Miguel Sousa Tavares e a luz de Sophia: o lado bom da Força

Doação do espólio de Sophia de Mello Breyner à Biblioteca Nacional

Miguel Sousa Tavares faz-me lembrar Luke Skywalker, pois também dentro dele convivem o lado bom e o lado negro da Força. Tendo como ponto comum a frontalidade, há um Miguel Sousa Tavares inteligente e sensível, o mesmo que dirigiu a Grande Reportagem, por exemplo, e um outro que escreve e fala com a clava de um troglodita, quando defende o seu clube (é uma espécie de Leonor Pinhão de calças, pronto), quando ataca os professores ou quando argumenta com o volume de vendas dos seus livros como prova da qualidade dos mesmos. Hoje, tive o grato prazer de reencontrar o melhor Sousa Tavares: na companhia das irmãs, fez a doação do espólio da mãe, Sophia de Mello Breyner, à Biblioteca Nacional. Trata-se de um gesto absolutamente grandioso, de uma generosidade tão absoluta que só pode ser apanágio de pessoas que estão acima do portuguesinho egoísta, para quem a posse é um direito e a partilha é impensável. Vale a pena ler esta reportagem e apreciar as palavras de Miguel Sousa Tavares, com direito a brinde: uma história engraçadíssima que inclui Azeredo Perdigão, Sophia e dois patos.

Comments

  1. Rodrigo Costa says:

    … Apenas para dizer ou comentar as palavras de Sousa Tavares, ao dizer saber bem a sensação de dar algo ao Estado, quando a maior parte das pessoas esperam que o estado lhes dê tudo ou alguma coisa (!!!???)…

    Miguel de Sousa Tavares deu o quê?… Quem seria o Miguel de Sousa Tavares, se fosse filho de outras pessoas? É o Miguel de Sousa Tavares quem deve tudo a um país que existe dividido por clãs, fora dos quais ninguém mais existe. Há pessoas a quem o Estado deve tudo, porque o Estado lhes sugou tudo, desde a vida aos sonhos —é lindo vermos o altruísmo de pessoas carregadas de privilégios.

    E se existem —porque existem— descendentes de artistas que não doam espólios ao Estado, é porque o Estado nunca os reconheceu em vida; direccionou as tetas para outras bandas. Talvez que a doação do espólio de Sofia —independentemente do seu nível— seja a devolução ou a paga do conforto e do reconhecimento político —a alusão a Humberto Delgado, vem muito a propósito—, porque não vejo Mário Soares a perceber um corno de poesia.

    E há, ainda, a hipótese de tudo ter sido feito contrariando a sua vontade, se não houver escrito —intenção sua— que deixe claro ser isto que a Senhora queria —era interessante saber-se a que se devia o seu “fecho”, o seu isolamento; a sensação de que ninguém a compreendia… Por ora, fica a homenagem; a hora em que os destituídos podem fazer-se ouvir… porque o artista já não os ofusca; qualquer medíocre pode, então deitar faladura.

  2. António Fernando Nabais says:

    Não sou, como deve ter notado, um admirador de Miguel Sousa Tavares, mas isso não me impede de ver aqui alguma grandeza e de lhe descortinar, pelo menos no passado,algumas qualidades. É certo que se trata de um homem privilegiado, também por ser filho de quem foi, mas isso não foi uma escolha pessoal, foi um acaso. É mais fácil ser generoso se se for privilegiado? Com certeza. Será mais fácil Belmiro de Azevedo fazer uma doação de 20000 euros, por exemplo, do que um funcionário público dar uma esmola de 50. No entanto, o que está aqui em causa não é propriamente dinheiro, são os haveres pessoais de uma pessoa querida, a mãe. Haveres pessoais que poderão ter valor estimativo para estes cinco filhos. Por acaso, a mãe em causa é um nome importante da poesia portuguesa e eles sentiram o dever – pelo menos, é o que declaram – de partilhar isso com o País.
    De resto, o Estado português merece todas as críticas que lhe faz e até poderá ver-se no discurso de Sousa Tavares um auto-elogio escusado, que lhe é habitual, mas, repito, e na minha opinião, trata-se de um gesto pessoal com alcance altruísta que merece algum destaque.

  3. Pena o Sousa Tavares não ler blogs.

    • Não lê? Foda-se, que gajo inteligente! É que a blogosfera é cada vez mais um covil de aprendizes de jornalistas, jornalistas de meia-água, boateiros e toda a sorte de cretinos equivalentes a um fala-só do Metropolitano e com a mesma importância…

      P. S. As questões de foro psiquiátrico, a alienação da realidade, as ilusões de poderio, etc, essas já são estudadas – até por mim… 🙂

  4. Rodrigo Costa says:

    Caro António Fernando Nabais,

    Não comentei o seu texto, por me parecer que fosse admirador do Miguel de Sousa Tavares. Comentei, porque os actos de altruísmo devem ter recato, sob pena de que quem os tem pretenda ganhar dividendos —quaisquer dividendos— com isso. E, como saberá, o país está cheio de gente famosa para quem todo o tempo de antena é pouco; porque todo o tempo de antena é investimento, na medida em que as pessoas desempenham actividades de que projectam lucro; e, quem não é visto, não é lembrado —a guerra de audiências, etc, etc, etc…

    Quando digo “privilegiado” não quero, necessariamente, dizer “rico”; refiro-me a alguém que goza de todos os privilégios, a quem tudo ou quase tudo, pelo estatuto, é permitido.

    Claro que Miguel de Sousa Tavares não nasceu por encomenda; mas há gente, com talento, que teve o azar de nascer de outros acasos. É isso que esse senhor parece ter dificuldade em perceber. Mais: quem tinha talento era a mãe; ele é, simplesmente o filho que beneficiou do seu estatuto.

    Nota: Acha que o La Féria, de cada vez que montava o espectáculo “Amália”, era para render homenagem?…. Ele sabia que o pagode acorria na lembrança do cadáver. Já o viu montar um espectáculo com base numa hiostória que fosse dele?… Ninguém presta homenagem a quem não é famoso… porque não traz evidência e, muito menos, lucro.

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