Tu, Ministro da Cultura? Tem juízo, pá!

Qualquer indivíduo que tenha assistido a três festivais de verão e visitado duas exposições acha-se com uma cultura superior à média. Ouvindo e gostando dos violinos de Chopin pode ser-se secretário de estado. E se, por acaso,  se tiver folheado a Ulisseia e visto As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos estáse apto para ministro da cultura.

A cultura, com a honrosa excepção de Carrilho, é uma espécie de florzinha para pôr na lapela, uma coisa onde há uns coquetéis e é agradável aparecer para ver quem está e ser visto. E os ministros, mais rissol, menos rissol, têm-na tratado assim, de acordo com este entendimento.

O resto, os sítios onde não há rosé nem canapés de camarão, é composto por hordas de tipos que protestam e gritam alto, dá-se-lhes uns subsídios para os calar, arranja-se umas bolsas, mas só aos que gritam mesmo alto. Os outros ignoram-se e pronto. De vez em quando, de preferência nas alturas em que aparecem altos dignitários estrangeiros e se faz uma cimeira, organiza-se uma inauguração de encher o olho e aí está: com este programa não se faz pior que os anteriores ministros, no mínimo faz-se igual.

Até hoje, os governos foram mantendo o ministério, apesar de subfinanciado. Era uma flor cara, mas pronto, dava para ostentar junto à gravata ou ao colar de pérolas, fazer figura de inteligente e gozar o deslumbramento do poder. Agora, Passos Coelho afirma que vai acabar com a Cultura, perdão, com o ministério e será ele próprio, além de primeiro-ministro, ministro da cultura. Não podia ser mais esclarecedor sobre a sua interpretação. Com ele, nem para flor a cultura serve.

Comments

  1. Ricardo says:

    Mas em quem é que eu vou votar?????????? Porra, NÃO VOTO EM NINGUÉM.

  2. Ricardo says:

    Mas para haver cultura é preciso um ministro?? E mais não sei quantos secretários e secretárias e acessores e secretários de estado e …..e……e….
    Pode ser uma boa solução.

  3. Rodrigo Costa says:

    Indo à raiz da coisas, eu diria que não é necessário ministro algum, na medida em que a Cultura —as artes, etc, ect, etc…— não são coisa que ministro algum tenha levado a sério; basta um tótó qualqer —Carilho incluído— para distribuir privilégios a madraços que não fazem a ponta de um corno, sem que se veja evolução alguma nos seus modos de trabalhar, nas suas capacidades técnicas, porque alguns ignorantes têm “vendido” o conceito como a única ferramenta útil, como se, para contar histórias, as pessoas não tenham que saber falar.

    E cito, à cabeça, o cinema, o grande freguês dos subsídios; esse cubículo onde existem e convivem pseudo-cineastas que, na esmagadora maioria, quando muito, poderiam ser quem seguraria claquete… para já não falar em Manuel de Oliveira, que, penso, faz pena por conta própria. Nada contra.

    Qual foi, até agora, o plano-director do ministério ou dos sucessivos ministérios? A afinidade política, essencialmente; a protecção ea ajuda na sobrevivência de muitos anormais que nem sequer seriam capazes de explicar a razão por que existem, quanto mais gizar um projecto!

    O único ministério que faz sentido é o da Economia, por serem, os números, a grande preocupação dos analfabetos, com licenciatura e mestrado, com permissão para governar. Qualquer outro ministério é desusado, porque é um pretexto para se dizer que se é ecléctico, quando, de facto, não se é, porque Portugal não é um país culto nem tem propensão, porque não tem, logo à partida, educação de base, o único alicerce onde a Cultura pode lançar as raizes; porque há quem confunda culltura com um aramzém de retém, de datas, de nomes, de sítios, de acontecimentos… Isto pode fazer, sim, parte da bagagem de uma pessoa culta; porém, só é culto quem é educado e tem a capacidade de compreender.

    Até agora, como digo, tenho visto alguns passarocos que confundem tudo. Pior, ainda: passarocos sem a capacidade de comprensão e sem a experiência de trabalho, de onde provém, aliás, a sua incapacide de compreender; porque a acção vive mais da memória selectiva, na ajuda à inteligência, do que da memória efectiva, carregada de informação cuja utilidade, se não for organizada pela experiência de quem trabalha, pode ser nula.

    Lamento que, depois do diagnóstico feito pelos técnicos do FMI —em trêm penadas e sem espectáculo—, não surja um governo formado por figuras exteriores ao País; gente com experiência de trabalho e capaz de, sem promiscuidade, fazer cumprir as linhas-mestras de um programa de recuperação; pelo menos até aí, até serem atingidos os níveis normais de funcionamento. Até lá, portugueses, pelo menos daqueles que, diariamente, têm percorrido os corredores do poder, só os queria como porteiros, motoristas e pessoal de limpeza.

    Mais: a Comunidade Europeia deveria, no entretanto, obrigar, os portugueses interessados na candidatura a futuros governos, à frequência de estudos cujo objectivo seria prepará-los para desempenhos totalmente diferentes daqueles a que temos assistido —a base do meu raciocínio é o modo como, na condição de trabalhadores, or portugueses são úteis e realçados, quando integrados em paises com governos e empresários com organização.

    Depois disto, então, sim, talvez houvesse fundamento para a existência de um Ministério da Cultura e outros. Até aqui, o Ministério não tem sido mais do que uma agência de desempregados e inábeis, alguns dos quais, ainda por cima, que bem poderiam ser sustentados pelas famílias.

    Portugal, para mim, está metido entre dois “artistas”: o vivaço —Sócrates— e o ingénuo que não chega a ser poeta —Passos Coelho. Qual é a alternativa? Nenhuma, porque não se vislumbra alguém com carisma; alguém que não seja a “voz-do-dono” —se estiverem atentos, reparem como falam as “segundas-mãos” dos líderes partidários; observem, por exemplo, do lado do PS, se a cadência e as expressões não são todas de Sócrates, à excepção do Francisco Assis, com mais semelhanças com um feirante. Vejam se não há, em quase todos oradores do PC, marcas do disurso e do modo de discursar de Álvaro Cunhal. No PSD, quase apagados, vê-se, de onde a onde —Marques Mendes foi o mais marcante— uns resquícios de Sá Carneiro. No Bloco de Esquerda, não é tão marcante, porque, apesar de tudo, o seu líder não ser tão carismático. No CDS, de facto, Paulo Portas é igual a ele mesmo, a coisa nenhuma, por ser o paradígma da conflitualidade entre a inteligência analítica e a inteligência aplicativa.

    É dentro deste espectro que estão os futuros governantes “jangada” à deriva; é esta gente, mais coisa, menos coisa, que vai pegar no leme de uns toros e a umas tábuas, entre si, amarrados, que vão pela cachoeira, ameaçados pelo precipício.

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  1. […] para isso é necessário um ministério da Cultura e um aumento do peso da cultura no Orçamento Geral do Estado. E aí é que a porca torce o […]

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