O fim das Golden Share

Alguns partidos (PCP e BE) hoje fizeram saber que acham mal o Estado ter acabado com as Golden Share que detinha em algumas empresas. O argumento é que o Estado perde peso na economia. Pressupõe-se então que o oposto, isto é, a presença do Estado nas empresas, tem sido benéfico para a economia e para essas empresas em particular. Vejamos então algumas marcas desse sucesso:

  • CP: recorrente fecho de linhas; prejuízos enormes; péssimos horários, péssimo serviço (demorado, caro e desconfortável) e péssima gestão.
  • Grupo RTP: enorme buraco financeiro, programação da RTP1 abaixo do sofrível, instrumentalização da informação.
  • Grupo EMPORDEF: Estaleiros de Viana do Castelo falidos há muito (apesar das encomendas); Empresas da defesa em pré-falência (apesar de exportarem a maioria da produção).
  • CTT: sem administração há meses; dá lucro mesmo assim.
  • EDP: electricidade caríssima; défice tarifário; imposição à EDP de compra da electricidade produzida em micro-geração a preços superiores aos praticados na venda ao público.

A presença do Estado nas empresas tem sido o maior empecilho ao seu desenvolvimento. Incapacidade de decisão em tempo útil; decisões políticas (e sobretudo a pensar nos votos) em vez de decisões de estratégia económica; instabilidade na gestão (nomeações pela confiança política, em vez de pela competência; mudança de gestão a cada novo governo).

Digam-me, qual é a empresa que saiu mais forte devido à gestão estatal? Acordem, pá.

Comments

  1. e porque não manter somente uma posição financeira, ou seja transformar as golden shares em acções normais e com isso receber dividendos?

    • jorge fliscorno says:

      O post não é sobre a venda mas sim sobre a ideia de a saída do Estado da economia ser algo negativo. Em todo o caso, uma venda de acções destas só teria lucro caso se o que estivesse à venda fosse o controlo que essas Golden Share davam. E isso não é vendável (seria passar por cima da actual estrutura accionista).

  2. carlos cunha says:

    está a confundir participação do estado nas empresas com “golden share”, que se trata de uma participação privilegiada, com direito de veto, independentemente da % da participação do estado nas empresas.
    na RTP, CTT, EMPORDEF, CP não faz sentido dizer que existe “golden share”, porque o estado detem estas empresas na totalidade.
    o estado tem “golden share” na Edp, Galp e PT, que agora vai acabar, mas mantém as participações que detém, até a “privatização” total. ou seja, até à alienação da participação ainda detida pelo estado nessas empresas.
    na PT o estado tem apenas 500 acções, mas apesar disso tinha direito a veto por via da “golden share”. é por isso, por ter apenas 500 acções, que não se fala na “privatização” da PT.

    • jorge fliscorno says:

      Discordo. As golden share representam a participação do Estado na economia. Nas que citei não há com efeito golden shares mas há controlo por posição maioritária. O efeito é o mesmo.

  3. Os CTT dão lucro Jorge. Quanto a coisas como a CP e os Estaleiros há muito que têm administrações com a missão de criar condições para a sua privatização, baratinha, o que passa precisamente pelos crimes económicos que têm cometido. Sempre assim foi.
    As golden share ainda garantiam algum travão em empresas monopolistas (caso da EDP e em grande parte da PT e da Galp). Agora que ficaram à solta vais ver como sobem a electricidade de os combustíveis.

    • jorge fliscorno says:

      Os CTT deram lucro. Há muito que não dão. Conheço bem a situação dos Estaleiros e essa ideia de criar condições para a privatização não é real. Mas não vou neste espaço entrar em detalhes.

      Quanto às golden shares meterem travão nas empresas monopolistas, é uma ideia sem bases. Vê a EDP, nunca a golden share foi usada para baixar os preços. E a Galp, é de ver que desde que foi privatizada que os preços dos combustíveis antes impostos são proporcionalmente menores. É o que demonstro aqui: http://aventar.eu/2011/02/02/e-se-nacionalizassemos-a-galp-de-novo/

      • Nightwish says:

        Os estaleiros não sei, mas a CP está prontinha para ser cortada às postas. Claro que só as partes que dão lucro, aquelas às quais não há alternativa física, vão ser privatizadas. E, claro, os preços dos bilhetes vão disparar.

        • jorge fliscorno says:

          Ainda há dias me falavam dos tempos em que a CP era toda ela privada, formada por várias empresas privadas e independentes mas nas quais era possível fazer uma viagem desde o autocarro que levava as pessoas à estação de Braga até à estação de Cascais. Outros tempos.

          Quanto aos preços dispararem,haverá lugar para tal? Por exemplo, hoje em dia fazer a viagem de carro com duas pessoas entre Lisboa e Porto fica mais barato, mesmo usando auto-estradas, do que indo de comboio. Onde estará o erro?

          • Essa da CP não foi bem assim: os investimentos privados em caminhos-de-ferro acabaram todos por ir parar às mãos do estado pela razão do costume: faliram…

          • jorge fliscorno says:

            Ao que percebi, faliram no pós-guerra. Como a restante economia.

      • Tiago Santos says:

        Os CTT tiveram um lucro de 56,3 milhões de euros em 2010, menos 6,1% que no ano anterior. Pode ver em http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1860057

        Continuar a bater nessa mesma tecla descredibiliza todo o post.

        Cumprimentos

        • jorge fliscorno says:

          Estava errado, o que é óptimo. Confundi quebra de lucro com prejuízo. Corrigirei o post quando puder.

  4. Bruno says:

    Amigo o Estado é necessário na economia. Repara na crise que o sector automóvel americano atravessou. A administração Obama teve que intervir mas agora recebe o que investiu, ao contrário de uma república que conhecemos. Quanto às empresas estatais, elas estão na bancarrota, porque: 1) Têm serviço público a assegurar, logo não podem cobrar preços ao alcance de alguns. 2) O Estado só privatiza o que lhe dá lucro, pois o que tem prejuízo não privatiza ele, porque será?. 3) Infelizmente as empresas estatais só servem para colocar administradores pouco correctos e que ganham enormes salários e que transitam todos na´órbita de empresas. 4) Na hora do aperto, para onde se viram as empresas ao discurso de aumentar exportações e tal? Para o Estado, o mesmo que não querem. 5) Com o Estado em sectores chave, é possível desenvolver o país, mas há que acabar com a corja de mamões e parasitas que existe no bloco central de esquina à direita

    • jorge fliscorno says:

      Concordo com uma coisa: o Estado é necessário na economia. Mas não o é nas empresas. Quanto à triste situação que a Europa, e também os Estados Unidos, vivem, isso deve-se mais à concorrência desleal que o oriente trouxe do quem a qualquer outra coisa. E que é que abriu as fronteiras sem se preocupar com estas coisas? O Estado, pois claro.

      Uma visão simplista da questão:


      Teoria dos vasos comunicantes do lucro fácil

  5. Nightwish says:

    Eu fico à espera da iniciativa privada nos transportes públicos fora de Porto e Lisboa. Mas espero sentado. Tal como se vai ver o que vai acontecer à qualidade da entrega do correio.
    Quanto à EDP, se acha que a eletricidade é cara enão vai aumentar muito rapidamente tenho uns CDS para lhe vender…

    • jorge fliscorno says:

      Pois, também eu acho que é melhor esperar sentado. Até porque com a ainda pública CP o que está a dar é fechar.

      Infelizmente a electricidade vai aumentar. É, aliás, uma promessa antiga (veja-se o famoso défice tarifário) e não foi a golden share que fez alguma coisa contra.

      Aliás, se estamos a falar de regulação de serviços públicos, ou muito me engano ou isso faz-se com os termos da concessão de serviço público. Coisa que até agora parece não ter funcionado…

  6. Rodrigo Costa says:

    Meus caros,

    O problema não são os regimes, não são os estados, não são os privados, nem as estratégias… nada! Nenhum regime nem nenhuma estratégia funciona sem pessoas sérias; as pessoas não são sérias; é este o problema de fundo; não adianta andar à procura da táctica adequada, se os jogadores e os treinadores não estão para aí virados nem preparados.

    Se há intervenção do Estado, há prejuízos; se se dá liberdade aos privados, os lucros terão puco tempo, porque tosquiarão, de uma assentada, os utentes de quaisquer serviços, e, de seguida, irão à falência e pedirão a intervenção do Estado, não para serem controlados, mas para receberem ajudas económicas. Na verdade, na verdade, quase todas as empresas são intervencionadas pelo Estado, porque, directa ou indirectamente, é do erário público que os dinheiros lhes chegam —veja-se as medidas que acabam de ser tomadas; foram tomadas, por quê?… por que as empresas dizem-se em dificuldade; a banca diz-se em dificuldade; todos estão em dificuldade… Onde é que o Estado não entra nisto?…

    O Estado tem que ser o legítimo moderador, porque a sociedade não é uma ideia de privados, uma empresa formada por investidores com capitais próprios. As empresas privadas aparecem no contexto de sociedades que se organizaram com base na participação e comparticipação de toda a gente, através dos impostos.

    Tome-se por modelo a FIFA ou UEFA —concorde-se ou não com o modelo. Acham que qualquer clube pode fazer o que bem entende, apesar dos investimentos que fazem e que todos conhecemos? Acham que os negócios —apesar da hipotética corrupção— podem ser feitos de qualquer maneira, sem a supervisão da “tutela”, sem que sejam a FIFA ou a UEFA a sancionar os processos?…

    Tem que haver uma entidade neutra e, de preferência, pendular, impoluta, que estabeleça e assegure o cumprimento dos trâmites establecidos; e esse papel só pode caber ao Estado, não é a um ou vários privados; os quais, naturalmente, tratarão de tudo que ande ao redor do seu umbigo, deixando que apodreça tudo quanto não lhes interessa. O problema é, antes de tudo, filosófico, só depois —é esta a ordem, em tudo— é que vêm os problemas técnicos.

    Repito o que já disse noutra altura: a Saúde, a Educação, essencialmente, não podem ser entregues a privados, porque não são áreas que têm que dar, necessariamente, lucro, porque elas são, em si mesmo, investimento, pela educação, pelo conhecimento, e pela manutenção da capacidade das pessoas poderem trabalhar. Mesmo a Comunicação Social não pode ser entregue ao negócio puro e duro, porque, já faltou mais, qualquer dia os canais e as revistas desatam a criar estripadores, para manutenção e aumento das audiências.

    Remato como comecei: o problema é de seriedade. Se este problema for resolvido —peço desculpa, mas não acredito—, qualquer sistema funcionará, porque, animadas das melhores intenções, as pessoas poderão fazer ajustamentos e colmatar lacunas, através do diálogo e das evidências. Até lá, chamem-lhes “golden shares” ou batatas com bacalhau, porque isso é o acessório.

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