Jaz morta e arrefece

Augusta Duarte Martinho completaria 96 anos no próximo dia 12. Completaria, porque está morta há nove anos. Mas apenas agora é notícia. Porque só ontem o seu corpo foi encontrado.

O andar em que vivia foi vendido em leilão pelas Finanças e quem o comprou encontrou o corpo da idosa. Terá morrido sozinha. Não sei se era boa ou má pessoa. Se mereceu ou não viver os últimos dias em total solidão, como uma espécie de castigo.

O desaparecimento de Augusta Duarte Martinho tinha sido participado à GNR, em Novembro de 2002, por uma vizinha. Parece ter sido a única interessada. Ela e o cão que lhe fazia companhia. E que foi encontrado morto na varanda da casa.

Comments

  1. Também vi essa noticia na SIC e fiquei indignado no país em que vivo. Juntando isso ao facto de qualquer condutor poder ficar ‘sem carro na hora’ parado pela ex-BT por dividas fiscais deixa-me absolutamente desejoso que comece aqui uma revolução igual ou pior que no Norte de África.

    Em Portugal, no ano de 2011 pode-de dar poderes à policia de trânsito para fazer apreensões, e permite-se que o fisco venda uma casa sem contactar com o proprietário nem para saber se está vivo ou morto (em caso de morte, o imóvel não pertence aos herdeiros, ou será do chefe de finanças de Sintra?). Um país onde uns senhores refastelados proíbem a video vigilância para prevenir crimes mas autorizam que os policias tenham acesso às dividas fiscais de qualquer contribuinte.
    Este mesmo país deixou uma cidadã (na altura ainda com os impostos em dia) morta durante 9!!! NOVE ANOS ignorando os apelos da idosa vizinha que pedia encarecidamente a bombeiros e GNR que abrissem aquela porta. Afinal a velhota foi pedir ajuda às entidades erradas, tivesse ido à Finanças e dissesse que havia ali um monte de ouro que podia ser taxado e a porta teria sido arrombada em 10 minutos, assim foram precisos 9 anos.

    É caso para dizer: MATEM, ESFOLEM mas não devam nada ao FISCO que os senhores governantes precisam mesmo, mas mesmo, mesmo do dinheiro!

    • Artur says:

      Mas para além dos impostos que vão eventualmente ser mal gastos pelos nossos governantes, não é também com os impostos que se paga o trabalho dos funcionários publicos, que se constroiem e mantêem escolas, tribunais, prisões, museus, bibliotecas, infra-estruturas desportivas, estradas, pontes, quarteis, autarquias, fundos de desemprego, rendimentos sociais, pensões, subsidios?
      Que método é que o Sr Carlos propõe para que o Estado cobre dos contribuintes incumpridores os impostos devidos?
      Não acha que é injusto para os contribuintes cumpridores que o Estado tolere a existência de incumpridores se não tomar medidas com vista a fomentar o seu cumprimento? Não acha por exemplo que é injusto para uma empresa que paga os seus impostos, exstirem outras que não pagam e que como tal têm maiores hipóteses de sucesso?
      O que é que propõe que o Estado faça para vir a receber o que lhe é devido?
      Criticar é fácil, já chegar-se à frente com soluções sérias é outra coisa.

      • José Pereira (Eu Próprio no facebook) says:

        Exacto, Sr. Artur. Tem toda a razão ao enumerar onde o Estado gasta PARCIALMENTE as suas receitas, lamentavelmente também as gasta, como refere, em quarteis, alguns dos quais da (in)competência dos senhores da GNR, como aqui é o caso!
        E repare que o Estado persegue os pequenitos; os compadres detentores de grandes empresas em qualquer jantar alisam os seus impostos. Continue lendo aqui o blogue e logo verá que há muita seriedade dos que escrevem mas muito menos dos que lêem. (Falo como leitor).
        O caso é ignóbil e a política actual é-o mais ainda!!!
        Cumprimentos.

        • Artur says:

          A politica é tão ignóbil actualmente como já o era no passado. Confundir politica (politicos) com Estado é ver apenas umas árvores mas não toda a floresta. O Estado desenvolve uma série de tarefas que os seus cidadãos necessitam ( o tal contrato social). Só que como não se fazem omoletes sem ovos, o Estado precisa de receitas, nomeadamente através dos impostos.
          Que há alguns que se abarbatam de parte dessas receitas ou as gastam mal gastas é evidente e diria até humanamente “natural”. Agora isso não pode nem deve ser usado para se criticar o fisco e aproveitando todos estes fait-divers em que o Fisco aparece como o cobrador frio e implacável que só persegue os pequenos e deixa os grandes à solta.
          Muitos dos que criticam os abarbatadores se estivessem no mesmo lugar fariam exactamente o mesmo. A moral é fraca e o dinheiro e o poder são tentadores. A maioria de cidadãos indignados critica os efeitos mas não deixa de contribuir para as causas.

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  1. […] , abandono e desinteresse, um retrato de certa sociedade que criámos. O meu colega José Freitas deu conta dos factos aqui no Aventar, num estilo curto, seco e objectivo. Dizia que o corpo da senhora e o do seu cão […]

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