Manuel Sobrinho Simões e os coitadinhos dos cábulas

Manuel Sobrinho Simões teoriza quanto aos cábulas que foram apanhados em flagrante delito e a quem não lhes aconteceu o mesmo que acontecerá, em princípio, aos que em iguais circunstâncias (flagrante delito) lhes passarem pelas mãos. Falo, portanto, dos futuros magistrados que foram apanhados a copiar tiveram todos nota de dez valores. Transcrevo parte das declarações (Antena 1, 17 Junho 2011 00h00):

Manuel Sobrinho Simões – As pessoas não acham que copiar é uma fraude. (…) Porque infelizmente na nossa cultura isso não é considerado uma fraude. Não é considerado desonesto, é considerado uma esperteza saloia. Eu acho é que a nossa sociedade é permissiva com a esperteza saloia, com a aldrabice. (…). Eles [os alunos que copiaram] coitados são apenas um epifenómeno de uma coisa terrível, que é uma doença social. Nós não punimos a desonestidade; nós não somos exemplares, como povo.

Jornalista – Como é que isso se transforma, como é que podemos mudar isso?

Manuel Sobrinho Simões – Não sei.

E que tal deixar-se de floreados e de “coitadinhos, são umas pobres vítimas da sociedade, ah e tal não sei como se muda a sociedade” e começar a mudança pelo exemplo de base? Sei lá, em vez de se começar a casa de mudança da sociedade pelo telhado, começar pelo alicerce dos casos concretos?

Comments

  1. Mudar é chato, dá trabalho.

  2. Rodrigo Costa says:

    …. Como se mudaria isto… Bem!… Para começar, os copiadores deveriam ser impedidos de prosseguir na ideia de serem magistrados. Disso não tenho dúvida. Porque, se a atitude de copiar não é, propriamente, crime de lesa-majestade —em muitos casos, será—, é, seguramente, elemento definidor de carácter.

    Ora, antes de todos os atributos de ordem técnica, mais do que a qualquer outro profissional, o que se exige, de base, a um juiaz é sólido carácter, sobe pena de lhe faltar estatura moral para legitimar muitas das sentenças —quase todas— que venha a proferir.

    — Mas quantos, os que são juizes, hoje, não copiaram?…
    — Terão, admito, beneficiado do facto de não terem sido apanhados. Ora, sem cadáver nem arma… não há crime.

    Em conclusão, num momento em que é fundamental moralizar as sociedades, é exigível que os exemplos comecem a acontecer no topo da pirâmide, porque não há outra forma de estimular as correções necessárias.

    • jorge fliscorno says:

      A exigência de moralidade deve começar naqueles que têm o poder de a exigir. Frei Tomás foi santo mas não foi juiz.

  3. Sobrinho Simões diz “não sei”. Pois eu sei.
    E não é difícil. É só centrarmo-nos nos que decidem vergonhosa e incompetentemente mal nesta matéria e castigar. Deixar de branquear fingindo que o problema são os 10 ou 20 tipos que naquele teste decidiram cabular.
    Dar forte e feio nos BRANQUEADORES. Depois, caro Prof., depois na próxima vez, vai ver que a ameaça de chover de cima para baixo compõe as coisas.

    O Prof. é um homem brilhante. Mas não chega. Para perceber isso temos de recorrer aos génios. Eu cito um:

    Luis Vaz de Camões: “Fraco Rei faz fraca a forte gente”

    http://supraciliar.blogspot.com/2011/06/demitir-o-ministro-o-pgr-e-direcao-do.html

    • jorge fliscorno says:

      Reconheço algum interesse no discurso de Sobrinho Simões. Mas não me chega aceitar esta tese dos inocentes que são produto de uma sociedade decadente. Um bom edifício é-o porque os respectivos tijolos são sólidos.

  4. O tal dr. Simões investigador disse ‘não sei’ mas no fim sabia.Deu os porqu~es e a solução. Era trancrever também que ele disse a seguir para perceber o colorido vulgar da cartilha que molda essas “mentes brilhantes”.
    Cumpts.

    • jorge fliscorno says:

      Pois disse. Faltou-me a paciência para transcrever esse colorido, usando a sua bem escolhida expressão .

  5. Esta do Sobrinho Simões dizer que não punimos porque isto é um defeito natural,leva-me a pensar no tempo do Estado Novo,em que quem fosse apanhado a copiar num exame, já sabia! Era-lhe tirado todo o trabalho
    efectuado, e posto na rua.
    E claro chumbava,E ficava marcado, para a próxima prova e não era considerada perseguição este tipo de decisão.
    E é assim que estas mentes brilhantes se manifestam, para darem formas de opinião para esta praga acabar de uma vez por todas.
    Dou um exemplo: Um indivíduo que fez um exame e ficou reprovado, face a isto chorou todo o dia, mas não foi em vão porque no Sábado a seguir fez o dito novamente e ficou destinto.
    Já na Instrução Primária era praticamente uma nódoazita.

    • jorge fliscorno says:

      Mas hoje em dia é preciso ter cuidado com as coisas que traumatizam…

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