Novas Oportunidades – depressa e bem afinal há quem

Estudo defende que Novas Oportunidades estão a trazer mais saber para as famílias

Numa sociedade que se pretende solidária, considero absolutamente justo que se procure dar sempre novas oportunidades a quem as não teve. Quem, por alguma razão, não pôde ou não quis estudar deve ser sempre incentivado a regressar, deve ter outras oportunidades de compensar o que não conseguiu alcançar. Tudo isso deve ser feito com base em, pelo menos, três pressupostos: deve ser um processo rigoroso, deve basear-se na vontade de aprender e deve ser facilitado pela legislação laboral. Qualquer diploma comprovativo de habilitações só terá significado real se for uma consequência disso.

Recentemente, foi apresentado um estudo em que se chega a várias conclusões acerca do programa Novas Oportunidades. A coordenadora estudo é Lucília Salgado, professora da Escola Superior de Educação de Coimbra. A autora já havia participado no Fórum Novas Fronteiras, organizado pelo PS, para além de ter estado presente no “Seminário Iniciativa Novas Oportunidades: Primeiros Estudos da Avaliação Externa”.

Segundo o que é possível apurar da notícia do Público, ficamos a saber que foram entrevistados 358 adultos que ficaram com a equivalência ao nono ano, sendo que a maioria terminou o processo em seis meses. A larga maioria afirmou que alcançou “um aumento de auto-estima, uma maior capacidade de realização e valorização pessoal e uma melhoria de comunicação e de relação com outros.” Para além disso, e continuando a citar, entre “as principais capacidades adquiridas depois da conclusão apontam o trabalho nos computadores, pesquisa na Internet, as competências na leitura e na escrita.” Se bem entendi, estas conclusões foram tiradas pelos próprios formandos. Não sendo isso despiciendo, a verdade é que parece tratar-se de um uma auto-avaliação demasiado sumária.

Até que me demonstrem o contrário, continuo a ver as Novas Oportunidades como uma ideia generosa aplicada com pouco rigor, porque, no fundo, acaba por queimar etapas, pervertendo a essência da Educação e contribuindo para o único objectivo que o Governo tem para a Educação: divulgar estatísticas de sucesso, sempre com a vergonhosa pressão da definição de metas. No entanto, o principal perigo que se corre é o de se estar a enganar milhares de portugueses que acabam por ficar com a impressão (ou, pelo menos, assim o declaram) que o pouco que aprenderam é suficiente para merecerem um diploma que, de outro modo, levariam muito mais tempo para obter. Ora, aprender implica tempo, como a cozinha tradicional; as Novas Oportunidades, os Cursos CEF e muitos cursos profissionais constituem fast-food: limitam-se a criar uma ilusão de saciedade. A reflexão sobre todas estas questões deveria ser levada a sério e não fazer como fez Luís Capucha, que se limitou a dizer que as críticas à iniciativa que tutela constituem uma defesa das elites contra a democratização dos diplomas.

Entrevistar alunos e perguntar-lhes se sabem mais do que sabiam permite afirmar que sabem o suficiente? Parece um estudo, mas cheira demasiado a propaganda.

Comments

  1. Não partilho na totalidade da ideia de haver sempre mais uma oportunidade, que é muito do discurso educacional da actualidade. Vejamos, faltas a mais? Não faz mal, aulas e trabalhos de recuperação. Não estudaram o suficiente? Venha lá o plano individual de trabalho para recuperar o aluno. Passou anos sem estudar? Saia um curso profissional ali para o canto. Fez toda a escolaridade nas nuvens? Não faz, ainda há as novas oportunidades.

    A mensagem que o Estado transmite aos alunos é que não importa se não houver esforço, já que haverá sempre mais uma oportunidade. Nada contra a que as pessoas procurem aumentar as suas qualificações. Mas em total desacordo com estratégias de embelezamento dos números do sucesso educativo, presentes dos “planos” de recuperação às Novas Oportunidades.

    • Fernando Nabais says:

      Talvez eu não tenha sido suficientemente explícito, efectivamente. Na realidade, queria referir-me apenas às pessoas que, devido a razões aceitáveis, desejem voltar a estudar, após alguns anos. De resto, tudo contra o facilitismo vigente que transmite aos jovens a ideia de que podem faltar ou não trabalhar, tendo sempre direito a mais uma oportunidade. Só em casos excepcionais cuja responsabilidade não pudesse ser assacada ao aluno é que se deveria ter direito a uma segunda oportunidade (tive um caso, recentemente, de uma aluna que foi atropelada e esteve um período sem comparecer às aulas).
      A propósito das Novas Oportunidades, efendo que devia haver aulas regulares e que o reconhecimento de competências deva ser absolutamente excepcional.
      O resto, já se sabe, é propaganda.

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