A dívida a quem a contraiu

No debate com Sócrates, Francisco Louçã aflorou um tópico que não chegou a ser desenvolvido: que parte da dívida é que estaria associada à corrupção? Sócrates, imediatamente, encetou a fuga, acusando o oponente de demagogia, usando a técnica habitual de atingir o adversário, sem, na realidade, argumentar. No entanto, essa é uma questão que deveria ser colocada por qualquer cidadão: em que medida é que estamos a pagar uma dívida que não contraímos e cuja origem está na corrupção?

O que se afirma no Compromisso Eleitoral do Bloco de Esquerda, no ponto ENFRENTAR A DÍVIDA, é da mais elementar justiça: “A dívida deve ser paga por quem a cria. A parte do Estado é a mais pequena, mas inclui já hoje parcelas ilegítimas, resultantes de juros abusivos e negócios de corrupção e favorecimento.”

O conceito de corrupção, claro, não é apenas legal, mas também (ou, até, sobretudo) ético, como lembra Luís de Sousa, no livro Corrupção. O mesmo é dizer que uma auditoria poderá chegar ao ponto de descobrir factos legais que, no fundo, são exemplos de corrupção. Na realidade, que nome dar, por exemplo, a tantas parcerias público-privadas tão ruinosas para o Estado?

O castigado continua a ser o cidadão contribuinte, como se pode ler nestes dois textos publicados em 2010 (aqui e aqui). Para os responsáveis pela ruína, no entanto, haverá sempre uma prateleira dourada, já acautelada pela corrupção legalizada que campeia, há anos, num país demasiado latino, no mau sentido.

Comments

  1. Parabéns pelo site, que descobrimos agora

  2. Rodrigo Costa says:

    Como é que Sócrates —ou outro que fôsse— poderia, com objectividade, responder à pergunta, se ele próprio —e não só, evidentemente— faria parte da resposta?

    Farto-me de dizer que os crimes económicos, os grandes crimes económicos, só é possível serem cometidos porque os poderes são cúmplices. E o que se descobre, é descoberto porque uma outra “comadre” foi deixada de fora ou foi prejudicada durante as manobras.

    Quando me perguntam o que penso do terrorismo, pergunto de que terrorismo a pessoa quer saber, porque aquilo a que temos vindo a assistir, a degradação do País e a delapidação do erário, não é outra coisa senão consequência de terrorismo… Dir-me-ão que não há sangue. Pois não, porque são eles quem tem a mão na massa; são eles quem rebenta, como e quando querem, com a estabiliadade das instituições, das empresas e das pessoas.

    Há muito que defendo que, para que haja terrorismo, não é necessário que haja sangue; basta que haja alguém que, em proveito próprio, provoque o mal-estar e a fome.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading