A lírica da criminalização do piropo

Acabo de descobrir que a UMAR e a Madame Mubarak querem criminalizar o piropo. Se bem entendi: “comentários não solicitados por parte de absolutos estranhos sobre o meu [dela] aspecto e o meu [dela] potencial sexual” devem ser crime.

Estou inteiramente de acordo, desde que tenha efeitos retroactivos: das cantigas de amigo à lírica camoniana, tudo para tribunal. Os autores jazem mortos e talvez enterrados? não faz mal, encarcerem-se as obras.

Preservemos o direito de Leonor ir descalça para a fonte sem com isso servir de tema para motes e dichotes, tipo tão linda que o mundo espanta, ou comentários sobre a sua cinta de fina escarlata e o sainho de chamelote. 

Já chega. Acabemos de vez com esta pouca vergonha, embora alguns cam(i)onistas possam assegurar que Leonor “estava mesmo a pedi-las“. Deixem-nas em paz, formosas e não seguras. Haja respeito.

Comments

  1. jorge fliscorno says:

    Pfff também esta? Talvez há um mês ouvi na rádio uma senhora, cujo não me recordo, defender esta mesma posição. A parvoíce que mais me surpreende é ainda alguém acreditar que por decreto se mudam atitudes. Acabar crises com um despacho, ainda vá lá, mas convencer um trolha a trolha a deixar mandar um assobio…. E já agora, se em vez do habitual fiuuuuu-fi-uuuuuu assobiado, sair a 40ª de Mozart quando uma moça passar, também será assédio? Vamos colocar em lei a sequência de notas que se podem assobiar à frente de uma senhora?

  2. Rodrigo Costa says:

    … Crime, crime é elas serem boas sem ninguém lhes ter pedido que sejam —não sei se é o caso da Madame Mubarak, que, às tantas, nem valerá um piropo…

  3. Konigvs says:

    Um dia chegaremos ao cúmulo de redigir uma carta para ser assinada sempre que queremos ter relações sexuais, para depois não sermos acusados de violação, tentativa de violação, ou outro assédio qualquer. Querem-nos transformar em algo que não somos, antes de mais somos animais e seres sexuais. O que não invalida que um não é um não. Se não houver sedução, aproximação entre as pessoas, gostava que me explicassem como é que as pessoas têm relações sexuais?
    Será que um homem que vê uma desconhecida e se sente atraído por ela terá de passar a dirigir-se nestes termos? -Olhe desculpe sua excelência, importava-se de disponibilizar 30minutos para praticar o coito comigo?”. Deduzo que com esta boa educação a senhora já não se sentiria maltratada!!
    Acho também que muitas feministas também não estão a par dos tempos, hoje em dia são muito mais as mulheres a assediar e muitas vezes de forma bem agressiva bem mais que os homens, contudo por norma estes não se queixam porque o que é aceite socialmente é que um homem seja conhecido por ter muitas aventuras.
    Vejam este exemplo, tive um colega de trabalho que começou a dar formação a uma jovem que entrou para a empresa. Esta rapidamente começou a assediá-lo por forma a ter relações sexuais com ele, mas ele como não se interessou, ela não teve mais nada, rasgou a roupa e foi-se queixar à responsável dos recursos humanos que ele lhe rasgou a roupa e a assediou no elevador. Não tivesse ele as sms dela a assediá-lo e na volta teria sido ele a perder o emprego, porque alguém ficou frustrada por levar uma nega. Haja paciência.

  4. Glória says:

    Enfim, acho muito bem que se chame a atenção com um valente “apertão, aos incautos marialvas da nossa praça.
    E sabem porque estou de acordo?
    É que é mesmo muito, muito chato, uma “gaja” ir na sua vidinha, Umas mais, outras menos sensuais, e levar com frases, “gaja boa, eu fazia-te isto e aquilo, ou passarem perto e meterem a mãozinha na bunda alheia… desrespeitadores do meu espaço e do meu corpo, logo da minha LIBERDADE, bom, eu não os tolero e sem dúvida que saem envergonhados com a mesma violência verbal com que me premearam, Quanto ao contacto físico, enfim a coisa torna-se preta.
    SEMPRE OUVI DIZER, E BEM, QUE A NOSSA LIBERDADE ACABA ONDE COMEÇA A DOS OUTRO. Toda a acção deve ser acompanhda de responsabilidade, senão terá uma reacção à escala…
    Com apenas 11 anos, isto nos alvores dos anos 70, um trolha, resolveu tocar-me em plena rua, Fiquei de tal modo peertubada, mas como me é típico passei ao ataque , e o canalha estatelou-se em plena via férrea. por perto passava uma prof. do meu colégio que se insurgiu contra a minha inesperada e violenta atitude.Aquilo revoltou-me de tal modo, pois ela não quis saber o que se passara, eu nos meus ingénuos 11 anitos, percebi que aquilo era uma violação dos meus direito e a professora, ali mesmo passou uma vergonha, acusando-a de estar a pactuar com uma atitude doentia do homem. nem sei que tinha aquela força dentro de mim. era uma criança até bem obediente, mas com uma forte individualidade e sentido crítico das coisas. senti-me violentada e não o iria permitir, nunca!
    Há piropos que são giros, inteligentes e que não ofendem, esses até, concedo, pela saudável criatividade afagam o Ego, É um episódio leve, nada insultuoso e bom, não tem qualquer reacção por não ser uma acção abusiva e invasiva.
    Guys, é só imaginarem a cena , repetida e repetidas vezes, ainda que estejam alheadas da criatura que nos bombardeia com certos “mimos”. não gostariam, de todo.

    • Piropo é verbal. Apalpão que eu saiba é crime, porque para todos os efeitos é uma agressão. Piropo nem agressão verbal é, pelo menos na generalidade dos casos.

    • Rodrigo Costa says:

      Dsculpe Glória, mas, quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.

      Então, as meninas vestem-se para “matar”, intervir, e acham que o pessoal tem a obrigação de ficar mudo?… Se são boas, nada contra; tudo a favor, mas recatem-se —a Glória, se lhe saisse o Euromilhões, ia contar o dinheiro para o café?…

      Assim é com os corpos, com a inteligência e com a força: não são para serem exibidos gratuitamente —há, como diz o João José Cardoso, uma diferença entre piropo e apalpão.

      E, já agora, que se faria às “gajas” que mandam piropos e dão apalpões.

      Nota: estou em crer que não são as boas que se queixam dos piropos; ou, então, queixam-se porque o piropo e o apalpão não vem da pessoa que gostariam que viesse… Bem, mas isso é um mal de que muita gente se queixa. O Senso manda que as coisas continuam como estão, desde que não haja persiguição nem contacto —uma senhora não ouve o que não quer, não é assim?

  5. Pisca says:

    Um dia ouvi a Odete Santos dizer algo parecido com isto:

    – Quando se começa a querer legislar a moral e boa educação, já estamos a entrar no campo da ditadura dos costumes, o resto vem a seguir

    Perfeitamente de acordo, é sempre um bom começo

  6. Rodrigo Costa says:

    … Uma pergunta que deveria ter feito e não fiz: Mesmo as mulheres que têm maridos e amantes devem ser abordadas com toda a decência ou nem deverão ser abordadas.

    Vou terminar com uma anedota que, dfe certa forma, espelha a realidade:

    Numa manhã, ao pequeno-almoço, um indivíduo, de certa idade, lia o jornal e fixou-se numa notícia sobre uma otogenária que tinha sido violada por um jovem de 18 anos.

    Depois de lida a notícia, reflectiu, em voz-alta, para a esposa:

    —O mundo está perdido!…
    —que foi?… —pergunta a senhora.
    —Vê lá!…, um rapaz de 18 anos violou uma senhora com 80… Pode isto ser?…
    — Diz a mulher: —Há mulheres com sorte!…

    .. Desculpem-me o desabafo, mas o mundo está ficar demasiado paneleiro

  7. Daniela Major says:

    Espero é bem que isto funcione ao contrário também. AInda ontem estava com uma amiga minha que se virou para um rapaz desconhecido, giro por sinal, e disse: “és pobre de bom”.
    Será que ela também apanha multa?

  8. Interessantes teses de como ou não piropiar – o piropo já não é o que era e, demasiado intelectualizado, abastardou-se e ficou p´ra í perdido e chocado – é a evolução do piropo desde pelo menos os 4 assobios (que era interessantemente incómodo pelo menos) – mas hoje também já ninguém sabe assobiar e o piropo anda a ser confundido com assédio e os meninos, com mêdo deste reforma social, deram lugar a que sejam as meninas a tomar o lugar – está tudo baralhado – mas se a mulher já quer ser Papa e padra qu’ei-de eu dizer ? Até parece que as pessoas em geral já nem se olham mesmo que seja só olhar para não lhe darem um encontrão como num candeeiro – viv’ó piropo naturalmente inteligente – se calhar (também) é por isso que há mais amaricados e casamentos que dão para o torto e para resolver a situação escolhe-se a companhia, necessariamente natural, ou naturalmente necessária, sem olhar ao “género” – tudo evoluiu – será ?’

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  1. […] Entretanto, no aventar, o João José Cardoso deixa claro o ridículo da proposta: Preservemos o direito de Leonor ir descalça para a fonte sem com isso servir de tema para motes e dichotes, tipo tão linda que o mundo espanta, ou comentários sobre a sua cinta de fina escarlata e o sainho de chamelote.  […]

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