Renegociação da Dívida: surpresa?

Conjecturei em artigos anteriores que cada vez mais vozes se levantariam  defendendo uma renegociação da dívida portuguesa e que haveria, com o tempo, opiniões vindas de sítios e pessoas “surpreendentes”. A verdade é que não tem sido necessário esperar assim tanto tempo e começa a tornar-se óbvio para muitos.

Quanto a ser surpreendente, pronuncie-se o leitor: João Duque, Presidente do ISEG, conselheiro do líder do PSD e eventual ministro das finanças de Passos Coelho, admite já que Portugal vai ter de reestruturar a dívida.

Das duas uma: ou João Duque não quer ser Ministro das Finanças e afasta assim qualquer possibilidade de convite, ou começa a preparar o terreno. Se, ainda assim, for convidado, podemos adivinhar o que pensa Pedro Passos Coelho sobre o assunto.

Acrescente-se ainda Nouriel Roubini, um dos economistas a quem se fez orelhas moucas sobre o estado da economia e sobre as consequências do excesso de liberalismo e que previu, por exemplo, a crise financeira de 2007.

Eis a lista, em crescimento:

PCP

BE

Boaventura Sousa Santos

António Nogueira Leite, dirigente do PSD, economista

Thomas Mayer, economista-chefe do Deutsche Bank

Alberto Garzón Espinosa, Conselho Científico da ATTAC Espanha

Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia

Wolfgang Schauble, ministro das Finanças da Alemanha

João Duque, Presidente do ISEG

Nouriel Roubini, economista

Comments

  1. Podes ajuntar o meu mísero nome nessa listinha?
    Obrigadinho.

  2. Lawrence says:

    Não se arranja praí um novo salazar mas que expluda passados 10 anos de estar no governo?

  3. António Fernando Nabais says:

    Tu queres ver que o pessoal do PSD já sabia que iria ser necessário renegociar a dívida e esqueceram-se de dizer durante a campanha? Esta malta é muito distraída, poças! Tu queres ver que o BE e o PCP é que tinham razão? Não foram o BE e o PCP que alertaram o país há mais de dois anos para a crise? Tu queres ver que o pessoal se enganou outra vez a votar?

  4. Há mais quem o queira. Quer, por favor, conferir?

    http://streetphotoandco.blogspot.com/2011/06/alo-alo-pedro-correia-do-aventar-os.html

    🙂

  5. Os outros, os da sua lista, são bravos?

  6. A chamar-lhes selváticos ainda que só pela metade, vai ter dificuldade em que o convidem para secretário de estado caso algum deles vá a ministro, ó Caro A. Pedro Correia….

    Seja como for, eu alinho mais com os ursos mansinhos que, se olharmos bem, parece que estão cépticos quanto a este tema, espreitam de alto…

    Se calhar lá iremos parar – mas para quê antecipar já a desgraça?

  7. Para qualquer pessoa ou país que esteja falido, como é o caso de Portugal, é sempre bem vinda uma reestruturação da dívida. Por isso é claro que estou de acordo que isso aconteça.

    O que ninguém me explica é como será possível fazer essa reestruturação. A dívida está dispersa um pouco por todo o mundo na posse de dezenas de milhares de credores. Vamos chegar a acordos bilaterais caso a caso? Quem representa os credores?

    Uma forma de conseguir isto é contrair um empréstimo suficientemente grande para comprar a dívida que for possível e depois negociar com o novo credor. Quem, no seu perfeito juízo, embarca numa aventura destas? – Dado que é um negócio perdedor desde o início. – Se há entidade que pode fazer esse empréstimo é exactamente a Troika. De que forma os termos desse empréstimo serão diferentes dos actuais?

    Mas o problema não fica por aqui. A maior parte da dívida externa não é do estado é de privados. Um dos objectivos do presente quadro é o salvamento dos bancos (ou como dizem os políticos para não terem de referir os bancos, do sistema financeiro). Para mim este até é o principal objectivo. A pergunta a fazer-se será, se vamos reestruturar o que vai ser feito dos bancos? Quem lhes vai pagar as dívidas?

    Em resumo, há alguém que me explique como se pode fazer esta reestruturação? Com que meios? E já agora, com que fim?

    • O fim, Hélder, devia ser o aumento dos prazos de pagamento (a redução das taxas de juro devia ser tentada, mas parece difícil) de forma a diminuir a mais que certa recessão e as suas consequências sociais e ainda viabilizar o pagamento sem percalços que venham a implicar cortes ainda mais profundos ou efeitos tipo bancarrota ou saída (forçada) do euro herdando as dívidas em euros. Esse devia ser o fim último da reestruturação e é importante não apenas para Portugal, mas para o próprio projecto europeu, moeda única incluída. Por isso há vários nomes alemães nesta lista.

  8. E por cá? O Fundo de Pensões? E os títulos do Tesouro? E os Certificados de Aforro? Tudo com um hair cut?

  9. Pedro M says:

    O Ministro das Finanças Holandês impõe como condição à ajuda da Grécia uma reestruturação da dívida e a participação de privados no suporte dos encargos que também são deles:

    http://www.agenciafinanceira.iol.pt/financas/holanda-grecia-resgate-reestruturacao-divida-credores/1260022-1729.html

    É adicionar o MF holandês.

  10. david says:

    Será que alguém me explica de que forma se renegoceia uma divída, se diariamente precisamos de novos empréstimos? se conhecerem algum credor que vá na conversa do “olhe, não tenho como pagar-lhe o que até agora me emprestou, mas já agora empreste-me mais algum” digam-me.

    obrigado

    • Renegocia-se através de negociações, como diria La Palisse.

      Os próprios FMI, BCE e governo alemão já vêem essa possibilidade como saída necessária para a Grécia e vão ainda ceder mais. Nestas coisas, onde se lê Grécia, lê-se Portugal.

      • david says:

        pois, e quanto ao acesso ao crédito (e as condições deste) que vamos ter a partir daí? Quem é que continua a emprestar a quem já declarou que não paga?

        esclarecimentos são bem-vindos.

  11. Para todos os que expressam dúvidas sobre como se reestrutura a dívida, podem ir a http://portugaluncut.blogspot.com/2011/06/porque-devemos-reestruturar-divida.html

    Um abraço

    • O que é sugerido nesse post é cessar parcialmente os pagamentos. No meu dicionário isso não é reestruturação, é declarar falência. Note que não tenho nada contra o declarar a bancarrota, tem as suas consequências, com vantagens e desvantagens. Note também que não acredito que o plano gizado pela troika vá ter sucesso.

      Porque motivo estamos com rodeios? Porque não chamar as coisas por aquilo que são?

      • david says:

        repare que não é só isso. o plano é cessar os pagamentos, mas continuar a pedir emprestado, já que o precisamos de fazer para pagar despesas correntes. pergunto-me quais serão as taxas de juro para países que há partida não tencionam pagar…. a não ser que o plano seja pedir esmola em vez de empréstimos….

  12. E obvio, se nao mesmo elemenatr, que e absolutamente re estruturar a divida.

    Ter duvidas a cerca de tal absoluta e urgente necessidade, e ignorancia ou cegueira total, identica a dos politicos, economistas e comentadores, que afirmavam peremptoriamente, antes dos cofres do Estado ficarem totalmente vazios (Maio 2011, 300 mil/milhoes de euros) que nao havia necessidade de pedir ajuda ao FMI and BCE.

    A cegueira definitiva das classes economico/ financeiras, politicas e escrivinhadoras destas coisas, conduziu-nos a situacao de bancarrota adiada em que estamos.

    O obvio da absoluat necessidade de re estrutar a divida resulta duma analise simples que qualquer merceeiro faz diariamente para geriri o seu negocio:

    -Se a mercearia gasta mais diariamente/ anualmente do que produz e apresenta deficit sistematico desde ha 37 anos, se tem uma divida enorme que so pode ser paga/ diminuida com dinheiros que resultem dum superavit/ saldo positivo, que nao existe repito ha 37 anos, nem tornara a existir nos proximos 37 anos, e obvio que so ha um caminho, re estruturar a divida.

    Pensar que e possivel / realista re activar / re animar a economia em Portugal no contexto da UE, com as fronteiras totalmente escancaradas para a entrada de tudo o que a China/ Asia e UE produzem infinitamente mais barato e melhor qualidade que Portugal, e dentro do EURO, e acto de cegueira intelectual que so pode designar-se como a maxima expressao da estupidez humana.

    O que me espanta a mim, leigo em questoes de economia, e que aquilo que qualquer merceeiro e ate qualquer iletrado campones ve desde ha mais de 30 anos, que Portygal ia a caminho do abismo economico financeiro, vulgo bancarrota, e que nao tem saida para a actual situacao que nao o regresso a niveis de miseria do inicio do Estado Novo, trabalho duro, re estruturacao da divida, etc.. os intelectuais desta Praca, sejam politicos, economistas, escrivinhadores, etc… so veem, so percebem, so comecam a visualizar, consumada a irrecersabilidade da tragedia/ desastre.

    Portugal e os seus micro e corrupto dirigentes estao loucos, vivem de alucinacoes colectivas, de sonhos tipo vai sair-nos o jackpot do euro milhoes, ou a economia vai recuperar, ou as medidas de austeridade vao resolver o problema, etc… nao veneraveis loucos, o emprestimo que esta ai vai apenas adiar a bancarrota, tal como na Grecia, vai aumentar a divida e nao diminui-la, vai criar ainda mais obrigacoes; as medidas de austeridade vao apenas diminuir ligeiramente o deficit, o qual por sua vez por pequeno que seja vai continuar a aumentar a divida.

    Tudo o que disse e tao elementar, tao primario, tao obvio, tao imediato na sua percepacao, que de facto eu me questiono, sera que sou eu o louco, o doente mental, o cego, o idiota que nao ve que agora sim, com os passos do coelho, as austeras austeridades e a troika a visitar-nos regularmenete, vai tudo mudar…. nao meus caros concidadaos, este e apenas o ultimo cigarro concedido ao condenado a cadeira electrica….logo a seguir ha que sentar o rabiosque na dita, e esperar o choque do FIM.

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