Greve à democracia, sr. Marinho e Pinto?

Já dei várias vezes o beneficio da dúvida a Marinho e Pinto mas desta vez concluo que as suas opiniões muitas vezes extravagantes não vão além do sound bite.

Bastonário dos advogados admirado com os portugueses que ainda votam
Marinho e Pinto incita a “uma greve à democracia”
16.04.2011 – PÚBLICO
«Era a grande punição democrática para a mediocridade, oportunismo e incompetência de todos os políticos portugueses. Era envergonhá-los publicamente perante a Europa e o mundo», acrescentou.
Marinho e Pinto entende que só assim seria possível aquilo que classifica de uma “refundação da República, sem velhos recursos a estereótipos revolucionários”.

Ignora este cavalheiro que não importa a dimensão da votação para validar a eleição? E que pouco importa aos políticos quantos votaram mas sim que percentagem de votos tiveram?

Para mudar o panorama político o que se pode fazer é convencer as pessoas a inscreverem-se massivamente nos partidos políticos, esses mesmos que elas abominam, não importando em quais. O líder do PS foi eleito com uns escassos milhares de militantes (cerca de 28 mil). O mesmo se passará com o PSD e nos outros partidos ainda menos militantes escolherão quem se apresentará a eleições. É aí que se pode mudar. Escolher quem se apresenta a votos, em vez de nos queixarmos das escolhas que nos são apresentadas.

Comments

  1. jorge fliscorno says:

    Ah, e sem esquecer que quem beneficiará da abstenção será o partido que agora governa. Já não é o primeiro apoio invejado ao PS que vejo vir daqui.

  2. Caro, Jorge,

    Acredita, mesmo, que é a incrissão, massiva, nos partidos, quaisquer que eles sejam, que vai resolver o problema da democracia, que, como sabe, não existe em lado nenhum; porque o que existe é o regime das ditaduras rotativas?…

    Não tenho dúvidas de que a proposta de Marinho e Pinto estaria correcta, se houvesse coerência entre o seu posicionamento, enquanto cidadão, e o de bastonário da Ordem dos Advogados. E, pela experiência que pude recolher, percebi ser muito mais fácil chamar a atenção para o lixo em casas dos outros, do que limpar a própria casa.

    Mas eu explico:
    Tendo movido processo a uma advogada que constitui mandatária e que me defraudou —para não dizer burlou—, ganhei esse processo, por falta de comparência da mesma senhora.

    A sentença proferida impôs-lhe o pagamamento da indemnização que, no processo em que me assistia, era pedido e que estava em fase de ser aceite. Por razões que deduzo, mas que não posso afirmar, a advogada deixou de me atender e de me dar qualquer indicação. Soube, posteriormente, através do recibo de taxas que nunca paguei, que a senhora nunca apareceu ao julgamento —repetido, devido a anterior ausência— nem dele me deu conta nem indicou as testemunhas. Na ideia, talvez, de que não viesse a saber (?), a advogada pagou as custas do seu bolso, como epílogo do julgamento, digamos assim, à revelia. A queixa apresentada na Ordem também me foi favorável, e a senhora também foi, nesta Instituição, julgada à revelia, porque, daqui ou dos tribunais, nunca respondeu às notificações que lhe foram enviadas.

    Bem!… Começou o calvário. Transitou em julgado, mas a senhora achou por bem usar esquemas dilatórios, concedidos por Lei. Dei bem à penhora; a senhora teve que depositar determinada importância ao cuidado do solicitador, para que a casa não lhe fosse penhorada.

    Como a Lei lhe permitia deduzir oposição no mprazo de 20 dias, optou por, junto da Segurança Social, solicitar apoio judiciário; medida que contornou a imposição de prazos, porque, nestas condições, o Tribunal fica condicionado e obrigado a esperar pela resposta da SS. Quer dizer, a mulher nunca respondia às notificações —sempre devolvidas—, mas interpunha medidas que obstaculizavam a conclusão do Processo.

    A dada altura, tendo em conta a forma desabrida como parecia lutar contra as assimetrias, escrevi ao Dr. Marinho e Pinto; fazendo-o saber que não encontrava coerência entre o discurso do Bastonário e a prática ou práticas permitidas a filiados na Ordem. Não fazia sentido que, agentes que pugnam pela Justiça, se eximam ao cumprimento do que determinam os tribunais, quando na situação de réus confirmados. Deixei a indicação de que a Ordem tinha que ter mecanismos de auto-regulação que impedissem a esperteza saloia de indivíduos que, técnicamente e no contexto, têm conhecimentos de que não dispõe o cidadão comum —para além, claro, da questão do corporativismo, outro e grande obstáculo.

    A verdade é que, por idicação de Marinho e Pinto, fui contactado, telefonicamente, pela sua assessora. Marcamos a entrevista e, passados uns dias, fui recebido no gabinete desta colaboradora do Dr. Marinho e Pinto.

    Exposto, detalhadamente, o assunto, foi-me perguntado o que é que eu achava que a Ordem poderia fazer para me ajudar… Parecendo despropositada, a pergunta era admissível, porque, digo eu!, legalmente, talvez não pudessem fazer grande coisa. Porém, como raramente me preocupo com a Lei, porque privilegio o Senso —por ser nele que se suporta a Lei; e por ser na ausência do mesmo que a Lei falha—, respondi que, uma vez que o Sr. Bastonário tem apontado, a dedo, todas as falhas em todas as organizações em que a Sociedade falha, propunha que, em presença de um facto consumado —sentença proferida e transitada em julgado—, a advogada fôsse impedida do exercício, enquanto não desse cumprimento às decisões do Tribunal, e que me favoreciam.

    Parecia-me e parece-me justo. Porque não tem cabimento, alguém, investido, litigar por justiça… e não lhe obedecer, quando ela o impõe.

    Foi-me respondido que não é fácil julgar os “pares”. Eu respondi que o”par” já estava julgado por uma Intituição e por uma Figura independentes da Ordem. O que se impunha era que a Ordem, em exercício paterno-maternal, corrigisse o comportamento dos “filhos”; não só impondo-lhes sanções internas, mas, como neste caso, sanções que permitissem minorar, em terceiros, os prejuízos causados.

    Resultado… Nada! Continuei a esperar. Interpelei, directamente, o Juíz; falei com o solicitador; fiz tudo o que podia ser feito; contactei, inclusive, o Director da Segurança Social, na medida em que achava descabida a admissão, sequer, de apoio judiciário a alguém que não necessitava; e, muito menos, a demora em responder ao Tribunal, quanto a ser deferida ou indeferida a pretensão da senhora.

    Duas ou três semanas, depois —por coincidência ou não—, o meu advogado informou-me que o processo fora dado por concluido. E fique a saber outra coisa: é que há solicitadores que se servem daa cauções à sua guarda, e que, quando instados, pelos tribunais, ao pagamento das importâncias, apanhados de surpresa e sem as verbas, usam medidas para protelar os pagamentos —não foi este o caso. A explicação serviu par isso mesmo, para me dizerem que não fora por isso a demora, já que me encontrava a desconfiar de tudo e de todos.

    Conclusão, o Dr. Marinho e Pinto tem podido, de modo impune, dizer o que lhe apetece; mas não sendo capaz, ou sendo-lhe impossível, pôr ordem nos espaços onde, por razões de ofício, se movimenta —às vezes, com menos fragor, faz-me lembrar o João Coito; um dos poucos autorizados a falar contra o “regime”, como parte da estratégia.

    Posteriormente, escrevi-lhe outra carta… à qual, naturalmente, tive resposta. Também não lhe dava muitas hipóteses: concordava comigo ou processava-me. Como não me processou, deduzo que concordou comigo.

    Em definitivo, o Dr. Marinho e Pinto passou a pregar no deserto. Quando alguém, num lugar como o que ocupa, não pode ser eficaz… só tem um caminho, sair.

    • jorge fliscorno says:

      Rodrigo, é interessante a sua história.

      Quanto à sua questão, se acredito se é a «inscrição, massiva, nos partidos, quaisquer que eles sejam, que vai resolver o problema da democracia», saliento que os partidos só mudarão se alguém se propor mudá-los por dentro. E isso só acontecerá vindo gente de fora. No entanto, não creio que o problema venha a ser resolvido desta forma pois isso implicaria uma acção de massas concertada e esta, como em muitas outras situações, nunca acontecerá. Não deixo por isso de ver qual seria a forma de ocorrer a necessária mudança.

  3. … a INSCRIÇÃO, peço desculpa.

  4. Peço desculpa, mais uma vez… Isto de escrever em directo!…

    Onde se lê: “Posteriormente, escrevi-lhe outra carta… à qual, naturalmente, tive resposta. Também não lhe dava muitas hipóteses: concordava comigo ou processava-me. Como não me processou, deduzo que concordou comigo.”;

    Deve ler-se: “Posteriormente, escrevi-lhe outra carta… à qual, naturalmente, NÃO tive resposta. Também não lhe dava muitas hipóteses: concordava comigo ou processava-me. Como não me processou, deduzo que concordou comigo.

  5. Coisa que esse cavalheiro não ignora é a dimensão dos tolos votantes em partidos quer eles governem ou se governem.
    Por isso quanto menos votantes flutuantes votarem maior é a probabilidade do ps ter uma maioria absoluta.
    Porque aqueles que elegem governos são uma minoria de votantes flutuantes que votam pelos programas eleitorais e pela credibilidade dos políticos na praça. Como cada vez essa massa é menor, pelas razões que tão bem conhecemos. É cada vez mais importante o voto útil. Se até esses desaparecer fica assente a perpetuidade de alguém da qualidade de um Sócrates e todos os seus correligionários.

  6. José Salvado says:

    O Senhor Rodrigo Costa, que se sente injustiçado, não tem razão nas imputações que faz ao Dr. Marinho e Pinto. O Dr. Marinho Pinto é Bastonário da Ordem dos Advogados e não é o pai dos advogados para lhe dar uma chibatadas se não se comportarem bem.Tem as funções que lhe estão cometidas pelo Estatuto da Ordem dos Advogados e não outras. Se o Sr. Rodrigo Costa tinha razões para pedir resposnabilidades à senhora advogada deveria ter exposto a situação ao Conselho de Deontologia, respectivo, que é o órgão que tem competência disciplinar, e que, portanto poderia aplicar sanção os não à senhora advogada. E os Conselhos de Deontologia não são nada meigos quando os advogados prevaricam no cumprimentos dos seus deveres profissionais.
    Quanto ao voto em branco, concordo plenamente com ele, porque corresponde a um cartão amarelo e se forem muitos certamente que o cartão passará a vermelho.
    Inscreverem-se em partidos massivamente não conduz a nada, salvo ajudarem a enriquecer os mesmos partidos, a empobrecerem felizes, porque nada mais acontece. O CDS já acabou com a eleição directa. Se não há eleições directas, para que servem as inscrições e a militância? Os partidos são sistemas fechados para que sejam sempre os mesmos. Veja-se, por exemplo o PS: um Governo que mandou o país para o charco, mas aí estão os mesmos de sempre no topo das candidaturas, com uma excepção ou outra de uns vira-casacas que receberam uns tachos e que querem mantê-los, porque de facto são todos diferentes, mas sempre iguais. O que querem é manter os tachos, os negócios, o poder e o resto não passa de arredores.
    Cada um tem o direito de votar da forma que entender, mesmo que tal comnportamento seja suicidário. Os bombistas que andam por alguns países, também matam sabendo que morrem, e não hesitam. Logo, não é de admirar que o povo continue a utilizar os paridos como se fossem grupos de futebol, o que para além de lamentável é sinal de atraso. Mas, enfim, temos o que merecemos, ainda que em bom rigor eu não mereçaporque não votei neles.
    Uma boa noite.
    José Salvado

    • jorge fliscorno says:

      Os partidos são sistemas fechados para que sejam sempre os mesmos.

      José, acaba de me dar razão. Os partidos só mudarão se a mudança vier de dentro. Ora, os partidos não têm vontade de mudar, logo só com gente de fora poderão mudar.

      Como escrevi num comentário mais a cima, uma mudança deste género implicaria uma acção de massas concertada e esta, como em muitas outras situações, nunca acontecerá. Não deixo por isso de ver qual seria a forma de ocorrer a necessária mudança.

  7. Caro José Salvado,

    Peço desculpa, mas, quem não pode ou não quer ser pai, não faz filhos nem adopta. E o Senhor acaba de confirmar, da forma que expõe as coisas, aquilo que eu percebi: o Bastonário —da OA, ou de outra ordem qualquer— será assim a modos que uma figura de estilo, que, por coincidência, não faltam em Portugal; é só contá-las.

    Quando recorri ao Dr. Marinho e Pinho, fi-lo, anos depois depois de ter participado à Ordem. Se o Conselho Deontológico não teve conhecimento atempado, é porque, atempadamente, os serviços da Ordem não lho deram. Nem, tão-pouco, na reunião que tive com a assessora de Marinho e Pinto, me foi dito ter-me dirigido ao local ou à figuira errada. O que, a ser como o Senhor diz, a assessora, logo pelo telefone, deveria ter-me informado e evitado a entrevista, por despropositada…

    O problema, Caro José Salvado, é que sou Português há 58 anos, no terreno, e estou à vontade para lhe afirmar que o conjunto das leis é uma espécie de carderno de encargos para ser desrespeitado. Como saberá, não é por causa do tecido legal que o País está a afundar-se; é por causa da Lei ser letra morta, usada e imposta à vontade do freguês.

    Não querendo ser figura de cargo algum, eu não aceitaria ser presidente, bastonário, ou algo semelhante, numa instituilção onde não pudesse, em casos de maior evidência, chamar as pessoas à pedra; muito menos, dada a impossibilidade, andaria a disparar para todos os lados e continuar a ignorar os meus telhados de vidro.

    Quero eu dizer, portanto, que se, pessoalmente, como cidadão, Marinho e Pinto poderá ter comportamentos quer legitimem a sua acção, enquanto Batonário, não; e nem acho que o cidadão e o Bastonário não sejam a mesma pessoa.

    Sobre a proposta que que faz, nem concordo nem discordo, porque nunca votei. Tive a possibiliadade

  8. Peço desculpa, mas, por qualquer razão, a p+rimeira parte do meu comentário antecipou-se. Segue a parte em falta, para que o anterior fique completo:

    Sobre a proposta que que faz, nem concordo nem discordo, porque nunca votei. Tive a possibiliadade de perceber, bem cedo, o que “revolucinários” pretendiam e para onde queriam ir. Tirando 2 ou 3 ingénuos, rapidamente os lobos desceram ao povoado… Com o meu voto, não. E a razão parece estar do meu lado, porque a abstenção tem vindo a crescer, e, veja-se lá!, a abstenção é hoje aconselhada como a arma eficaz que pode levar os políticos a reflectir.

    Como vê, eu e o Senhor Bastonário, estamos de acordo. A única diferença é que eu já cá estava, onde não se vota. E se se pensar que o tenho feito por capricho, eu deixo claro que o tenho feito pelas razões que começam a ser descobertas. O que há de novo, é figuras em posições privilegiadas a aconselharem a prática que, desde sempre, utilizo. Quererá isto dizer, portanto, que a “merenda” já não chega para todos, ou que muitos ou alguns são ou foram impedidos de chegar à mesa.

    Repito o que já escrevi noutras alturas: as pessoas não podem esperar, dos políiticos, comportamentos muito diferentes dos portugueses, em geral. o País é um antro de vícios. Qualquer que seja o Presidente ou o Ministro, é sempre grande a hipótese de serm viciados. Votar em quem?… O que é essa treta do voto útil? qual é a urna ou as urnas que garantem a utilidade?… Acho que as pessoas constroem frases sentido, incapazes de significação objectiva.

    • jorge fliscorno says:

      Eu prefiro usar a pouca força que tenho, o voto, para condicionar, mesmo que marginalmente, as escolhas políticas. Não tem tido grande resultado, é certo, mas considero a alternativa pior.

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