Influências da Língua Árabe no Português

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“A sabedoria dos Romanos residia no seu cérebro, a dos Indianos na sua imaginação e a dos Árabes na sua língua”

(Poeta árabe citado em ALVES, 2013, pág. 29)

O Português é uma língua derivada dos dialectos latinos, românicos peninsulares ou simplesmente romance, que resultaram da mistura do “latim vulgar”, falado pelos soldados romanos, com os dialectos locais existentes na Península Ibérica à data da sua ocupação. O Português, primitivamente Galaico-português, forma-se directamente a partir do Leonês ou Asturo-Leonês, e tem como substrato a língua nativa dos Galaicos, Lusitanos, Célticos e Cónios.

O Português sofre inevitavelmente a influência da Língua Árabe, influência que ultrapassa em muito a extensão que a maioria dos autores refere, não só em termos de “marca” no seu léxico, como da própria forma como se opera.

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Um pássaro que fala glorifica Allah

Adalberto Alves, no seu “Dicionário de Arabismos na Língua Portuguesa”, esclarece que a influência da língua Árabe, para além dos seus aspectos evidentes ou visíveis, ou seja, do léxico Árabe directamente transposto para o português, deve considerar todos aqueles que chegam ao português de forma “encapotada”, através da tradução de textos Árabes por religiosos cristãos, cuja origem, “por preconceito religioso (…) a hierarquia da Igreja queria apagar” (ALVES, 2013, pág. 17). Adalberto rotula esses termos “algo jocosamente” de arabim ou arabrego. “A praga de usar nomes e verbos árabes sem reconhecê-los como tal, conseguiu vingar, até agora (…) nos dicionários europeus”. (ALVES, 2013, pág. 19)

Assim, a extensão da influência do Árabe no Português, que a maioria dos autores resumem a cerca de 1.000 substantivos, deve ser consideravelmente alargada, não só no seu número, que segundo Adalberto Alves é de 18.073 termos, como ao nível gramatical, já que inclui não só substantivos, como adjectivos, verbos, pronomes, artigos e interjeições. (ALVES, 2013, pág. 23)

A influência do Árabe no Português é bastante mais marcada do que no Castelhano ou no Catalão, línguas que, localizando-se geograficamente mais próximas de França recebem a sua influência directa e têm um efeito de tampão no Português. A título de exemplo refira-se que aos 18.073 termos que o Português recebeu correspondem cerca de 4.000 termos recebidos pelo Castelhano.

Convém também esclarecer que a arabização da Península não impôs nem a religião Muçulmana nem a língua Árabe como únicas, mantendo-se “activos” durante o período do Al-Andalus os dialectos moçárabes e o Hebreu, que aportaram termos próprios ao Português.

A conversão dos mouriscos

A conversão dos mouriscos . retábulo da Capela Real de Granada

Até 1496, data do decreto de expulsão das minorias muçulmana que não aceitassem a conversão forçada ao cristianismo, o processo de influência do Árabe no Português persiste, não só nas chamadas “ilhas muçulmanas em território português”, as mourarias, como através da influência sofrida em Marrocos pelos portugueses via “Mouros de Pazes”. Com a instituição do terror da Inquisição em 1552, o Árabe é proibido, reduzindo-se à sua expressão mínima e clandestina, a escrita “aljamiada”. Inicia-se então um período de expurgação de tudo o que é ou soa a Árabe.

Apesar dos mais de 500 anos que durou a presença Árabe em Portugal essa influência refere-se essencialmente ao léxico, pelo que não podemos falar de uma influência estrutural. Um aspecto extremamente relevante é o da adopção de muitos termos Árabes na formação do calão português, a chamada “gíria dos rufiões“, que no período da inquisição terá tido grande incremento através da utilização de expressões e termos encapotados pelos mouriscos e cripto-muçulmanos.

De seguida procura-se dar, apenas a título de exemplo, uma visão geral relativa aos aspectos mais evidentes desta influência.

Antes de mais uma referência a quatro exemplos paradigmáticos e que fazem supor que algumas expressões de caracter religioso perduraram pelo engenho popular:

Oxalá (law xá Allah ou incha Allah, se Deus quiser).

Olá (wa Allah, Deus, saudação).

Olé (wa Allah, Deus, interjeição utilizada como aplauso ou incentivo).

Olarilolé (la illaha ila Allah, não há divindade senão Deus, profissão de fé muçulmana).

Patio da Casa do Alentejo

Pátio da Casa do Alentejo em Lisboa

A grande maioria dos substantivos começa com o artigo definido Al (o ou a), muitas vezes com o l assimilado à consoante inicial do substantivo, concretamente quando esta é uma consoante solar. No alfabeto Árabe não existem vogais, mas apenas consoantes, e as consoantes dividem-se em consoantes lunares e consoantes solares. As consoantes lunares não têm influência na pronúncia do l do artigo Al, quando constituem a letra inicial da palavra, como por exemplo em Alferes (o cavaleiro), Almeida (a mesa) ou Alcântara (a ponte). Mas as consoante solares quando colocadas na mesma posição assimilam o l do artigo Al, duplicando o seu valor.

Por exemplo Azeite escreve-se Alzeite em Árabe, mas pronuncia-se Azzeite pelo facto de o z ser uma consoante solar. Daí a origem de termos como Azulejo, Açorda ou Atalaia.

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Outras formas comuns de início de termos de origem Árabe são as palavras que começam por x (Xadrez, Xarope ou Xerife) ou por enx (Enxaqueca, Enxoval ou Enxofre).

Outras palavras são caracterizadas pela terminação, como as que terminam em i (Javali, Mufti ou Sufi), em il (Cordovil, Mandil ou Anil), em im (Alecrim, Carmesim ou Cetim) e as terminadas em afe ou aque (Alcadafe, Almanaque ou Atabeque).

Algumas consoantes Árabes não entram nos vocábulos portugueses por uma questão de não se adaptarem à forma de pronunciar do português, como o h que geralmente se transforma em f, como em Alfama (do Árabe Alhammam), Alfazema (do Árabe Alhuzaima) ou Alface (do Árabe Alhassa).

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“Volta do Mercado Saloio” de Roque Gameiro . Saloio é a designação dos muçulmanos expulsos de Lisboa após a sua conquista pelos portugueses, que se instalaram na área rural situada a Norte e Poente da cidade; a origem do termo não reúne consenso, sendo a explicação mais plausível a que defende que deriva da palavra صلاة “salat” ou “oração”, já que designava aqueles que rezavam 5 vezes por dia “fazendo o çala”, e que eram chamados na época “çaloyos”; esta seria também a origem de “çalayo”, nome do imposto pago sobre o pão na região de Lisboa; outra explicação é a origem do termo na palavra ساحلي “saheli”, que significa “habitante do litoral”; outra ainda é a origem em سلاوي “salaui” ou habitante da cidade marroquina de Salé, designação local para a população rural

Os substantivos podem ser agrupados em várias categorias, maioritariamente relativas a inovações ou contributos que os Árabes introduziram na nossa sociedade, e a topónimos, que se observam de Norte a Sul do País e que muitas vezes aportam informações sobre o passado das próprias localidades.

No primeiro caso refiram-se as designações de cargos públicos (Alcaide, Almoxarife ou Alferes), termos de tipologias de edificações (Alcácer, Alcáçova ou Aljube), de construção (Alvenaria, Azulejo ou Açoteia), de instituições administrativas (Aldeia, Arrabalde ou Alfândega), de plantas (Arroz, Alfazema ou Alfarroba), de frutos (Tâmara, Romã ou Ameixa), de profissões (Alfaiate, Almocreve ou Alfaqueque), de termos relacionados com a agricultura (Enxada, Alcatruz ou Azenha), com a actividade militar (Adaga, Arsenal ou Arrebate), de termos médicos (Xarope, Enxaqueca ou Alcalino), de termos geográficos (Azinhaga, Lezíria ou Albufeira), de unidades de medida (Alqueire, Arroba ou Arrátel), de animais (Alcatraz, Lacrau ou Javali), de adereços (Alfinete, Almofada ou Alcatifa), de instrumentos musicais (Adufe, Alaúde ou Rabeca), de produtos agrícolas e industriais (Azeite, Álcool ou Alcatrão), das ciências exactas (Álgebra, Algarismo ou Cifra).

Casa do Alentejo Lisboa

Casa do Alentejo em Lisboa

Alguns nomes próprios e apelidos têm também a sua origem em nomes Árabes, como por exemplo Leonor (em Árabe Li an-Nur, ou que vem da luz), Abel (Abu l-, pai de), Fátima (nome de uma das filhas do Profeta Maomé), Albuquerque (Abu-l-qurq, ou o do sobreiro), Bordalo (Badala, abundante) ou Almeida (Al maida, a mesa).

Muitos termos do calão português, do mais brejeiro ao mais indecente, têm origem no Árabe. Por exemplo Marafada (Mraa Khaina, ou mulher que engana), Mânfio (Manfi, desterrado ou proscrito) ou ainda Marado (Marid, ou doente).

No caso dos topónimos, para além da grande maioria de termos iniciados pelo artigo Al ou pela sua forma com o l assimilado, existem outros com origem comum, que podemos agrupar.

Por exemplo, os topónimos iniciados por Ode (do Árabe Ued ou Rio), como Odemira, Odeceixe ou Odeleite.

Os iniciados por Ben (em Árabe Ben ou Ibn significa Filho, mas em toponímia tem o significado de Lugar), como Bensafrim, Benfarras ou Benamor.

Castelo dos Mouros

Castelo dos Mouros em Sintra

A título de curiosidade refiram-se alguns topónimos de origem Árabe com indicação do seu significado:

Albarraque (Albarrak, o brilhante), Albufeira (Albuhaira, a pequena barragem), Alcabideche (Alqabidaq, a “mãe de água”), Alcácer (Alqassr, o castelo), Alcáçovas (Alqassba, a cidadela fortificada), Alcalar (Alqalaa’, o forte), Alcaidaria (a chefia), Alcaide (o chefe), Alcains (Alkanissa, a igreja), Alcanena (Alqanina, a cabaça), Alcântara (a ponte), Alcantarilha (diminutivo de Alcântara), Alcaria (a aldeia), Alcobaça (Alkubasha, os carneiros), Alcochete (Alqucha, o forno), Alcoentre (Alqunaitara, a ponte pequena), Alcoitão (Alqaiatun, a tenda), Alcongosta (Alkunasa, o areal), Alcoutim (Alkutami, o falcão),  Alfama (Alhamma, a fonte), Alfambras (Alhamra, a vermelha), Alfarelos (Alfahar, a louça), Alfeizerão (Alhaizaran, o canavial), Alfarim (Alfaramin, os decretos), Alfarrobeira (Alharruba, o mesmo que em português), Alferce (Alfarz, o que separa, entre duas colinas), Algarve (Algharb, o Ocidente), Algeruz (o canal), Algés (Aljaich, o exército), Algueirão (Aljairan, as grutas), Alhandra (Alandar, a debulha), Alijó (Alaja, telhado plano), Aljezur (Aljuzur, as ilhas), Almacave (Almaqabara, os cemitérios), Almada e Almádena (Almadana, a mina), Almansil (a estalagem), Almargem (Almarj, o prado), Almarjão (Almarjun, o pedregal), Almedina (a cidade), Almeida (a mesa), Almeirim (Almirin, o limite), Almoçageme (a água que corre), Almodôvar (Almuduar, o meandro), Almoster (Almustar, lugar de aprovisionamento), Alpedrinha (Albadri, luarento), Alpiarça (Albiraz, o duelo), Alqueidão (Alhaima, a tenda), Alte (Altaf, elegante), Alvaiázere (Albaiaz, o falcoeiro), Alvalade (Albalad, o campo), Alverca (Albirka, o pântano), Alvor (Albur, a charneca), Alvorge (Alburj, a torre), Anadia (delicada), Arouca (Aruqa, a bela), Arrábida (edifício religioso fortificado), Arrifana (Arihana, a murta), Arronches (Arauxan, as penhoras), Arruda (Aruta, planta silvestre), Asseca (o caminho recto e plano), Atalaia (lugar alto de onde se exerce vigilância), Aveiro (Aluarai, retirado, resguardado), Azambuja (o zambujeiro), Azeitão (Azeitun, a oliveira), Azóia (Azauia, a ermida).

Belamandil (Banu Mandil, nome de tribo), Bela Salema (Banu Salam, filhos da paz, nome de tribo), Belixe (garça), Benaciate (Ben sayyad, lugar ou filho do caçador), Benaçoitão (Ben As-Sultan, filho do poder), Benafin (Ben ‘Affan, filho do puro), Benagil (Ben Ajawid, filho do generoso), Benamor (Ben ‘Ammar, filho do devoto), Benavente (Ben ‘Abbad, lugar do devoto), Bencatel (Ben Qatil, filho da vítima), Benevides (Ben ‘Abid, lugar do adorador), Benfarras (Ben Farraj, filho da consolação), Benfica (Ben Fiqa, filho da calmeirona ou da mulher alta), Bensafrim (Ben Saharin, lugar dos feiticeiros), Beringel (beringela), Birre (Bir, poço), Bobadela (Bu abdallah, pai do escravo de Deus), Boliqueime (Bu Alhakim, nome próprio), Borba (Birba, labirinto), Bucelas (Basala, cebola), Budens (Bu Danis, nome de tribo que governou Alcácer do Sal), Burgau (Burqa, zona com o solo pedregoso).

Cacela (Qassila, seara), Cacém (Qassim, nome próprio, que significa aquele que testemunha), Cacilhas (Hasila, lixeira), Caneças (Kanissa, igreja), Cartaxo (Qar at-Taj, residente do Tejo), Caxias (Kashih, inimigos), Charneca (Xarnaqa, terreno inculto), Chelas (Xila, arco), Colares (Kula, pequeno lago), Coruche (Quraichi, nome de tribo), Cuba (cúpula), Elvas (Ilbax, risonha), Estoi (Ustul, esquadra), Estômbar (Ustuwanat, arcos), Falacho (solo gretado), Faro (Harun, nome próprio), Fatela (Fath Allah, vitória de Deus), Fátima (nome da filha do Profeta Muhammad), Golegã (Ghalghal, entrar ou penetrar), Leça (Laza, ferrolho), Loulé (Al’ulia, a elevada), Loures (Lawr, lira), Lousã (Lawha, ardósia), Luz (amêndoa).

Mafamede (Muhammad, muçulmano),  Mafamude (Mahmmud, louvável), Mafra (Mahfra, cova), Magoito (Maqhut, árido), Malhada (lugar de travessia de um rio), Marateca (Mar’a at-Taqia, mulher devota), Marvão (Marwan, nome próprio), Massamá (Maa as-Sama’, água do céu), Mesquita (Massjid, o mesmo que em português), Messejana (prisão), Messines (elogioso), Mora (Murah, pastagem), Moscavide (Maskbat, sementeira), Mucifal (Mussafa, vale inundável), Muge (Muhja, alma), Murça (Mussa, nome do conquistador Árabe do Gharb Al-Andalus), Nexe (Naxa, juventude), Niza (disputa).

Odeceixe (Ued Sayh, rio da torrente), Odeleite (Ued Layt, rio do eloquente), Odelouca (Ued Luqat, rio das sobras), Odemira (Ued Amira, ou rio da princesa), Odiáxere (Ued Arx, rio da punição), Odivelas (Ued Ballas, rio da terracota), Oeiras (Urwah, moitas), Olhão (‘Ullyah, elevado), Oura (Awra, esconderijo), Ourén (Wahran, nome de cidade na Argélia), Ourique (Wariq, verdejante), Ovar (‘Ubr, curso de água), Palmela (Bismillah, ou em nome de Deus), Parchal (Barjal, circuito), Penela (Ben Allah, filho de Deus), Peniche (Ben ‘Aixa, filho de Aixa), Quelfes (Kallaf, moço de estrebaria), Queluz (vale da amendoeira), Retaxo (Ritaj, entrada).

Sacavém (Xaqaban, próximo), Safara (Sahara, deserta), Salema (Salama, paz), Sameiro (Samar, junco), Samouco (Samuq, alto), Sargaçal (Xarqwasi, arbusto), Serpa (Xarba, poção), Sertã (Saratan, caranguejo), Setil (Sabtil, de Ceuta), Sever (Sabir, colina), Sines (Sin, fortaleza), Sor (Sur, cerca), Tarouca (Turuq, caminhos), Tavira (Tabira, ruína), Tercena (Dar as-Sina, casa da industria), Trofa (Taraf, extremidade), Valada (Balat, planície), Vau (Wad, rio), Vieira (Bayara, concha), Xabregas (desfazer), Zambujal (de Zabbuj, oliveira brava), Zavial (Zauia, azóia), Zêzere (Za’za’a, agitação).

Bibliografia:

ALVES, Adalberto. “Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa”. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2013

CORRIENTE, F. “Diccionario Arabe-Español”. Instituto Hispano-Arabe de Cultura, Madrid, 1977

CONDE, Manuel Sílvio Alves.  “Ocupação Humana e Polarização de um Espaço Rural do Gharb Al-Andalus. O Médio Tejo à Luz da Toponímia Arábica”. In “Horizontes do Portugal Medieval”, Cascais, 1999

CUNHA, António Geraldo. “Dicionário Etimológico”. Lexikon, 2010

FERNANDES, Maria Alice, KHAWLI, Abdallah e FRAGA DA SILVA, Luís. “A Viagem de Ibn ‘Ammar de S. Brás a Silves”. Comunicação às I Jornadas “As vias do Algarve, da época romana à actualidade”, São Brás de Alportel, 21 e 22 de Abril de 2006, Câmara Municipal de São Brás de Alportel, 2007

MACHADO, José Pedro. “Vocabulário português de Origem Árabe”. Círculo de Leitores. Lisboa, 1997

RIBEIRO, Carlos Leite. “Distritos e Concelhos de Portugal”. Página electrónica

SABBAGH, Alphonse Nagib. “Dicionário Árabe-Português-Árabe”. Editora da UFRJ, Rio de Janeiro, 1988

SILVA, José Pereira. “Contribuição Árabe na Formação do Português”. Página electrónica

SOUSA, Frei João de. “Vestígios da Língua Arábica em Portugal”. A. Farinha de Carvalho, 1981

ZEKRI, Mostafa, BAPTISTA, Jorge. “Manual de Iniciação ao Árabe”. Universidade do Algarve, Faro, 2002

Comments

  1. Simplesmente fantástico… diria interessantíssimo e com um grande valor cultural…

  2. L Vieira says:

    (al)meida, trata-se geralmente de mesa com jantar, ou jantar na mesa e convidados, não propriamente mesa (fonte: amigo árabe)

    • Frederico Mendes Paula says:

      L Vieira_ tem razão no sentido que (Al)meida é a mesa onde se come, ou seja, não é o nome dado a qualquer mesa, mas apenas à mesa onde se come.
      No entanto o nome existe também aplicado a “meseta” ou “planalto”, como é o caso do topónimo da Cidade de Almeida.

      • L Vieira says:

        pois, faz sentido de facto… quando me deram a explicação complicaram-na!

  3. Frederico Mendes Paula says:

    Nuno Castelo-Branco _ conforme escreve Luís teixeira Neves, o nome Nuno parece ter origem no Hebreu como sinónimo de “peixe”.
    Em relação ao comentário de Ib Kamel sobre Nuno significar em Árabe “menino” ou “pequeno”, tenho a comentar que de facto os Árabes chamam aos bébés NUNU, que terá origem no nome de um pássaro muito pequeno chamado SANUNU. Mas parece que esse nome não terá relação com a origem do nome próprio Nuno.

  4. Frederico Mendes Paula says:

    Luís Teixeira Neves _ um comentário ao termo Miróbriga. O sufixo “briga” parece estar ligado com a cultura castrense, reportando-se a topónimos de castros. Como exemplos refiro Lacóbriga, origem do nome da cidade de Lagos, e Talabriga, origem do nome da cidade de Tavira.

  5. Amadeu says:

    Salamaleques para o Frederico !!

  6. Frederico Mendes Paula says:

    João Vargas Reis _ Nuraddin é um nome composto de NUR (LUZ) e DIN (RELIGIÃO). Significa pois LUZ DA RELIGIÃO

  7. Muito interessante a recolha. Parabéns!

    Todavia “Alfama” significa a escola e a mesquita, pois fazia as vezes das duas (Al Gamaa). Atente-se à escrita da letra “f” em árabe e à da letra “g” e “h”. São similares.

    “Safara” significa a Embaixada, pois Safir é o embaixador e Safira, a embaixatriz.

    Boa recolha! Vou utilizá-la nas minhas aulas com alunos do 3º ciclo e ensino secundário.

    Sinceros cumprimentos.

  8. Frederico Mendes Paula says:

    Obrigado pelo seu comentário Eveline, que merece toda a minha consideração.
    Gostaria no entanto de deixar aqui umas notas sobre o que escreve.
    Muitos dos topónimos portugueses foram transmitidos oralmente e não através da escrita.
    Por outro lado, para muitos dos topónimos existem várias possibilidades relativamente à sua origem, pelo que penso que em muitos casos não podemos afirmar com certeza de onde provêm.
    No caso de ALFAMA refere que as consoantes F, G e H Arabes têm escrita similar. De facto o DJIM Arabe ج e o HÁ ح apenas diferem um do outro porque o DJIM tem um ponto por baixo. Mas o FÁ ف nada tem a ver com as outras duas consoantes em termos de escrita. Não existe assim uma relação entre o DJIM e o FÁ em termos escritos (nem em termos fonéticos). Pessoalmente não conheço nenhuma palavra Arabe começada por DJIM que passe para português começando por F. Mas entre o HÁ e o FÁ, apesar de também não existir uma relação em termos escritos, existe uma relação em termos fonéticos _ é que o H não se pronuncia em português e então a maioria das palavras Arabes começadas por HÁ passam para o português transformando o HÁ em F. Veja-se o caso de ALMOFADA, ALFAIATE, e, acrescentarei, ALFAMA.
    No entanto, se tem acesso ao nome de Alfama escrito em Arabe seria interessante verificar se é de facto JAMAA ou HAMMAM (faço notar que o som G só existe no Egipto, e o DJIM tem em Arabe o som J).
    No caso de SAFARA reconheço que a origem mais imediata será EMBAIXADA, mas não é isso que encontrei na pesquisa que fiz, e a explicação para ter a sua origem em SAHARA é a mesma que para ALFAMA _ a passagem do HÁ para F.
    Quanto à questão de a Mesquita ser sempre local de culto e escola, é verdade apenas em algumas situações, principalmente nas antigas universidades, dado que, a grande maioria das Jamaa são apenas mesquitas.

    • irina says:

      Boa tarde,
      Cheguei ao seu artigo procurando o significado de “Alfama”.
      Aqui
      (http://www.lexico.pt/alfama/)
      diz que é um “Bairro ou alcoice de judeus. Asylo, refúgio. (Do ár.)”
      Como assim?
      Obrigada!

      • Hisham ibn Umaya says:

        Cara Irina, veja o meu comentário de 6/1/2013 (4º parágrafo), a resposta está lá. Irá constatar que é extremamente improvável (mas não impossível) que “Alfama” tenha a origem atribuída no mencionado sítio.

        • irina says:

          Caro Hisham, OBRIGADA! agora está tudo claro 🙂 “fonte termal de áqua quente” para mim também faz mais sentido…

  9. Cirilo says:

    Arrábida (lugar de oração), Azóia (Azauia, ou lugar de oração) como?

  10. Frederico Mendes Paula says:

    Obrigado pelo seu comentário, porque permite esclarecer o significado demasiado “simplista” e pouco rigoroso que atribuí aos dois termos.
    De facto, se virmos bem, lugar de oração para os muçulmanos é a mesquita, termo que provém do Arabe “massjid”.
    As arrábidas e as azóias eram mais do que isso, porque aliavam ao local de culto em si outras funções, principalmente de meditação e retiro.
    As arrábidas eram basicamente conventos fortificados, geralmente localizados em sítios ermos.
    As azóias tinham a sua origem no local onde teria sido sepultado um santo, e funcionavam como sedes de confrarias ou irmandades. Para além de conterem uma mesquita, incluíam uma escola corânica e davam guarida a peregrinos ou outros religiosos que necessitassem de abrigo. As azóias tinham também uma função militar, funcionando como sedes de “cavalaria espiritual”, que podemos fazer corresponder às ordens religiosas-militares cristãs, como por exemplo os templários. Por esse motivo as azóias situavam-se geralmente nas fronteiras das zonas islamizadas, no Andalus nas fronteiras com os reinos cristãos, no Magrebe nas fronteiras com as zonas ocupadas pelas tribos berberes.

  11. Maria José Relvas says:

    Tenho tentado em alguns sites descobrir o significado do nome da minha aldeia natal, marcadamente de origem árabe – ALMOÇAGEME. Descobri duas versões comuns a vários sites, um como sendo “mesquita” outro como sendo “rios que correm”. Apesar de aparecerem quase com a mesma frequência, não consegui ficar esclarecida qual a versão mais verosimil. Além disso, tenho muita curiosidade em saber qual a grafia da palavra em árabe.
    Fiquei muito contente por ter encontrado este site onde consta esta sua interessante recolha. Desde já os meus sinceros parabéns e muito obrigada,

  12. Frederico Mendes Paula says:

    O termo ALMOÇAGEME não tem qualquer significado na Língua Árabe, sendo portanto um termo derivado de uma palavra Árabe.
    Em relação à possível origem do termo na expressão RIOS QUE CORREM, não me parece razoável, já que em Árabe se traduz por ANHAR JARIA. No dialecto marroquino a expressão traduz-se por OUAD JARI, não tendo portanto qualquer uma delas uma relação fonética com ALMOÇAGEME. No entanto a palavra ALMASSJID, plural ALMASSAJID, que significa A MESQUITA tem toda a relação. Faço ainda notar que o termo MESQUITA era comum enquanto topónimo Árabe, sendo assim muito provável que seja esse de facto a origem da palavra ALMOÇAGEME.
    De seguida escrevo a palavra em caracteres Árabes, no singular e no plural.
    المسجد = ALMASSJID
    المساجد = ALMASSAJID
    Obrigado pelas suas palavras e cumprimentos

  13. Maria José Relvas says:

    O excerto abaixo consta num dos sites que consultei e exibe as duas versões consideradas possíveis para a origem do nome de ALMOÇAGEME.

    Aparentemente a forma escrita da palavra árabe que significa A MESQUITA não é coincidente, poderá corroborar se são a mesma palavra ou existe um lapso na palavra que aparece neste excerto do texto.

    Poderá haver alguma coerência ou relação da palavra AL-MUNSAGEM, abaixo transcrita como significando “ÁGUA QUE CORRE, OS RIACHOS”, com a palavra ALMOÇAGEME.

    “Assim, e segundo diversos estudos, Almoçageme tem raiz na palavra árabe al-masjid ou al-mesijide, que significa “a mesquita”. Desconhece-se, no entanto, se existiria nesta localidade alguma mesquita que tivesse dado origem a esta toponímia. Contudo, para a denominação Almoçageme, existe outra interpretação (*), a qual, atribuindo a mesma origem islâmica, refere que o termo a considerar é al-munsagem , que significa ” água que corre, os riachos”. Esta interpretação é a mais coerente, evidenciando a profusão de inúmeros pequenos ribeiros que, então todos a céu aberto, corriam abaixo pela encosta ocidental da serra de Sintra.”

    (*) Maria Teresa Caetano, Joaquim Filipe
    Ler mais: http://www.bvalmocageme.pt

    Sinceros cumprimentos e obrigada pela disponibilidade,

  14. Frederico Mendes Paula says:

    ALMOÇAGEME _ palavra que não existe em Arabe, como tal dela deriva
    ALMASSJID _ a mesquita مسجد (http://www.wordreference.com/aren/مسجد)
    ALMUNSAGEM _ congruente, concertado, concordante, compatível منسجم (http://www.wordreference.com/aren/منسجم)
    agua que corre _ ALMA ALJARI الماء الجاري
    riachos _ UADIAN وديان

    pelo exposto, não encontro relação entre ALMUNSAGEM e “agua que corre” ou “os riachos”
    cordiais saudações

  15. Radhouan says:

    Caro Frederico, obrigado por esta recolha muito interessante e valiosa para sustentar-me em tantas discussões com portugueses reticentes com a +/- ampla influencia da língua árabe na língua portuguesa, uma mistura de várias origens para criar uma língua muito rica. Obrigado.
    Dito isso! Permito-me de dar do meu contributo para a sua discussão com a Maria José a cerca da origem/significado da palavra ALMOÇAGEME.
    Em facto sou de opinião que o significado da palavra é literalmente: “a água corre (ou derrame) ” em fonético: Almae (água) Sagim (corre) “الماء سجم ” (para quem consegue ler em árabe, deixo aqui uma ref: http://tiny.cc/Winf2b)
    O verbo “Sagim” não é muito comum de utilização mas é associado geralmente a chuva (que cai) ou a lágrima (que é derramada)
    Mas devo dizer que a palavra pode referir-se as ribeiras ou riachos naquela zona mas não é definitivamente uma tradução destas palavras do árabe
    Espero que foi de uma certa ajuda
    Cumprimentos e mais uma vez obrigado por este precioso artigo

  16. Frederico Mendes Paula says:

    Caro Radhouan
    Muito obrigado pelo seu comentário. De facto o que escreve faz todo o sentido e vem esclarecer a questão colocada pela Maria José.
    Cumprimentos e
    Chukran jazilan

  17. Lilian Monteiro says:

    Gostei muito deste artigo. É excelente e bestante esclarecedor. Meus alunos se sentiram bastantes motivados a continuarem com suas pesquisas.

  18. Hisham ibn Umaya says:

    As minhas felicitações para este artigo muito interessante, apesar de talvez pouco conciso. Entre outros pontos que poderia comentar, reparei neste enunciado:

    “Algumas consoantes Árabes não entram nos vocábulos portugueses por uma questão de não se adaptarem à forma de pronunciar do português, como o h que geralmente se transforma em f, como em Alfama (do Árabe Alhammam), Alfazema (do Árabe Alhuzaima) ou Alface (do Árabe Alhassa).”

    Gostaria de minunciar que existem dois sons em árabe associados à grafia do “f” em português, que são o «ḥā’» (ح) e o «khā’» (خ). Assim temos “albufeira” (al-buḥayra/البحيرة), “alfazema” (al-khuzāmā/الخزامى), “alface” (al-khass/الخسّ) ou “alfarroba” (al-kharrūba/الخرّوبة).

    Relativamente à palavra “Alfama”, esta deriva de al-ḥamma (الحمّة), com o sentido de “fonte termal de áqua quente”, visto ter existido uma na zona, provavelmente no local que hoje se chama Largo do Chafariz de Dentro. Esta é a explicação hoje em dia normalmente atribuída pela maioria dos linguistas e historiadores sobre a questão. Mas existem outras, como a de João de Sousa (Vestígios da língua arábica em Portugal, ou lexicon etimológico das palavras e nomes portugueses que têm origem arábica, Lisboa, 1830) que diz que é proveniente de “alhama” / الحمى (sic) com o sentido de “refúgio” e sendo o nome de um bairro em Lisboa. Apesar de ser uma origem pouco provável, não deixa de ser interessante observar que nas variantes coloquiais magrebinas do árabe, utiliza-se “ḥūma” para “bairro”, mas a meu ver esta explicação também seria um tanto forçada.

    À parte esta questão, gostava de relembrar que é preciso ter em conta que existem duas vagas principais de introdução de vócabulos árabe na língua portuguesa, sendo que em cada uma é nítida dois tipos genéricos de proveniência: élites (militares, governamentais, agrónomas ou científicas) e povo. A primeira vaga dá-se durante a presença da civilização islâmica na Península Ibérica. Desta vaga resultaram sobretudo a maioria das palavras portuguesas iniciadas por “al” (almoxarife) ou “a” (azeite) e carateriza-se pelo facto destas palavras terem sido introduzidas diretamente pelas élites árabes e arabizadas e pela adoção espontânea da população autóctone na interação com a língua árabe. A segunda vaga dá-se durante e depois da conquista franco-cristã da Península Ibérica. Por um lado os cientistas, cientes da enorme contribuição dos centros de saber onde o árabe era língua de erudição, continuaram depois do séc. XIV a adotarem imensas palavras árabes. O caso mais flagrante é a astronomia com os nomes de estrelas ou palavras como “azimute” (السمت). Estas palavras não foram introduzida no português de forma direta, mas através de outros centros de saber europeus que se haviam apropriado dos conhecimentos dos centros de saber da civilização islâmica (houve uma altura em que os cientistas europeus iam estudar entre os árabes e os persas…). Por outro lado, ao nível popular existem várias palavras que foram introduzidas via o comércio portuário catalão e italiano, e posteriormente para outras línguas como o português. Por exemplo, a palavra “tarifa” (تعريفة) terá sido introduzida apenas no séc. XIV via Veneza e Barcelona. A língua espanhola regista na escrita esta palavra apenas depois do séc. XVII e estima-se que terá entrado no francês e no inglês pouco antes, no séc. XVI. A palavra “resma” (رسمة), que curiosamente também existe em inglês apesar de pouco utilizada, também se engloba nesta segunda vaga. Outro exemplo é palavra “mesquinho” que apareceu primeira em Veneza entre os marinheiros que faziam comércio com os árabes e posteriormente foi adotada pelos marinheiros portugueses em contacto como os venezianos. A caraterística principal desta segunda vaga é a sua entrada indireta na língua portuguesa (sobretudo via marinheiros e cientistas) e a ausência do artigo definido “al”.

    A primeira vaga corresponde a cerca de seis ou sete centenas de vocábulos portugueses. As duas vagas em conjunto somarão três ou quatro milhares, dependendo dos critérios aplicados.

    Não nos esqueçamos ainda que muitas palavras introduzida via árabe são por sua vez e nitidamente vocábulos que os árabes importaram de línguas de povos vizinhos, nomeadamente o aramaico e o síriaco (línguas também semitas), o grego, o persa e até mesmo o próprio latim (linguas indo-europeias), como é o caso da palavra “sirāṭ” que relembra o latim “strata”, ambas com o mesmo sentido, “estrada”.

    Bem hajam a todos.

  19. Sylvio Reis says:

    Muito esclarecedor.
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    2.423

  20. Jussara says:

    Adorei!!!Super interessante!!!

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  1. […] termos derivam as designações portuguesas Alcáçova e […]

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