A minha pequena homenagem a Amy Winehouse

Da primeira vez que ouvi Amy Winehouse senti um arrepio na espinha. Quando me confrontei com a sua imagem senti dois. Eu imaginava uma cantora negra, grande, gorda e saíu-me aquela trinca-espinhas branca e inglesa, de pose desconchavada, joelhuda, com make-up de bordel de terceira.

Gostava sinceramente dela, sem dizer apesar de, sentia uma certa comoção com aquela rapariga, com as suas escolhas, com os seus demónios, com o seu enorme talento. Não acredito que pudesse haver Amy Winehouse sem aquela Amy Winehouse, não acredito que aquela mulherzinha cantasse tanto, tão sofrida, poderosa e languidamente sem ser aquela mesma pessoa, aqueles dez-reis de fragilidade cheios de atracção pelo abismo. E também não acredito que a autora Amy Winehouse pudesse compor aquelas canções não sendo o ser perdido que era.

Haverá quem a recorde pelo acessório. Eu recordá-la-ei por “Frank”, por “Back to Black” e por algumas arrepiantes interpretações ao vivo. Foi uma Grande Artista e viveu como pôde. Agora repousa em paz – ou canta com outras almas gémeas, cheias de talento e de inquietude, como ela.

Comments

  1. maria monteiro says:

    uma pequena homenagem mas grande como a sua voz

  2. mariarr says:

    podiam ser exactamente minhas estas palavras

  3. Rodrigo Costa says:

    Está mais do que provado que só o sofrimento —seria necessário um dicionário, para definir os muitmos significados da palavra — pode gerar momentos de grande elevação. Apenas por ser sofrimento?… Não; mas porque é nos momentos em que se sofre que a têndência para a introspecção se acentua; é nesses momentos que, na procura dos bâlsamos em forma de explcação e de expressão são tocados pontos que a alegria e o riso não tocam, porque dispersam, não concentram.

    É claro que nem todas as pessoas que sofrem chegam tão longe, porque, para além do sofrimento, são necessárias as fermentas. Infelizmente, por vezes, as técnicas estão lá todas, mas faltam aquelas com que se pode estruturar o pensamento; e isto resulta —muitas vezes— da falta de acompanhento, da proxidade de pessoa ou pessoas avisadas, que, sem mexer no “instrumento”, lhe criem o ambiente; porque, não havendo a possibilidade de ser aprendido —ele é sempre de gestação espontânea—, o talento, como qualquer semente ou planta, carece do terreno apropriado.

    Por sorte —porque ninguém se faz—, há os que, técnicamente dotados, trazem, também, mecanismos de aferição e de compensação, que, ao invés de os fazer soçobrar, perante as adversidades, estimulam-nos, viram-nos mais para dentro, levando-os a usar o egoísmo como a ferramenta eficaz de resistência, em movimento que pode ser efinido por: “não espero de nada nem de ninguém, senão de mim”. Parecendo ser cru, é esta a grande arma de defesa, por ser a que melhor protege contra as decepções. O resto… é treta —se querem gozar como meu choro, gozem; porque é com o meu gozo que vocês gozam.

    Lamento que tenha acontecido o que também eu esperava. Mas, olhava-se em redor do génio e só se via tolos, gente em perma desespero…

  4. Rodrigo Costa says:

    Peço desculpa, mas o meu teclado está lento e “come” letras

    “Lamento que tenha acontecido o que também eu esperava. Mas, olhava-se em redor do génio e só se via tolos, gente em permanente desespero…”

    Assim é que deve ser lido.

  5. regina rousseau says:

    Última balada

    (in memorian de Amy)

    O grande relógio londrino badalou
    exatamente na hora certa.
    Mas ela já não ouviria mais esses sons.
    Suavemente deixou de respirar
    e mergulhou no sopro final.

    Seus olhos fecharam e viajaram
    num insondável mergulho,
    para despertar nas esferas
    mais distantes da liberdade.

    No rosto belo e sereno,
    a morte deixou estigmas.
    O mistério da morte nos faz pensar
    em como vivemos o mistério da Vida…
    e também o seu sentido.

    Desse mundo partiu,
    para nascer em outra vida.
    Sua vida foi tão pouca para nós…
    por quê menina, uma bela alma
    sempre é eleita mais cedo?

    Para o Eterno, partiu…
    agora vive nas estrelas do infinito,
    cantando seu blues.
    Ainda que no precário instante de uma rosa…
    seu perfume é eterno.

    Regina Rousseau

  6. Pedro, nem te disse, mas indiquei seu post no meu… Gostei demais de seu escrito sobre ela. Abraços brasileiros.

  7. fabiula says:

    Eu a amava muito e ate hj quando escuta as musicas dela me da ate vontade de chorar … saudades amy

  8. sergio says:

    linda

  9. sorry says:

    Muitas Saudades de ver e ouvi-la cantando.

    Foi uma pena ter partido muito cedo.

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  1. […] como não tou mesmo com muito tempo disponível, vai aí o link para um post que achei bem legal. Podia ser outro? Podia. Mas todos tínhamos, temos e teremos a dizer sobre Amy […]

  2. […] devido tempo deixei aqui uma homenagem a Amy Winehouse, esse espectro oscilante que riscou brevemente o céu da música pop e da soul. Ainda não ouvi o […]

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