O Futebol Clube do Porto, tal como tem acontecido nos últimos trinta anos, foi a melhor equipa e, consequentemente, alcançou mais um título de campeão nacional. Parabéns ao campeão!
É em momentos como este que todos – vencedores e derrotados – têm uma oportunidade de ouro para demonstrar grandeza, respeitando quem perde e elogiando quem ganha.
Como cidadão desejoso de viver num país civilizado, gostaria que o desporto, de uma maneira geral, fosse uma exibição de virtudes, mesmo sabendo que isso não é fácil, devido à mistura de elementos tão voláteis como a paixão ou a adrenalina. Em vez disso, o desporto é mais uma área em que impera o chico-espertismo, a estupidez tribal e a pequenez.
O que se passou no Estádio da Luz, ontem, no final do jogo, foi uma demonstração de pequenez e qualquer instituição, como qualquer pessoa, será sempre do tamanho das suas atitudes. O Benfica, clube de que sou adepto, encolheu mais um bocado e confirmou o desejo de se manter entre os piores. Já se sabe que aparecerão muitos benfiquistas a defender o indefensável, fazendo referências a comportamentos similares por parte do adversário de ontem e poderemos ouvir os nossos adversários a contrapor com outras histórias parecidas passadas anteontem, numa actualização vertiginosa da fábula do lobo e do cordeiro.
É certo que, se o futebol fosse uma ilha – ou, pelo menos, uma península – rodeada de grandeza, a preocupação seria menor. O problema é outro: o futebol é, ao mesmo tempo, causa e consequência de muito do que temos de pior. O país é do tamanho do futebol e o Benfica é do tamanho do país.
Parabéns pelo teu artigo.
Triste figura hoje na RTP 1, a do Prof.José E.Pinto da Costa ! Simplesmente cegueira !
Foi uma vergonha que atinge todos os portugueses, o futebol, como qualquer desporto, ainda para mais com o nível profissional que o “glorioso” , deveria ser jogado com cavalheirismo… mostraram ontem uma dupla derrota!!! Perderam o jogo e as estribeiras…
É uma vergonha sim e mais do que tudo, um profundo momento lamentável ,um atentado ao desporto. Mas não pode ser passada uma esponja sobre o autêntico ambiente de guerrilha instituído de pelo FCP e seus dirigentes, e pelos do Benfica em menor escala. Uma vitória não limpa a vergonha no qual se encontra este futebol português e as verborreias desnecessárias. Sim, basta ouvir as conferências de imprensa, dos gritos de revolta, dos palhaços. E as pedras na A2, as bolas de golfe etc etc. E os autocarros incendiados. Nada disto pode ser perdoado e qualquer adepto que defenda isto deveria envergonhar-se. E há muitos(demasiados) que condescem quando ganha o seu clube.
Isto tem que acabar e já. Um ano de suspensão verbal para todos os dirigentes, fim imediato das claques e penas de prisão a sério para quem ousa por em causa a dignidade daqueles que querem ir ao futebol, ver futebol.
Caro Fernando Nabais,
Não me interessa, sequer, discutir as peripécias nem as razões, nem a quem as razões pertencem, porque, como diz, o futebol, no seu todo, reflecte a estatura do País em que estamos. Eu próprio dizia, outro dia, a um jornalista, que é lendo ou vendo jornais desportivos que eu posso percerber a realidade em que Portugal está mergulhado; porque tudo acontece muito rápido; há menos tempo para elaborar os discursos; o Instinto é muito mais fácil e rapidamente desafiado.
Poderia, também, conseguir o mesmo, dando mais atenção aos veículos de e da Cultura… Porém, já os compreendi a todos; são muito rebuscados; há muitas rendas e cuecas de seda… que vão dar ao mesmo; que informam do mesmo, mas por processos mais labirínticos. A barbárie é mais do tipo psicológico; porque, apesar de tudo —e sem que isto seja um estímulo à violência— os agentes são mais cobardes; escondem as pedras e as mãos; não apagam as luzes nem ligam os instrumentos de rega… mas segregam e dizem e cometem barbaridades; e vivem, também eles, em matilha; desorganizadamente, mas em matilha; dando, de igual modo, a ideia do tamanho que o futebol nos dá.
A única observação que faço é simples: se esta gente fosse capaz de direccionar a convicção e a energia para as lutas, cada vez mais necessárias, contra as pessoas e os poderes que têm levado Portugal a este estado… creio que já muita coisa tinha sido mudada.
Infelizmente, o futebol e a clubite parecem ser os únicos estímulos e detonadores para atitudes de revolta… atitudes, lamentavelmente, patéticas e deploráveis, porque não alteram a condição de vida em que nos encontramos; e dão, aos que governam e aos que venham a governar, a ideia de que isto de governar… é fácil. Bastará não extinguir as claques ou as pessoas que estão na génese da sua fama; e deixar, também, que o futebol continue estado dentro do Estado, porque, dos seus reflexos, surgem as pausas e os alívios, inesperados-esperados e oportunos, para as as crises governativas, em que as medidas, por impopulares, poderiam levar a um ou outro distúrbio —puro engano. As bestas aguentam tudo; menos um golo anulado ou um fora-de-jogo por assinalar.
Assim sendo, há um bâlsamo assegurado: pode-se sempre arranjar um Porto-Benfica ou um Benfica-Porto, de ocasião, porque a rapaziada entrega-se ao “pensamento” e ao contributo… e tudo é aprovado e ultrapassado na paz do Senhor.
E há a Comunicação Social. Que, como os armadores, “não querem que ningém morra; mas querem que a vida lhes corra”. O problema não é que as pessoas se isultem ou façam uso, excessivo, da liberdade de expressão —este é o bem mais “sagrado” e o mais rentável para o sector. O problema é que passem das palavras aos actos. Tal como os laboratórios, a Comunicação não quer saudáveis nem mortos, mas moribundos, por serem eles quem usa os medicamentos e patrocina as receitas.
Sem a liberdade de expressão, poucos medíocres escreveriam com “porte pago”. Nem haveria o perigo de aproximação às quezílias e às agressões. E não havia, depois, os lamentos pela violência, que, entretatanto, implícita e explicitamente, fora fomentada por cobardes protegidos em gabinetes e secretárias; deixando, aos outros, aos que não dispõem de privilegiada audiência, o espaço dos socos, dos pontapés e das pedradas. Estes são, garanto, os menos culpados, porque são moldados por mentecaptos pagos para escreverem barbaridades, para serem bárbaros; patrocina-se-lhes a visão e a vida inquinada.
Sobem os impostos, e o pesssoal aguenta; cortam nos salários, e o pessoal aguenta; cortam as pensões e os abonos de família, e o pessoal aguenta… O que é que este pessoal aguenta, que não seja o resultado desfavorável da sua equipa?!… Quais são os reflexos da manifestação do “pessoal à rasca”?… Nada. Não houve penalties nem golos mal anulados; o árbitro não roubou ninguém, apesar de sermos, constantemente roubados…. pena que seja o Estado, e não num estádio!