Casamento é serviço público?

-Julgo que hoje casam, ou já terão casado, não sei nem perco tempo com assuntos de revistas cor de rosa, em Londres, dois jovens,  a quem desejo naturalmente as maiores felicidades, como de resto a todos os outros pelo mundo fora, na mesma situação. Se têm sangue azul ou vermelho, deixo isso à consideração dos médicos britânicos, pelo menos, aqueles que os conhecem de perto. Nem sequer me interessa discutir o regime político que os governa, enquanto nação soberana, são eles que devem decidir a sua organização política e social. Mas não posso deixar de ficar indignado que o dinheiro dos meus impostos, sirva entre outras coisas para pagar os prejuízos de uma empresa deficitária, a RTP, que alguns rejeitam privatizar em nome do serviço público, o qual deve incluir as horas de emissão gastas a transmitir um casamento, repito, um casamento, para satisfazer a coscuvilhice de alguns…

Comments

  1. Pedro M says:

    A solução é exigir que a RTP passe a fazer verdadeiro serviço público, tal como muitas outras televisões estatais por esse mundo fora. Ou seja, resolver o problema em vez de eliminar o problema em si.

    Se a privatizar pode ter a certeza de quem tem na mesma um canal a transmitir casamentos frívolos e nenhum canal para o serviço público.
    Julgo que não é aceitável a situação actual nem o seu oposto…

    Podemos exigir uma reestruturação total da RTP, que passa por um orçamento e dimensão bastante diferentes, mudar por completo os critérios de programação, mantendo outros (parte da programação da RTP2 e a grande parte dos aspectos da Informação) e acabar com coisas como a taxa do audiovisual e ordenados pornográficos para entertainers.

    • O difícil é definir uma noção de serviço público. Talvez fosse preferível classificar alguns programas como de interesse público, e contratualizar a sua difusão, sem necessidade de manter televisões públicas, que depois para manterem um nível mínimo de audiências, recorrem a formatos em tudo idênticos aos demais…

      • Pedro M says:

        Sem dúvida, primeiro temos de decidir se queremos um serviço público de televisão que dê voz à sociedade cívica e promova a investigação jornalística, a promoção das artes, o debate plural, etc.

        Em segundo lugar devemos determinar o que queremos desse serviço.
        Naturalmente que seria algo extremamente diferente do que temos hoje, excepto, como disse, alguns dos programas exemplares da RTP2 como o Sociedade Civil, a Biosfera, etc.

        Por enquanto não ponho totalmente de parte à redução da RTP a um único canal, retendo-se apenas um com as características da RTP2 mas apostando mais na cultura e menos na quantidade enorme de horas em que funciona como um Canal Panda 2.

  2. Ora ora, coscuvilhice é espreitar pela fechadura. Uma cerimónia pública em que os intervenientes são mais do que eles próprios, por serem depositários de uma tradição e uma identidade, tem interesse público sim. E tem também interesse do público – as duas coisas nem sempre andam juntas. A RTP fez muito bem, e faria exactamente o mesmo se fosse, como deveria se, privada.

    • Se fosse uma estação de televisão privada, eu não escreveria uma linha sobre o assunto, ninguém me leu a criticar o acontecimento, quero mesmo lá saber, se tiver audiência, que passe na SIC ou TVI, por mim mudo de canal…

  3. Rodrigo Costa says:

    .. Qual a diferença entre transmitir as cerimónias do Casamento do Príncipe e as sessões do Parlamento Português, ou os debates políticos ou um “western”?!… No Western, pelo menos, há cavalos a sério e figuras carismáticas; e, nos casamentos, os ingleses levam aquilo a sério!

    • E nada tenho contra a transmissão por parte das televisões inglesas, ou mesmo por parte das privadas portuguesas. Afirmo que aquilo não é serviço público de televisão…

  4. Nuno Castelo-Branco says:

    Pois é, já estamos tão habituados a impressionarmo-nos com certas exibições de outro tipo de Estados, que um simples casamento que atrai a atenção do mundo inteiro, é coisa criticável. às desfiladas de mísseis, tanques, canhões e tipos a passo de ganso nas ruas de Moscovo, Piong-Iang e Pequim, prefiro a alegria de um povo livre e orgulhoso daquilo que é e continuará a ser. Ao carnaval a “fazer de conta” do 4 deJulho na América, prefiro esta autenticidade que engloba os britânicos “da terra” e as imensas comunidades que lá se radicaram: até havia portugueses e a BBC entrevistou-os e pelo que disseram, percebe-se a nostalgia de algo que o país já teve e jamais conhecemos no nosso tempo.
    Quanto à RTP, deve ter recebido bons dinheiros pela publicidade do share, disso não tenho qualquer dúvida. O custo compensou e sempre é melhor que ouvir os “bom dia Portugal” cheio de maluquices e pateteiras.

    Por lá, mostram o que de melhor têm, umas pobres carruagens bem modestas se comparadas com as nossas que tão mal estimadas se encontram. por cá, ficamo-nos com um Estado falhado, uma representação abaixo de canídeo, trapalhadas sobre desastres, ladroagem galardoada em comendadoria e, claro está, 30.000 Mercedões do estado distribuídos a outros tantos sátrapas. Neste Portugal tão esquisito, ainda querem dar lições de igualdade, liberdade e justiça? Como assim, se a mais pobre monarquia europeia bate aos pontos esta república de cem anos do que se sabe?
    Francamente, a Monarquia é mesmo uma OUTRA coisa!

    • Caro Nuno, o meu objectivo não foi de forma alguma discutir a Monarquia, muito menos a Britânica, que considero dizer apenas respeito a eles mesmo. O meu foco foi mesmo considerar este acontecimento como serviço público, numa estação de televisão deficitária. De resto nem tinha visto uma foto da rapariga, até hoje, não consumo mesmo revistas ou jornais que tratam este tipo de frivolidades, sejam actores, políticos, monarcas ou qualquer outra figura pública. Casamentos, divórcios e baptizados, são acontecimentos que me passam mesmo ao lado…

  5. Sou obrigado a concordar, consigo, António. Como televisão pública, a RTP devia apenas passar futebol, novelas e concurso públicos. Ou encerrar, de longe a mais vantajosa das sugestões para um país falido e culturalmente pobre como Portugal.

  6. Se me conseguir convencer que a RTP 1 pratica serviço público de televisão, esteja à vontade. Não contesto que pratique na 2, poderemos discutir o modelo, se valerá a pena manter uma estação pública ou contratar os programas de interesse público no mercado, mediante concurso. Agora considerar novelas, mesmo as séries portuguesas, futebol, praça da alegria ou concursos, como serviço público, bem, são conceitos que me parecem algo absurdos. Para cúmulo, apresentar prejuízos, então passa a inaceitável…

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