Não existe energia nuclear segura

Retomo  o tema do desastre de Fukushima e a discussão da segurança da energia nuclear.

Sempre estive convencido de que era uma questão de tempo até se tornar evidente que não existe energia nuclear segura. Aliás, continuo convencido de que há, ainda, muitos desastres (e infelizmente mais graves) que vão forçosamente ocorrer, seja com as centrais em si, com reactores, com lixo radioactivo ou por causas “não programadas”.

Tenho visto disseminada a opinião, a propósito deste caso, de que ocorreu uma conjugação de factores que “não era suposto” ter acontecido. Pois penso exactamente ao contrário: tudo o que aconteceu “era suposto” ter ocorrido e, pior, ainda não aconteceu tudo o que é suposto vir a ocorrer.

Vejamos: alguém pensa (implica usar a capacidade de pensar objectivamente) que durante as décadas e séculos vindouros (é importante não esquecer o tempo de radioactividade dos lixos nucleares, por exemplo) não haverá terremotos, maremotos, explosões, curto-circuitos, guerras, crises, erros humanos, desgaste de materiais, fissuras, fugas, tráficos, ameaças terroristas e tudo o mais que me abstenho de enumerar, capazes de provocar catástrofes maiores do que esta? Alguém sabe ao certo quantos milhares de toneladas de resíduos radioactivos se encontram hoje armazenados nas próprias centrais por falta de destino e métodos de tratamento seguros? Alguém sabe exactamente qual a ordem de grandeza do seu aumento exponencial? Alguém sabe qual a verdadeira realidade e dimensão do problema criado até hoje, quando vemos que muitas destas empresas -privadas muitas delas- a própria Tepco (Tokyo Electric Power Company, empresa que gere a central nipónica), por exemplo, têm um longo historial de falhas e de acontecimentos abafados e mal esclarecidos? Quando a Europa, após Fukushima, diz que tem que reavaliar e inspecionar todas as suas centrais?

Dada a natureza do mundo, tudo o que se passou em Fukushima tinha que que se verificar – e por isso mesmo, verificou-se – mais tarde ou mais cedo; desastre natural de grande magnitude, falhas técnicas, emissões radioactivas, situações fora de controlo, plutónio no chão, rachas, fugas, excesso de material contaminado, incapacidade para o armazenar a curto, médio, longo e longuíssimo prazo.

Ignorar isto é como tapar o sol com uma peneira. E no entanto o sol, tal como este problema, permanecerá activo muito para lá das nossas vidas.

(Sobre este assunto pode consultar também os postes que publiquei anteriormente:

NUCLEAR: há que debater, sim, mas de forma séria

NUCLEAR, as mentiras são mais que muitas e os medos reais

Os mentirosos do NUCLEAR )

Comments

  1. Nuno says:

    Caro A. Pedro Correia, o titulo deste artigo é enganador.

    É possível ter energia nuclear segura.

    O problema é que o tipo de energia nuclear que é utilizada comercialmente hoje em dia (fissão) tem problemas graves (eu diria mesmo muito graves) quando as coisas correm mal (e mesmo quando correm bem tem ainda o problema dos resíduos radioactivos).

    Os reactores de fusão nuclear (que ainda não existem comercialmente) podem ser considerados seguros. O problema é que a tecnologia ainda não está suficientemente madura para permitir uma produção de energia eficiente (neste momento necessitam de mais energia para funcionar do que a energia que produzem).

    Outro tipo de reactor nuclear que também pode ser considerado seguro, ou pelo menos, mais seguro do que os reactores de fissão, são os reactores de thorium. Este tipo de reactor não só é mais seguro como também permite eliminar (ou pelo menos reduzir drasticamente) o problema dos resíduos radioactivos produzidos pelos actuais reactores de fissão.

    Ainda relativamente aos reactores de thorium, os EUA chegaram a construir um reactor deste tipo na década de sessenta mas o projecto acabou por ser abandonado porque este tipo de reactor não produz plutónio para a construção de armas nucleares (o que hoje é considerado uma enorme vantagem) e como tal o governo deixou de financiar este projecto.

    Na minha opinião a energia nuclear é vital para o nosso futuro. As energias renováveis, por si só, não vão conseguir satisfazer as necessidades energéticas do mundo. Se for de noite as centrais solares não produzem, se o vento não soprar as centrais eólicas não produzem, se não chover as barragens não enchem e as centrais hidroeléctricas não produzem.

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