Tenho assistido, entre a complacência e o espanto, a uma discussão, de resto estéril e estúpida, sobre a natureza do mal, representado pelo assassino da Noruega.
Mal soube que o terrorista era loiro, de olhos azuis, de extrema-direita e provavelmente um religioso fanático, a Esquerda ateia veio, nervosíssima, apontar a raiz do mal. Está ali. É aquilo.
Se fosse um árabe de turbante (que esta gente adora clichés) viria a direita invocar o problema: o fanatismo islâmico, rude, bárbaro e ignorante.
Os idiotas contam piadas ou não contam nada, que é mais razoável de todas as posições, afinal.
Meus senhores, a Noruega não é exemplo, Andres Breivik não é exemplo para ninguém. O mundo, por muito que custe aos teóricos de Esquerda, não se divide entre bons e maus, entre preto e branco, entre sim e não, entre oprimidos e opressores. Já não é assim (e alguma vez foi?).
Não podemos arranjar exemplos para um mundo de monstros bons e de monstros maus. Nem vale a pena culpar o fanatismo religioso ou Deus. Por essa ordem de ideias e para quem deus não existe a culpa não é divina, é humana. E nesse aspecto, virados do avesso somos todos iguaizinhos: uma comunhão de biologia e impulsos que fazem de nós todos possíveis Breiviks.
Menos os estúpidos que fazem as nações mais felizes. E de brandos costumes.
Well said!
A democracia não diz nada aqui neste post?
Então você diz: “Essa é a natureza humana!”.
Que construtivo…
Sim, eu sou dos que acha que a maldade é biológica e que a humanidade não tem salvação.
Ao pé de mim, Schopenhauer é uma criança.
Não é possível ser-se mais construtivo. Quem inventa outras culpas ou está errado ou é cego.
Quem sou eu para discordar ? Você ao pé de Schopenhauer é um velho. Pode-se perdoar um homem por ter alma idosa, com tanto que não tenha alma pequena.
Agora, maldade não é biológica por definição. Maldade é um significante, só tem sentido no campo da linguagem, onde tem sentido para um sujeito. Por tanto maldade é maldade para alguém. Por isso o carniceiro da noruega é um herói nacional para uns, porco vil para outros. É bondade e maldade.
Ainda que nos homens sejamos suspensões fétidas de C2 e NH3, nenhum ato é só motricidade, fato em si. Parafraseando Nietzsche “Não existem fatos, só versões”.
Que você diga que o massacre é maldade, bondade ou fatalidade da natureza humana. Nós criamos e estamos criando coletivamente o ato do carniceiro. Poderá se instituir como paradigma ou ser desconstruído pelo revés.
Depende de nós e quem discorda já esta concordando.
Ps: As mulheres não são de suspensões fétidas de C2 e NH3….elas são divinas.
“Pode-se perdoar um homem por ter alma idosa, com tanto que não tenha alma pequena.”
Para além de filósofo é um poeta!
Já acredito na humanidade! Obrigado.
“A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” ELE NÃO TEM RAZÃO!!! :(((
então ouçamos … http://www.facebook.com/profile.php?id=100000153751369
aqui http://tv2.rtp.pt/multimediahtml/progAudio.php?prog=2320
Nuno, não vivendo eu no mundo das certezas em que você vive, nada me custa reconhecer que o seu post contém um raciocinio com o qual posso concordar, mas incorre no mesmo erro que você, justamente, critica: a apressada procura de uma explicação que permita uma acritica generalização. Como habito num mundo de cada vez menos certezas e com cada vez maior número de dúvidas, possso permitir-me procurar um lugar no meu pensamento para o fenómeno. E aqui a coisa pia mais fino, pois não aceita facilmente o recurso a sábios antigos, dado que os fenómenos de hoje não são de ontem. Em face do que tantas vezes dizemos e ouvimos, apetece-me concordar com um antigo, Husserl, quanto à necessidade de pendurar nas altas barandas de agora a maoir parte da porcaria que temos guardado nos miolos. Mesmo diante estes casos, só sabemos dizer vulgaridades o cozinhar preconceitos com despeito. Mas pode ser que isso faça bem ao ego de cad portugues, e ainda vamos acabar por descobrir que somos todos Camões e os norueguses todos uns Breiviks. E vai ser bom, porque deixaremos de ver os outros por baixo para parecer que vemos mais alto. Que coisa! Obrigado, José Luis.
Para viver que não vivo num mundo de certezas, não entendi o seu comentário. Confesso.
Não seja por isso! Não sei se bem ou se mal, entendi o seu post como sendo uma forma de generalização que a minha sensibilidade, nem sequer relego isto para a inteligência, não se predispôe a aceitar. Os portugueses não são todos violadores de pelheira, nem são todos Camões, e porém, todos estamos submetidos mais ou menos conscientemente a uma mesma moral dominente. Também nós, no momento presente, temos a nossa classe me´dia acagassada e alguns dos seus elementos predispostos a condenar tudo o que não prefigure aquilo que acham por certo segundo o seu entendimento dessa moral, que se a si influência de certa maneira, a mim de outra, a outro de outra, etc.. Os noroegueses fundam a sua maneira de ver o mundo tendo por matriz a morla luterana, e essa como a nossa, judaici-cristã, tem coisa melhores e outras piores e aqueles que aceitam ou contestam essa influência são igualmente uns melhores e outros piores em função de escolhas que muitas vezes ultrapassam os limites de validade dessa matriz. Por isso, quando invoco Husserl, é para dizer que sabemos muitas coisas que seria melhor nem sabermos, porque já não têm nenhuma utilidade para entender um mundo velho e novo ao mesmo tempo, e nós, muitas vezes, não paramos para pensar nisso, e limitamo-nos a reagir. Obrigado, Jõsé Luis
“uma comunhão de biologia e impulsos que fazem de nós todos possíveis Breiviks.”
Se és o problema é teu (e nosso infelizmente), mas não generalizes para o meu lado
“uma comunhão de biologia e impulsos que fazem de nós todos possíveis Breiviks.”
O problema desta frase (e vê-se pelos comentários) é dar a entender que todos nós somos possíveis Breiviks -em igual probabilidade-.
Não sei se era isso que era suposto dar a entender, embora não seja esse o caso. Há variações na biologia das pessoas q.b., em conjunto com as experiências de vida, para justificar porque é que a nossa natureza às vezes dá exemplos destes.
Caro Terebi
Claro que não era isso que eu queria dar a entender. Mas como explico o meu texto, as pessoas para quem tudo é certo, seguro e pré-determinado, tendem a ver duas hipóteses, apenas. O heterodoxo, ou ortodoxo. O fanatismo constrói-se assim.
A variabilidade não interessa. É cansativa. Exige pensamento.