Terrorismo ataca nos jornais

Esta manhã ainda não tinha visto a manchete do I. É uma obra-prima do terrorismo jornalístico nacional:

Como quem semeia colhe frutos, é passar os olhos pelas caixas de comentários, por exemplo do Público. Debaixo de um título ao nível desta manchete, versão aspas:

Suspeito detido é um “fundamentalista cristão”

(encontrem-me no mesmo jornal fundamentalismo islâmico escrito com as mesmas aspas, sff) nascem teorias fantásticas, ao pé das quais a ressurreição de Lázaro é uma brincadeira de putos. Vejam esta:

pode um muçulmano invocar, de um modo legítimo e ortodoxo, a sua fé para cometer actos de terrorismo? Sim, pode!: os seus textos religiosos estão cheios de apelos ao “dar a morte” a quem não segue a sua fé… Pode um cristão invocar, de um modo legítimo e ortodoxo, a sua fé para cometer actos de terrorismo? Não, não pode!: nada nos textos cristãos o permite… Mais: este acto foi justificado por este bárbaro como tendo a base na sua crença? não! são os actos cometidos por terroristas islâmicos justificados pela sua fé? Sim. Donde a questão é: porque é que, por exemplo no Público, se omite aquela e se refere esta?

Pode sempre invocar-se a ignorância, sendo a religião coisa da fé contra a razão não podem saber que o cristianismo é historicamente muito mais terrorista que o islamismo. Aliás é escusado explicar-lhes: não acreditam. Guerras santas, inquisição, ou coisas bem mais próximas de nós como a invocação do catolicismo para defender o império colonial, é escusado explicá-lo a fundamentalistas: a fé cega, ensurdece e provoca a emissão sistemática de disparates. Esperemos que fiquem por aqui. Quando em Portugal também pegarem em explosivos e espingardas a coisa ficará muito mais complicada.

Comments

  1. Se podia ter escolhido uotro comentário à mesma notícia do Público?

    Normando Fontoura . 23.07.2011 12:06 Via Facebook
    “FUNDAMENTALISTA CRISTÃO”?
    Creio ser muito injusto e redutor classificar-se este monstro como “fundamentalista cristão”. Aliás, esse “epíteto” é a etiqueta fácil com que se costumam rotular indivíduos causadores de violências anti-islamistas e outras. Não é justo que assim se proceda, tanto mais que o verdadeiro “fundamentalismo cristão” tem na sua essência o amor, a generosidade, a tolerância e o respeito pelo próximo. Ser verdadeiramente “fundamentalista cristão” é ser tudo menos violento, tudo menos intolerante para com as outras expressões de fé. O “radicalismo” cristão, islâmico ou outro qualquer, esse sim, é capaz das maiores atrocidades, pois não tolera, muito menos aceita a fé e/ou a presença do outro. É necessário que se revejam as “etiquetas” com que se rotulam as pessoas de uma forma tão genérica e …

    Podia. Mas não poderia afirmar as mesmas tretas.

    E, já agora, deixe-me dizer-lhe que a isenção da sua argumentação melhoraria se não confundisse catolicismo (inquisição, ou coisas bem mais próximas de nós como a invocação do catolicismo para defender o império colonial) com cristianismo.

    • Não escolhi esse comentário porque ainda é mais triste na incapacidade de tapar o sol com a peneira. O verdadeiro “fundamentalismo islâmico” também, já agora, teria “na sua essência o amor, a generosidade, a tolerância e o respeito pelo próximo.” Mas quando se escreve desenfreadamente “fundamentalismo islâmico” ninguém vem com uma cantilena tão mentirosa.
      Na realidade nenhuma religião historicamente fez tal coisa, e as mais violentas das religiões são cristãs, a começar no catolicismo (e recordemos o que a contra-Reforma fez aos protestantes, por exemplo). Pregam o amor, mas fazem a guerra e destilam ódio. Perfeutamente normal entre quem troca a razão pela fé.
      E não confundo, uso exemplos. Quer exemplos de violência luterana? ou ficamos pelo anglicanismo e o que fez (e faz) aos católicos? O pior do fundamentalismo norte-americano por acaso nem é católico (essa secção dedica-se mais ao “deixai vir a mim os pequeninos”), e em nome “da vida” vai matando.
      Aliás fundamentalismo por definição é violência. Incluindo o ateu, e eu sou ateu, mas reconheço que muitos ateus cometeram barbaridades em nome do combate à religião, não é escondendo os factos que defendo as minhas ideias.

      • O IMPÉRIO CONTRA ATACA ! says:

        (Quase um off topic)

        É estranho ver que discute-se a relação entre terrorismo e religião em Portugal. Parece que os americanos venderam bem essa ideia aí na terra lusa.
        Que guerra santa é essa que não vemos a Al-Qaeda tacar um teco-teco na Capela Sistina ? Foi o Sebastianismo que levou os portugueses a declararem guerra ao Afeganistão ?
        É verdade que no passado não tão distante o amor ágape cristão catequizava o índio a ferro e fogo e o fundamentalismo islâmico rendia livros pornográficos requintados como 1001 noites.
        Deus esta morto. As disputas e fundamentalismos de hoje são efeitos da tenção entre globalização e regionalismo.

  2. Fundamentalista. Ponto. Podia ser cristão, azul, gay, amarelo, cor de rosa.
    Por acaso o senhor também pertencia à maçonaria.
    Não vejo o que é que isso seja relevante, sobretudo porque, ao contrário de outros ou outras organizações, ele não deixou uma reivindicação política ou religiosa.
    O Homem é biologicamente mau. Ponto. Mais nada. A humanidade pura e simplesmente não presta.
    O resto são análises superficiais e etiquetas para cadáveres.

    • Qual a exacta reivindicação política ou religiosa ainda é cedo para sabermos. Por acaso encontrei por aí umas traduções da página do pulha no Facebook, entretanto apagada (ainda gostava de perceber esta mania policial de apagar as páginas no Fb de assassinos, sejam políticos, religiosos ou passionais), e mensagens ele tinha transmitido, e muito claras, de fundamentalismo religioso, contra o multiculturalismo e o islamismo, misturadas com um nacionalismo exacerbado (donde sendo de extrema-direita ter entre os seus heróis gente que combateu o nazismo).
      Como até foi apanhado vivo, esperemos para ouvir, não caindo nas precipitações de certa imprensa. Até porque parece muito provável não ter agido sozinho, é muito explosivo e muito tiro para um canalha só.
      Mas terás de convir, Nuno, que se fosse um paquistanês a esta hora já haveria detalhes fantásticos sobre isso…

  3. Será que nunca leram o Antigo Testamento?? Está recheado de apelos de Deus à guerra contra os seus supostos inimigos…, no Livro dos Macabeus, por exemplo; e não me digam que o cristianismo se baseia apenas no Novo… além disso não esquecer a forma como, desde Santo Agostinho, se foi construindo a teoria cristã de legitimação da guerra (sistematizada bem mais tarde por Tomás de Aquino) que vai desembocar no espírito cruzadístico desde 1095. Tanto para dizer sobre isto…

  4. Dario Silva says:

    Só quem nunca se alongou um pouco mais que um café pela Bíblia fora pode dizer que aquilo é um livro (vários) porreiros e pacíficos…

    Então eu vou ali e volto já.

  5. Jota says:

    Bom, o pormenor é que estamos no séc.XXI i é neste que se devem fazer “comparações”, não é invocar histórias de há séculos…

    • Como o século ainda é pequenino, o apoio da igreja espanhola a Franco e seus assassinos, serve? Já as acções armadas do IRA não gostava de as misturar, dado que a sua base meramente católica é muito discutível.

      • O IMPÉRIO CONTRA ATACA ! says:

        Sem duvida o norueguês é fundamentalista. Mas ele não meteu tiro em nenhum muçulmano. Meteu tiro no multiculturalismo. Que religião ele segue ?
        Deus esta morto. Se não esta morto esta agonizando. Hoje a guerra santa tem outras crenças.

        j

    • certo, mas os sistemas religiosos (que enformam mentalidades) não se fizeram no século XXI, resultam antes de um processo evolutivo de há séculos (aliás, isto é tão evidente que nem sei porque lho estou a explicar…); e a História serve para isso mesmo, para melhor compreendermos e contextualizarmos as acções humanas do século XXI (neste caso em particular…); o seu comentário só revela o quanto despreza a História.

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  1. […] que concentram apenas noutros fundamentalistas.  O 22 de julho pode não ficar por aqui, e o branqueamento pela comunicação social da emergência política desta gente (não esquecer que em muitos países da CE estão no poder, ou […]

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