, muto comer, entrega de presentes, gastos supérfluos em roupas novas para passar a consoada, dançar para o Ano Novo, festividades que, enquanto acontecem, parecem não ser gastos, mas sim, investimentos em relações familiares, de amigos e vizinhos. Para mal dos meus pecados, calhou passar os meus primeiros vinte e anos de vida en terras nossas, que ofereciam presentes à nossa família: pais, irmãos e até a servidumbre que realizava o trabalho doméstico. Éramos poucos para tanta euforia, que devia ser devolvida. Não era um investimento de capital, era um gasto sem objectivo, excepto esse de manter contente ao patrão e a sua família e assegurar o posto de trabalho. Era um investimento inútil. O trabalho estava assegurado pela lei, pelos sindicatos e pelos compromissos políticos dos que prometiam muito para ser eleitos para os sítios de poder que pretendiam. Essas festas e ofertas eram um desperdício de dinheiro retirado do fundo doméstico do que todos viviam. O desperdício era a loucura das loucuras. Não apenas mo havia investimento nem poupança, era um louvor às festas de fim de ano e ao patronato dos proprietários. Hábito aprendido desde a revolução industrial do Século

XIX, dezenas de anos em que nem lei nem sindicatos eram capazes de defender ao operariado, como tenho definido nos meus textos Marx, um devoto luterano, 2008, no http://repositorio.iscte.pt/ e no internacional: http://www.rcaap.pt, bem como no editado por Estrolabio, 2010, Para sempre tricinco, Allende e Eu pelo meu amigo com quem discutira este texto, no qual aparece o seu nome por o ter publicado no seu blogue: http://estrolabio.blogspot.com/

O desperdício de gastos pode-se entender como: despesa inútil e censurável. Por outras palavras, falta de investimento em capital para obter esse lucro retirado ao operariado, denominado mais-valia. Ou esbanjamento, perda, sendo esbanjamento uma dissipação de bens de capital, ou estragar como pródigo.

Para Elisa (Für Elise) – Beethoven

Bem sabemos que Portugal vive em crises, por outras palavras, em embaraço na marcha regular dos negócios. Mas não apenas. A crise não é apenas financeira, é também da ética dos costumes e una indefinição nas relações humanas. É uma crise complexa que a falta de espaço não permite explicar de forma extensa. É preciso separar seus elementos para entender a vida social.

Parece-me ser a mais grave a crise financeira. A fórmula do multiplicador de investimento, é dizer empregar (capitais) em actividades lucrativas que rendem mais-valia, foi a primeira crise que me levara a escrever este texto. Fórmula ou indicação do modo de operar para obter um resultado, para o caso que falamos, lucrativo, que rende mais-valia ou dinheiro que traz dinheiro ou propriedade de bens que aumenta a acumulação da riqueza de que pode investir. A forma de empregar actividades lucrativas, foi formulada por John Maynard Keynes[1], complexa como ela é por combinar moeda, especulação monetária e procurar bens de infra-estrutura que enriquecem. Em tempos, conhecia bem, de cor e salteado. No entanto, por estar bem guardada pelo lucro que a fórmula pode dar[2], passa a ser um segredo de investimento da concorrência para evitar rivais que possam descobrir essas denominadas infra-estruturas que avultam a posse de bens. Com todo, os diversos elementos guardados em silêncio pelo seu organizador, foi analisada e descobertos os seus componentes, coordenações, elementos que a integravam e as melhores infra-estruturas para lucrar, pelo seu discípulo e amigo pessoal, Richard Kahn enobrecido por explicar a todo o mundo como era possível elevar o nível de vida, simplificando a fórmula de Keynes. O primeiro advogava que todo investimento criava a sua própria procura, no se famoso livro de 1836, editado também em português, citado em nota de rodapé. O seu discípulo e amigo, Lord Kahn, ao encontrar o segredo da teoria de Keynes, publicara, em 1931 o seu livro The economics of the short period, CUP, que em português seria A economia de curto prazo, uma análise que debatia o revolucionário conceito da macroeconomia de Keynes que diz: A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos em bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior a percentagem da renda poupada. Kahn acrescenta no mesmo texto, a necessidade de repensar a ideia: o rendimento nacional não estava controlado pelos recursos existentes, mas sim pela procura real. O significado da teoria da Kahn baseava-se na ideia que a irregularidade da economia tinha duas bases: o embate o colisão desde fora da economia, bem como embates gerados dentro do comportamento não linear e imprevisível dos sujeitos que praticam essas economias.[3]

Foram estas ideias que me levaram a dar a grande volta a análise de apenas crises financeiras- Keynes, apesar do seu segredo multiplicador de investimentos, faliu duas vezes por não ouvir ao seu discípulo. Uma terceira vez ouviu, analisou o comportamento social dos membros da economia e ganhou uma fortuna imensa, herdada pela sua Faculdade King’s College da Universidade de Cambridge, onde conheci, intimei e aprendi com Lord Kahn, a entender que as crises financeiras são, antes de económicas, sociais.

Uma segunda crise caracteriza o país. Há ambição sem medida de querer ganhar o que nunca se teve ou investimentos arriscado na bolsa dos valores, com dinheiro que não pertencem a quem investe, mas sim ao Estado. É denominado o delito de desfalco. Ou, o não satisfazer a soberania o que o povo procura: no caso de Portugal, a liberdade para se – divorciar, para casar outra vez ou divórcio sem conflito, por acordo mutuo, não precisa ir a tribunal; a ideia incutida na cultura da homofobia, que, para a minha agradável surpresa, são leis que passaram. Tenho lido em vários jornais, frases como esta: ”o PS compromete-se a reconhecer o casamento gay…quando entender”. A minha interpretação da frase é: “quando houver eleições…”. A homofobia está definida assim: A homofobia (homo= igual, fobia=do Grego φόβος “medo”), é um termo utilizado para identificar o ódio, aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais ou homossexualidade, ou genericamente de modo pejorativo, qualquer expressão de crítica ou questionamento ao comportamento homossexual[4].

No meu pensar e sentir, a discriminação ao matrimónio de pessoas do mesmo sexo, homossexual, pensa-se que é uma é uma violação a Constituição que não permite a liberdade de amar, lei que, por meio do Código Civil, não pune o amancebamento ou um casal heterossexual a viver juntos sem passar por nenhum tipo de ritual. É parte da crise financeira a insatisfação do povo. Ou o caso do racismo, uma terceira crise, onde os não portugueses, especialmente os que vêem da África, ou não são permitidos ou é-lhes outorgado trabalhos mínimos, mal pagos e de segunda ou terceira categoria. Se solicitam a naturalização, devem prestar uma prova de língua portuguesa para quem nem sabe ler e escrever na sua própria língua. Acabava este texto a dizer, como membro da Amnistia Internacional, que este factos, como aprendo com Lord Kahn, são uma violação aos Direitos Humanos, a liberdade de opção, quarta crise institucional do nosso país.

Keynes tinha ficado curto nas suas ideias. Kahn, as tinha amplificado, até o ponto de colaborar connosco em Cambridge na Associação Academics for Chile. Os economistas, esses os meus colegas de Universidade no seu tempo, Lord Kahn , como Lord Kaldor, exilado por causa da revolta húngara contra a União Soviética, entendiam que a economia não é apenas uma fórmula para investir. Há factos sociais como o controlo do Estado para emitir papel-moeda, cunhar moeda, balançar o que se produz e comercia como mercadoria, como acabaria por dizer Karl Marx em 1867 no seu volume 1 do seu afamado livro O Capital. Crítica da Economia Política, que analisa ideias como: as crises financeiras são a resposta a falta de colaboração com os que nada têm e são, eles próprios, uma mercadoria, como no vaso de Portugal e algumas das lutas que tenho mencionado, além das que parecem. Para Keynes, que tinha moeda em abundância, o investimento e a poupança eram normais. Mal aparecem os factores sociais, entre os quais também a guerra, poupança e investimentos, apenas possíveis para poucos, passam a ser o enquadramento social da crise que, hoje em dia, como a economia globalizada, acaba por ser crises financeiras da humanidade.


[1] Keynes, John Maynard. 1936: The general theory of employment, interest and money, Macmillan Cambridge University Press, em formato de papel 428 páginas, comigo a versão de 1973 da Royal Academic Society. Texto completo acessível na ligação http://www.marxists.org/reference/subject/economics/keynes/general-theory/ versão luso brasileira: Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theory of employment, interest and money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. ISBN 9788522414574, texto no qual argumenta: Keynes defendeu o papel regulador do Estado na economia, através de medidas de política monetária e fiscal, para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicosrecessão, depressão e booms económicos. Keynes é considerado um dos pais da moderna teoria macroeconômica. Acrescenta a denominada lei da Say que diz que a procura cria a sua própria demanda ou:” quando um produtor vende seu produto, o dinheiro que obtém com essa venda é gasto com a mesma vontade da venda de seu produto “ – sinteticamente: “a oferta de um produto sempre gera demanda por outros produtos, pode ser lida em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Say e o debate contra a lei de Say que dominava a microeconomia do Século XVIII, até o ponto de orientar a teoria de Adam Smith, editada em  176-77 por Routledge, Kegan and Son, Londres, em formato de papel, comigo a primeira edição, em linha, texto completo:  http://www.adamsmith.org/smith/won-intro.htm teoria originada nas obras de Quesnay, especialmente 1756-1757: “Les Moissons” e “Métayer”, ou a denominada teoria de laisser faire, laisser passer. Teoria à que se pode aceder na ligação http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Fran%C3%A7ois+Quesnay+&btnG=Pesquisar&meta= . A obra de Keynes, em francês, está acessível na ligação  http://classiques.uqac.ca/classiques/keynes_john_maynard/keynes_jm.html

[2] Apenas um exemplo: 7.    O investimento nacional privado

7.1. A Poupança (S)

A poupança nacional corresponda à parcela da renda nacional não gasta em bens e serviços de consumos produzidos na economia.

S = y – C = y – (a + by) (poupança retirada ao capital

Logo:

S = a + y (1 – b) (ou poupança retirada ao investimento por despedimento de operariado ou falta de pagamento pelo seu trabalho)

7.2. Investimento

Parcela do produto nacional do produto nacional não consumida, ou seja, aquilo que não é gasto em consumo e serviços.

7.3. O multiplicador de investimentos (k)

É um coeficiente (numero) associado à variação dos investimentos que determina a magnitude de variação no nível da renda nacional. Onde:

PMC = Propensão Marginal a Consumir

PMS = Propensão Marginal a Poupar

Logo: quanto maior a Propensão Marginal para o consumo ( C), é menor a  Propensão Marginal a poupar (S). Se assim acontecer, se houver maior poupança, tanto maior será o multiplicador ao investimento, ensinado por Keynes aos empresários e a mim, pelo sue discípulo Lord Khane, em Cambridge

Como é evidente, é o cientista que entende e sabe explicar, não é para todo leitor para todo leitor de jornal entender!

[3] Citação que em inglês diz: the familiar irregularity of economic time series had not one but two sources: not only the exogenous shocks but also unpredictable behaviour generated endogenously by the nonlinearities characteristic of economic structures. (c) 1994 Academic Press, Inc. Copyright 1994 by Oxford University Press. A tradução e interpretação do texto é minha, dentro da minha cátedra

[4] Definição retirada de:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia o texto é mais completo e cumprido, mas o sintetizo na definição

Comments

  1. júlia says:

    Caro Raul Iturra:

    Sou uma leitora regular dos seus posts.Não recordo ,se alguma vez comentei algum, mas tenho uma certeza: nunca deixei de ler nenhum, pois para mim, são lições diversificadas,
    ricas no seu conteúdo:o professor, o ser humano bem formado e um AVÔ demasiado
    “BABADO”!…Também fui professora, mas do ensino básico, no entanto sinto-me uma avó
    muito orgulhosa dos meus quatro rapazes.
    Para lhe desejar umas boas festas, tive que, minimamente, apresentar-me como sua leitora e admiradora.
    Até amanhã! Até sempre!
    Júlia Príncipe

  2. júlia says:

    Olá! R.Iturra:
    Entendi que poderia dar uma opinião, sobre o seu post,destacando a crise da humanidade.
    A crise do nosso País já estava anunciada há muito tempo. A atitude dos governos e a reacção dos cidadãos, menos informados,levou a que a crise aí está!…
    Agora, está na hora de agir e resistir.Temos de dar uma mão aos mais injustiçados, aos mais excluidos pela sociedade.Todas as condições básicas de vida tem de ser garantidas a todos os cidadãos.O exemplo tem de vir do topo:tem de libertar o pobre e incluir o excluido.Caro Amigo,um outro ser humano emergirá da própria Terra e chegará ao momento de sentir, pensar, amar e responsabilizar-se pelo futuro comum.
    Seremos mais solidários, humanizados,e eticamente responsáveis.
    Portugal precisa, que todos gostem dele.
    Só assim poderá crescer com verdade nos seus alicerces.
    Até amanhã! Até sempre!
    Júlia Príncipe

  3. Júlia Príncipe, muito obrigado pela sua paciência de ler os meus textos, que até hoje nunca tinha comentado. Se escrevi o que leu, é por causa do meu temor à mudança da nossa vida a partir de 1 de Janeiro. Estamos a ser traídos pelos políticos em que depositamos a nossa soberania…É o que mais me custa aceitar
    Mais nada digo, está todo no texto…
    Obrigado, Minha Senhora D. Júlia

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