A importância do Latim

Eles conhecem os deuses gregos e falam latim

A sociedade e a escola portuguesas têm vindo a esquecer a importância das Humanidades, o que tem contribuído para sonegar à grande maioria dos jovens um conhecimento mínimo acerca das raízes da cultura portuguesa, com tudo o que isso implica de elementos da cultura europeia, o que, por sua vez, historicamente, os obrigaria a olhar para Atenas, Roma, Jerusalém e Meca, para não tornarmos esta lista extenuante.

A propósito deste problema, seria importante referir, entre outras causas, a desvalorização da Literatura no Secundário ou da História no Básico e no Secundário. O que esta notícia vem lembrar é a importância do ensino precoce do Latim, que, nos últimos anos, tem passado de Língua aparentemente morta a disciplina em estado efectivamente comatoso.

Reler esta notícia de 2008 serve para confirmar que a Educação em Portugal tem estado entregue a inimigos do saber e do conhecimento. A propósito da diminuição de alunos a aprender Latim, dizia, então, em dialecto educonomês, Valter Lemos: “Temos professores para ensinar Latim, mas não há procura. O problema existe nas línguas clássicas no geral e até em algumas línguas modernas. Tem a ver com as expectativas e os interesses das famílias.” Não seria, então, de sujeitar a escolha do currículo a uma sondagem às famílias?

As práticas das escolas referidas na notícia merecem-me os maiores elogios e não deveriam estar dependentes de nenhuma espécie de autonomia: o ensino do Latim deveria ser obrigatório.

Comments

  1. Rodrigo Costa says:

    .. Caro Fernando Nabais,

    … Por alguma razão a evolução tecnlógica acontece à mesma velocidade a que as pessoas se vão tornando estúpidas —não tenho a menor dúvida de que o Pensamento é um estorvo: para quem governa e para as famílias, na generalidade, porque acham que pensar não dá dinheiro… E não é que por não se pensar é questamos como estramos e sem dinheiro?…

    É verdade que o acto de pensar é proveniente, também, da predisposição intrínseca das pessoas, mas é possível —como acontece com grande parte da homossexualidade vigente:-)— levar a que as pessoas se aproximem e se interessem, por indução.

    Nunca gostei muito de história —por razões que poderia explicar, e, também porque sou mais dado ao fazer—, mas tive um professor, na Soares dos Reis, que era um espectáculo; desenvolvia a história de um modo informal; sem recurso a livros ou a apontamentos… Enchia a sala e a aula terminava num fechar de olhos. Era o Prof. Pires Praça. Um homem de grande carisma, que amava ensinar.

    Nas féria de Natal, foi passar a Quadra aos Açores, e morreu de um colapso cardíaco, penso que no avião —já foi há bastantes anos.

    Parea o substituir, vei uma jovem —30 / 30 e poucos anos. Foi um suplício. Para nós e para ela. As aulas não funcionavam; não havia fusão; a sala tinha, de repente, aumentado, descomunalmente, de tamanho… Até que, á segunda ou à terceira aula, como não houvesse interacção, porque ela não conseguia imprimir a dinâmica a que estávamos habitudos —sempre recorrendo aos livros; paragens atrás de paragens—, acabou por perguntar-nos se havia alguma coisa de errado.

    Fui eu quem respondeu, porque, normalmente, tenho o coração perto da boca —ter “o coração pertro da boca” não é, própria e necessariamente, ao contrário do que se pensa, ser desabocado, mas franco; não deixar ques as dúvidas se prolonguem, quando achamos que temos a certeza.

    Expliquei-lhe a situação. Fiz-lhe perceber que, não tendo culpa, a dinâmica a que estvamos habituados era diferente, e, por isso —digo-o a qui—, a atmosfera de tédio.

    Isto para reforçar a ideia de quanto a predisposição de quem ensina é importante —antes de conhecer Piazzolla, não gostava muito do acordeão. Quando o conheci, passei a ter a certeza de que o defeito não é dos instrumentos; todos têm a sua beleza, desde que na mão da pessoa certa.

    Abraço

    • António Fernando Nabais says:

      Caríssimo Rodrigo
      Veja lá que voltamos a coincidir noutro gosto: Piazzola. Já agora, se não me leva a mal, deixe-me corrigi-lo: o instrumento é, mais propriamente, o “bandoneon”. Piazzola foi uma das poucas coisas em que fui precoce, porque, no meio de alguma porcaria que ouvia nos anos 80, tinha eu 16 anos, quando ouvi o homem pela primeira vez e ficou-me até hoje.
      Outra coincidência: embora não dê lá aulas, faço parte do Clube de Leitura da Soares dos Reis, numa experiência que tem sido, para mim, muito gratificante.
      De resto, não querendo discordar de si, não vou negar que um professor que saiba transmitir, criando empatia e provocando adesão, é importantíssimo. No entanto, é também importante que a sociedade saiba valorizar aquilo que é fundamental, de modo a que os alunos cheguem à escola interiorizando esses valores. Portugal, sem Latim, sem História, sem o peso certo das artes e das humanidades na escola, ficará, progressivamente, anquilosado, com menos conhecimentos e com menos capacidade para adquirir mais conhecimentos.

  2. Rodrigo Costa says:

    … Bem, eu penso que não há discordância, na medida em que, mesmo havendo disciplinas de que não se goste, as que cita, por exemplo —Latim e História—, fazem todo o sentido.

    Sobre o “bandoneon”, sempre julguei que fosse o termo espanhol para acordeão, daí eu ter-me referido a ele como tal —há a harmónica, a concertina, que são parentes do acordeão… O bandeon terá, por certo, características particulares. De qualquer modo, obrigado.

  3. Manula Cerca says:

    Amigo!
    Tinha-me escapado esta tua observação sobre o Latim, que, tal como tu ,considero indispensável para uma correcta utilização da nossa Língua, para além do contributo cultural que traria aos seus estudiosos. Como sabes, sempre pensei que, apesar de para muitos, “cheirar a mofo” deveria ser obrigatório. Aliás, as observações do eloquente(!) Walter Lemos, são ridículas. Se se não der caviar a provar, ninguém saberá se ele será a iguaria das iguarias, que muitos apregoam. Abraços

  4. camонne несколько раз.... says:

    a impotência do latim…já agora o sânskrito

  5. Primeiramente,parabéns pelo tema!É lamentável o fim do aprendizado
    do Latim nos Cursos de Ciências Jurídicas,ou seja,língua tão impor-
    tante para os causídicos estudiosos,bem como quanto ao conheci-
    mento da nossa língua.Por sua vez,estudei Latim no Curso Clássico,
    sendo de grande valia para a minha carreira jurídica.Além do que já
    foi dito,o Latim foi,em eras remotíssimas,a língua dos habitantes do
    Latium.O nome da língua originou-se daquela parte da Itália Central,
    e não,como pretendia Varrão sobre o Rei Latinus;nem ainda os poe-
    tas,do verbo latere,esconder-se,porque Saturno,destronado por Jú-
    piter,alí se refugiara.Outrora,julgava-se que a língua latina fosse pro-
    veniente da grega,a qual ,por sua vez,teria promanado do sânscrito.
    O grande filólogo alemão Bopp provou,porém,com o seu sistema do
    conjugação em sânscrito comparado com a do grego, latim,persa e
    alemão,e,mais tarde,com a Gramática Comparada do sânscrito,gre-
    go,latim,lituano,velho eslavônico,gótico e alemão,no ano de 1833,que
    todos esses idiomas são oriundos de uma língua primitiva,falada há
    milhares de anos numa região que a ciência ainda não conseguiu
    determinar ao certo.Essa língua,que não foi fixada pela escrita,cha-
    ma-se ariana,indo-européia ou indo-germânica.Na classificação de
    Meillet,esse idioma primitivo cindiu-se em nove grupos principais ,

    que são:indo-iraniano,tocariano(há alguns anos descoberto na Ásia
    Central),armênio,grego,itálico,céltico,germânico,balto-eslavo e alba-
    nês.Por fim,era o Latim exemplo frisante.Rude e brutal,de pastores
    e agricultores,gente inculta e brutal,a língua do Lácio foi a origem
    das línguas neolatinas.Abraços!

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  2. […] alemães, prefere continuar a cultivar o esquecimento, apagando as bases históricas que estão na origem da sua própria língua e, portanto, do próprio […]

  3. […] factores de enriquecimento de qualquer país desenvolvido. O desprezo dessas áreas é um dos sintomas do nosso subdesenvolvimento educativo. Saúda-se, portanto, que numa parte do território nacional se esteja a preparar uma revolução […]

  4. […] é possível negar, a propósito, a importância da generalização do estudo do Latim. Assim, por um lado, se houvesse Ministério da Educação em Portugal, deveria existir um maior […]

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